PITACOS SOBRE A CIDADE
Amanheci com vontade de dar pitacos. Diversamente do que muitos possam
imaginar, pitaco não é um palpite sem fundamento. É uma opinião. Em se
tratando da coisa pública, ou sobre os rumos de uma cidade, a opinião
pode ser emitida independente de solicitação.
Obviamente, estou pensando em uma urbe específica, mas pode servir para outras.
Dirijo estas palavras aos que se lançam à nobre tarefa de interpretar
sonhos: os candidatos. Sim, candidato a cargo eletivo, representante do
povo, líder popular não é senão um intérprete de sonhos, dos sonhos da
coletividade.
Enquanto escrevo me vem à mente um personagem
bíblico do Antigo Testamento: José, o filho de Jacó e Raquel, que ficou
para a posteridade como José do Egito. Certamente um emblema em se
tratando de revelação da essência daquilo que é só aparência.
Uma noite, o Faraó sonhou. Naquele transe onírico viu que sete vacas
magras comiam sete vacas gordas e mesmo assim continuavam magras. Em
busca de uma explicação, convocou todos os sacerdotes do Egito. Nenhum
conseguiu. Apenas José, que estava preso, ofereceu uma interpretação
convincente ao Faraó: o Egito passaria por sete anos de fartura e sete
anos de seca, consecutivos.
Empolgado com a sua desenvoltura,
o Faraó presenteia José com um anel de seu próprio dedo e o nomeia Adon
do Egito, um cargo de expressão, tipo chanceler ou governador.
José, então, ordena que se construam celeiros para guardar a produção
do Egito durante os anos de fartura. Nos sete anos de seca, José passou
a vender os cereais dos celeiros reais a preço de ouro e conseguiu
comprar para o Faraó quase a totalidade das terras do Alto Egito. O
nome José significa “aquele que acrescenta”.
Bem representa
os seus concidadãos aquele que, além de interpretar os signos das
aspirações populares, se lhes acrescenta alguma coisa. E age. Semeia.
Planta. Cuida. Colhe. E reparte. Como lembra Thiago de Mello, “é
sonhar, mas cavalgando/ o sonho e inventando o chão/ para o sonho
florescer”.
A primeira tarefa de um líder, preferencialmente
um prefeito, é despertar a coletividade do seu município para a
alteração cultural. Mudar a forma de raciocínio, transformar os nossos
esquemas mentais. Libertarmo-nos dos grilhões que acorrentam a massa
encefálica. A diferença que separa um município pobre de um rico, ou um
estado ou um país, não é a idade, muito menos a quantidade de recursos
naturais. A Índia é um país milenar e possui uma pobreza vultosa e
aviltante. A Nova Zelândia é novíssima. E riquíssima também. A Suíça
não produz um grão de cacau, mas vende o melhor chocolate do mundo.
Estudiosos revelam: a fronteira que separa países ricos e pobres se
resume à observância de algumas formas de conduta essenciais: 1. A
ética como principio básico. 2. A integridade. 3. A responsabilidade.
4. O respeito às leis. 5. O respeito pelos direitos dos demais
cidadãos. 6. O amor pelo trabalho. 7. O esforço para economizar e
investir. 8. O desejo de superar. 9. A pontualidade.
A ética
pode ser resumida em tratarmos os outros como desejamos ser tratados.
Para isso, basta nos colocarmos no lugar do outro. Será que eu gostaria
de ser tratado como estou tratando um servidor, um contribuinte, um
cidadão comum? Estou sendo íntegro, responsável, respeitador das leis e
dos direitos alheios?
Valorizo o amor ao trabalho ou premio
apenas o meu grupo independente do mérito dos que o compõem? Combato a
mendicância e o clientelismo? Priorizo projetos que incentivam a
independência financeira? Ao invés de festejar a quantidade de pessoas
recebendo bolsa-família, deveríamos comemorar sua diminuição. Quanto
mais pessoas deixassem os programas de transferência de renda e
adquirissem sua própria renda por meio de empreendimentos montados e
gerenciados por elas, melhor. (Outro dia um amigo me perguntou: - Você
já viu um japonês pedindo esmola? – Não, respondi. Ele completou: -
Pois é porque eles desenvolveram a cultura do trabalho, essencial para
o progresso.)
Se uma Prefeitura deliberar para gastar menos do
que arrecada e for pontual no cumprimento dos compromissos já eliminará
mais da metade dos seus problemas. O resto se resolve com o firme
propósito da permanente superação.
Entendo que a campanha
política é o espaço para se divulgar ideias; não intrigas. Planejar o
futuro; não propagar futricas. Dissecar projetos; não denegrir pessoas.
Sonho com isso. E esse sonho, convenhamos, de tão nítido dispensa
interpretações.
Júnior Bonfim
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