Na Rua Desembarcador Praxedes, nº 370, num grande muro
branco, há um portão largo e alto com um escritoriozinho ao lado, é a garagem
da Rápido Crateús. Um senhor de meia idade, perfil atarracado e pançudo, sai do
escritório e caminha vagaroso, inspecionando os mínimos detalhes da sua organização
de transporte de passageiro.
Sempre que ele se manifesta com uma das pernas da calça
arregaçada, como agora, é sinal que está para poucos amigos. Um funcionário logo
diz: - Vou dá o fora daqui! O outro,
evitando um encontro, cochicha: - Vou me esconder no almoxarifado!
Zé arteiro pára, apoiando as mãos na meia-parede de um
grande tanque e olhando para a água, que é utilizada tanto na oficina mecânica como
na borracharia, grita alto e desesperado: - Socorro! Depressa, acudam
aqui! Os funcionários correm ao local e
apuram a vista para o fundo do Tanque. Ele, ainda sério, diz: - Rápido, tirem
daí o coitado do trocador que morreu afogado! Todos veem, surpresos, um enorme
rato que estufa, no fundo do tanque.
A disposição para o trabalho aprendera com o pai, um
exímio ferreiro no município de Tamboril, o temperamento sério e rígido,
também. De um caminhãozinho que pegava fretes, um aqui e outro ali, fazer
brotar uma grandiosa frota de 82 ônibus, não tem muito segredo, não: é só regar
cada quilômetro percorrido pelas estradas deste mundão de Deus com abundante suor
do rosto e adubar, diariamente, os sonhos com um contínuo esforço. Esta vitória,
o José Arteiro conseguiu!
Teve ajuda de muitos amigos que labutavam diuturnamente ao
seu lado, como o comandante Jabá, Francisco Pereira da Costa, que recebeu um troféu
da TVE e uma jangada de prata da TV Ceará, das mãos do famoso Jornalista João
Ramos, como um dos melhores motoristas do Estado do Ceará.
Conduziu o ônibus da empresa na primeira viagem entre
Fortaleza e Crateús com um único e privilegiado viajante, Dr. Gentil Barreira,
o sogro do empreendedor Zé Arteiro. Dona Leonor Rosa, irmã de Zé, conseguiu
formar uma lista de passageiros para que fosse possível a volta do ônibus
pioneiro.
Já era um veículo bem mais moderno, aquele que saiu da Agência
que ficava ao lado da Rádio Educadora de Crateús para chegar ao outro ponto de
parada, Rua Castro e Silva na Praça da
Estação, em Fortaleza, e um dos ilustres passageiros era a Professora Maria
Delite com a sua filharada. Mal saímos do Distrito de Capuan, em Caucaia, Jabá
passa por um carro lotado de banhistas que vinham da praia e em poucos minutos
o mesmo automóvel ultrapassa novamente o ônibus, páram e dessem todos, altamente
embriagados e de armas em punho. O nosso
comandante já estava era na cozinha, pois esperar por tempo ruim, ficou foi
para trouxas. O desespero dos passageiros fez com que os alcoolizados praieiros
desistissem de algum intento.
Uma imensa frota precisa de um grande quadro de
funcionários para conduzi-la, ao pé da letra mesmo! Na garagem, os olhos do
chefe orientam com firmeza e determinação ao exigir a máxima perfeição em cada
serviço. Demorava a empregar um sujeito, mas também o desempregava
rapidinho! O motorista chegou só com a
cara e a coragem e se dirige ao dono da empresa: - Seu Zé Arteiro, eu gostaria
que o senhor me arranjasse um emprego de motorista. A resposta foi rápida: -
Tem não, meu amigo! Eu nem lhe conheço!!!
No outro dia estava o coitado do motorista escorado na
parede, esperando. O José faz de conta que não o ver. No dia seguinte, novamente
escorando o muro. Zé Arteiro se aproxima e diz: - Rapaz, você de novo, o que
está esperando? Ingenuamente, responde: - Seu Zé, eu estou esperando que o
senhor me conheça! Deu sorte, pois naquele dia a perna da calça não estava
arregaçada: - Está bem, o emprego é seu!
