sexta-feira, 19 de agosto de 2011

Gigante olha pedra e vê pó



Ontem sai pra caminhar em direção a lugar algum, sem pretensão de encontrar amigos, de trocar palavras. Minhas pernas me levaram pelas ruas desta cidade empoeirada, toda em re-construção. Nas calçadas tropeço em tijolos, em montes de barro, entulhos, em homens sujos de cimento e cal.

Tenho certeza que sou deste lugar, que moro nestas casas antigas demolidas sem consideração, que pertenço a estes homens, a estas ruas estreitas e esburacadas onde viro o pé e machuco o tornozelo. Penso naqueles que nunca saberão ao certo como foram as casas e os prazeres destes trabalhadores.

Com o cérebro anuviado busco na lembrança as cores das árvores. Não lembro. Elas são tão poucas e inconvenientes que já estão se tornando invisíveis aos meus olhos. O que vejo com mais clareza são as garagens enfeitadas com flores e araras de gesso multicolorido.

No final do percurso, outra certeza. Ela sussurrou baixinho em meu ouvido, como quem segreda: “Menina, ‘gigante olha pedra e vê pó’".

Karla Gomes

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