sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

Um dos três contos inéditos de Luciano Bonfim no www.patriciatenorio.com.br

APESAR DA INSENSATEZ DOS CÃES QUE LADRAM NA RUA


Há vida no lixo que se acumula nas velhas sacolas de supermercado. Com amplo domínio da casa, as formigas, em disputa desleal com as baratas, inventam trilhas sobre os copos – agora livres dos enganos passados e habituais prisioneiros da desordem da pia. A imagem vinda da tela da TV se assemelha a cor do céu da manhã que talvez não me veja. As roupas no varal, apesar da insensatez dos cães que ladram na rua, dormem tranquilas, mimadas pelo vento da noite; e o meu corpo, vazio de roupas e significados, permanece à procura de um espírito…

LUCIANO BONFIM [Crateús/CE.]. Publicou: Dançando com Sapatos que Incomodam – Contos[2002]; Móbiles – Contos [2007]; Janeiros Sentimentos Poético[1992] s e Beber Água é Tomar Banho por Dentro[2006] – Poesia ; escreveu e montou as peças: Auto do Menino Encantado[2002] e As Mulheres Cegas[2000 e 2004]; criador da revista Famigerado – Literatura e Adjacências[2005]; professor da Universidade Estadual Vale do Acaraú – UVA[desde 1996]; Mestre em Educação Brasileira[FACED-UFC/2008]; selecionado pelo programa Bolsa Funarte de Criação Literária/2010 – FUNARTE/MinC.
e-mail: luciano.bonfim@yahoo.com.br
Postado por: Raimundo Candido



chico pascoal disse...
O Luciano cada vez mais me surpreende com sua prosa. Onde há textos desse moço de Crateús, lá estou eu a apreciá-los.um abraçoChico Pascoal
Segunda-feira, 28 Fevereiro, 2011

quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

DOIS MUNDOS (Isis Celiane)

Menino pobre perdido no mundo,
correndo no tempo contra o relógio dos dias.
Querendo viver além das horas dormidas,
além daquelas sofridas em que todo esforço dedica.
- “O trabalho dignifica o homem”
e esgota-lhe a vida.

Menino rico conhecendo o mundo,
abraçando as horas: generosas, amigas...
Aquelas dormidas, sossego da mente.
Raramente cansado, pouco é o esforço do dia
- O poder enobrece o homem
e guarnece-lhe a vida.

domingo, 20 de fevereiro de 2011

O NARIZ DA ESFINGE RESPIRA

Rogerlando Gomes Cavalcante

As areias do deserto sopram teu nome, Rosni,
à eternidade mais absoluta - a do esquecimento.

Obscuridade a que resistem as múmias sucumbem
tiranias - atropelados pelos acontecimentos
obtusos despertam, tardiamente, despertam
surpreendidos, estupefatos, às mudanças que se dão
primeiro, miudamente, micro, depois gigantes maiores que pirâmides
e morte. E oferto o que ofertam: o coração
pulsa entre braços e atinge sonhos que a um dar de mãos
partem correntes - Partam também doutrinas, que
se Deus fAla
sua língua não troa audível a quem não se sabe ouvir:
Alá não é islâmico como Deus não é cristão:
o que não cala
o homem é que é divino
– ser infiel e/ou ateu não é inexistir.
Quem exige sectário é que quer elidir, quem não aceita desertor
também e com mais fervor - Sendo que o que livra é amor.
Livra para além de adorações e dogmas e das orações políticas,
inclusive as que façam o lívido Alá corar. Livre, comemorais a críticas.
Críticas libertam e mantêm livre do que elimina:
sangue servido - e/ou sorvido - em latrina
só pode ser humano que Deus não sangra, Alá não sacrifica e morte não doutrina.
Opressão não doutrina. Morte, opressão, demência - terror
Tortura, humilhação: mas decepar orelhas não ensurdece,
aguça a audição do mundo aos obtusos que nos estarrece.
E se adoradores de cadáveres também decepam narizes
a vislumbrarem como bela a horrenda face da morte
- carnais cadavéricas fossas nasais -,
os façamos felizes: cortemos seus narizes
de pinóquios e cera de suas caras de madeira.

Talvez por isso se proíba afigurar o humano:
se Deus não é gente
Alá se desfigura em quem o anuncie e represente.

Que amanhã - com ou sem islã -
O único nariz que falte seja aquele que já falta
A esfinge de Gizé que, porque estátua, não faz falta.
E se cortam narizes na intenção de sufocar
independência é ar - respire e a obterás
como a si mesmo, o ser livre civiliza
a cada vez que sonha, luta - realiza,
ande por Novo York, cate lixo em São Paulo,
puxe carroça na India, fabrique brinquedo na China...
Liberdade, me instauro por tua via
a cada consciência que iluminas:
independência, respira-a e ela te pronuncia.

E que as areias dos desertos e os mares varram
Do Egito - de toda a África, do Oriente -, do Mundo Inteiro
tudo que imaterial, mas que nos barra
ao ir navegar, sem velas, o veleiro
que se define pelo que porta aberto:
a humanidade falha enquanto houver alguém a ser liberto.
Territórios, se limitam etnos
Não delimitam contornos humanos
- O universo é meu limite
que, farto, transponho, pois que habito
o infinito
onde tudo se eterniza:
o silêncio se hiberna grito
em que o humano se divisa
ir livre ao esmo de ser prisioneiro apenas de si mesmo:
sê do mundo inteiro.

O mundo se desencadeia
na gente - A gente em cadeia
conec.ta.da.mente se liga
se do que mina se desliga.

Interno e universalizo
o que é da gente e à revelia dos desumanos, humanizo:
minha mensagem não precisa de mecanismo para ser entendida
ou cifrada ou transmitida,
que a mensagem não é minha, sentida
por qualquer um, dá em vida.
Vida além das areias, além da águas, além da lama
natural ou humana. E se liberdade é tudo que o infinito reclama,
sede e habita
a tua liberdade infinita
que o infinito, desde sempre, ó finitos, nos habita
e nos habilita
a vencer o que limita.