Outro amigo que o ajudou
na construção da fama da empresa foi o Vicente Bacorim, era o motorista de
maior confiança do patrão! Os crateuenses mais antigos dizem: O Vicente me
transportou, transportou meu filho e agora transporta meus netos! Desde que
desistiu de ficar com o 4º BEC em Barreiras e, após fazer o translado de toda
aquela unidade tática, escolheu trabalhar para a Rápido Crateús e não se
arrependeu!
Pioneirismo é uma questão de fibra e coragem, em 1982,
num grandioso coquetel nos salões da Apavel, a revendedora dos luxuosos ônibus
Volvo, em fortaleza, José Arteiro recebe uma placa de prata por ser o primeiro
empresário na linha de transportes a entrar na nova era, no Ceará. E o
comandante do confortável ônibus é nada menos que o Vicente
Mas nem sempre foi assim, houve muitas reclamações. Uma
nota do Jornal O Povo do dia 22/01/2001 dizia: “Andar em certos ônibus intermunicipais é um desconto de pecado ou até um
martírio. A empresa Rápido Crateús, por exemplo, tem uma frota que deixa muito
a desejar, por não existir nenhum conforto, principalmente os que fazem o
percurso Crateús-Fortaleza. De dia, seus passageiros tem que suportar uma
temperatura até 40 graus, em uma viagem de quase oito horas, uns por cima dos
outros.”
Já na nota do dia 11/03/1998: “Quatro homens armados, um deles de escopeta
calibre 12, assaltaram, ontem, em Quiterianópolis, um ônibus da Rápido Crateús que
seguia com destino a Novo Oriente. Os ladrões fugiram num Ômega levando um
malote com R$ 18 mil.“
Sempre tentou melhorar a qualidade dos ônibus, chegando a adquirir um Marcopolo
Volvo de dois pavimentos que foi intimado a transportar o Presidente José
Sarney, quando o mesmo esteve em Juazeiro do Norte, e o comandante Vicente foi
logo avisando: - Esta viagem é de exceção, pois Seu Zé falou que esse ônibus é
para atender ao pessoal dele, de Crateús. Alugou sim, para uma tradicional
família crateuense, os Gomes, que numa turnê de trinta dias pelo Uruguai, Argentina
e Paraguai onde Jabá e Vivente se revezavam e se divertiam ao ouvirem o nome de
Crateús sendo soletrado de todas as formas possíveis, por aqueles povos
sulistas. Na viagem de volta passaram por Brasília e, do hotel em que estavam hospedados
admiram-se ao ver um velinho mostrando, vaidoso, o ônibus para a netinha.
Aproxima-se para indagar o nome do cidadão e surpreendido, ouvem: - Eu sou o
Coronel Souto Maior! E orgulho-me de bater continência, com minha neta, para
esse grande nome de minha região: Crateús!
Nada é para sempre! Mas toda obra que é grandiosa fica na memória de um
povo, visto que a vida é feita de sonhos realizados e estas aspirações que se
efetivam nos trazem gloriosas recordações! A viagem de partida do empresário,
empreendedor arrojado José Arteiro Rosa, foi o começo do fim da grande Empresa
Rápido Crateús. Esfacela-se entre os membros da família. Não foi o processo de
carterização dos meios de transporte no Ceará que detonou a Empresa Rápido
Cratéus, foi a falta do pulso forte de um austero senhor, baixinho e determinado,
que nos ensinou que todo sonho pode ser realizado, basta que alguém acredite
nele!
O grandioso sonho da Rápido virou um marco, que se eternizou, mesmo sendo
apagado por aproveitadores oportunistas, como muito bem disse o Vate Eduardo
Alves da Costa no poema No caminho, com
Maiakovski:”
Muito bom o comentário... Faltou a história da Bacurinha....
ResponderExcluirBom saber desses relatos.
ResponderExcluirSou sobrinha neta do titio Zé Arteiro. Uma figura ímpar. Um coração gigante se escondia naquele comportamento meio de Seu Lunga. Muito legal ler isso aqui.
ResponderExcluirSou neta de José Arteiro Rosa
ExcluirQueria saber sobre a história e genealogia do padre Juvêncio.Este teve 6 filhos e sou a quarta geração após a do padre.
ResponderExcluirSobre o padre Juvêncio, quem souber acerca dele, por favor mandar mensagem para mim no WhatsApp (88)999655373
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