quarta-feira, 21 de março de 2012

NENEN FRANCELINO

Se tivéssemos que extrair, do imenso e singular painel da vegetação nordestina, uma bandeira para homenagear a radiosa teimosia, a valente esperança, a gratuita hospitalidade, o horizontal sorriso do homem sertanejo, certamente esse estandarte atenderia por uma sagrada madeira chamada Juazeiro

O nome Juazeiro, fruto de um matrimônio silábico do Tupi com o Português - "juá" ou "iu-á" (fruto de espinho) e o sufixo "eiro" – bem traduz o efeito da nossa “Invenção do Mar”, o achamento brasileiro e sua conseqüente miscigenação. 

A mais voluptuosa mancha de solo do município de Crateús repousa no distrito de Monte Nebo, no calcanhar da Serra da Ibiapaba, que limita o Ceará com o Piauí. Nesse distrito pujante há uma localidade chamada Juazeiro. Ali nasceu, em 12 de fevereiro de 1932, um cidadão encomendado para se aparentar com a nossa árvore símbolo: Francisco Fernandes Sales, o Nenen Francelino, filho de José Francelino Sales e Maria Fernandes de Oliveira.

O Nenen Francelino, que recentemente recebeu os amigos para celebrar as oito décadas de vida, é um permanente som de viola tinindo um louvor à simplicidade da vida. Lembra um autêntico mourão voltado, aquela forma de cantoria tradicional apreciada pelo homem do campo nas noites enluaradas. Sua história é uma chuva de estrofes concatenadas com o povo que apreciou e representou. Fez da lida um verso dialogado, sempre obedecendo à rima que o outro escolheu. 

Ao lado da esposa, Maria de Fátima Moreira Sales, dos filhos James Moreira Sales, Jane Moreira Sales e José Fernandes Sales Moreira Neto, Nenen Francelino se mantém renovado como o solo que o gerou ao receber os primeiros fios celestes. 

Fiel às origens, deitou raízes na região em que nasceu. Como agricultor aprendeu que nossa passagem pelo roçado da vida é sempre uma prosa entre plantar e colher. E invariavelmente colhemos o que plantamos. Por isso optou por espalhar sementes de bem-aventuranças, caroços de ajuda, grãos de doação ao semelhante. Trabalhou com tranqüilidade a fecundação do óvulo da pacificação. Exerceu, durante trinta anos, a missão de Juiz de Paz na região. 

A gente humilde da sua terra, identificando nele um apóstolo da causa pública, alguém capaz de “ver” a “dor” dos eleitores camponeses, o elegeu Vereador por quatro legislaturas. 

Na primeira vez em que tomou assento no Parlamento Mirim de Crateús não recebia remuneração. Aqueles eram bons tempos. Tempos de políticos vocacionados. Tempos em que a fama de um homem público era construída por sobre a rocha da coerência. Com a argamassa da capacidade de ser firme e leal. De honrar a palavra empenhada. De ser inquebrantável no cumprimento dos compromissos. Duro como os troncos das velhas árvores. Bons tempos aqueles...

Tua biografia, Nenen, é um convite à reflexão. Para que estamos em cima deste chão? Certamente, para no alimento por o sal, servir o próximo de coração, acorrentar o mau e espalhar gratidão. Eis o teu recado. Isso é que é mourão voltado. Isso é que é voltar mourão!

(Júnior Bonfim, na edição de hoje do Jornal Gazeta do Centro Oeste e na Revista Gente de Ação)

Nenhum comentário:

Postar um comentário