Seu Menor em Tom Maior - Um poeta mesclado no campo e na cidade.
O saber é o que se aprende nas escolas. Isso quando se ouve os professores e se queima as pestanas em cima dos livros, para se adquirir uma erudição enciclopédica e impressionar os tolos. Serve para que se fique perito, instruído, até chegar alguém e nos denominar de sujeito sabido. É como uma chave que pode abrir uma porta para um futuro melhor. Como disse um dos grandes teóricos desta nossa mimética educação, o tal de Paulo Freire: “Não há saber mais ou saber menos: Há saberes diferentes”. Como há, também, diversos tipos de chaves para movimentar as linguetas das fechaduras e das circunstâncias e só!
Já a sabedoria... É um terreno para se andar com calma. É úmido, escorregadio, dificultoso e o incauto, se não se acautelar antes e refletir depois, a priori, pode ir ao barro no momento de sua primeira pisada. Tive a honra de conhecer algumas pessoas, já afeiçoadas a uma notória longevidade e a uma rija vida, sem carregar todo esse saber escolástico, as quais se tornaram sabedorias, ainda com alma de jovens, buscando saberes para suavizar o amanhã. Não se espante se eu lhe disser assim, baixinho, o que descobri com um desses raros personagens, que até hoje esbanja uma utilíssima experiência de vida e muito influi na história de nossa urbe. Aprendi surpreso, com esse cidadão, que o limite real do homem para com uma longa e feliz vida é só a imaginação. Não se assuste, se eu lhe contar, em alto e bom tom, que por ter um cognome pequeno, que é de se admirar, já que é dificilíssimo a gente ver por aí um Sábio-Poeta-Grandalhão se chamar “Seu Menor”. Por seu legítimo nome, Antonio Soares Martins, ninguém vai conhecê-lo. Então, apresento-o: Éis, aqui, o poeta Menor em tom maior, que verseja com grande engenhosidade e sabedoria, o Seu Menor!
Crateuense dos bons é aquele que tem orgulho da sua terra. Desse brio esbanja o Seu Menor que, com a espada azul dos poetas, enfrenta aquelas raposas astutas, cínicas, essas figuras que conhecemos muito bem. Com uma inspiração automática, dispara versos de sua fluência para defender seu povo:
Crateús é muito bom,
de muita hospitalidade,
a única miséria que há
é o político de maldade.
Enquanto proseávamos sobre assuntos corriqueiros da vida, porquanto conversar com um poeta além de privilégio nunca é jogar conversa fora, chegava um moto-taxi trazendo noticias lá do Km 18, onde fica o seu aconchegante ninho, no Adão, distrito de Irapuá. Avisava que ouve um probleminha no parto de uma cabra, tiveram que puxar o cabritinho que já estava morto. Com espírito calejado de tanto enfrentar um problema atrás do outro, sabe que o modo como o encara é que faz a diferença. Relembra de um empréstimo que fizera na Caixa Econômica. Não respeitaram os meses de carência e com umas parcelas já quitadas, nem os comprovantes tinha. Reclama ao gerente, em versos e no meio de uma longa fila de clientes:
O Brasil é só problema
mas é coisa que logo passa.
A riqueza sem origem
é uma cortina de fumaça.
Deus nos livre do inferno
e das portas da Caixa.
O aplauso dos impacientes clientes, foi geral. No outro dia o gerente estava, bem cedinho, no comércio de Seu Menor, para deixar os comprovantes e ainda levou um calendário de brinde. Seu Menor tem a energia dos apaixonados, no alforje de sua experiência. Sabe que a paixão queima, o amor enlouquece e o desejo trai. E nos conta em versos a historia do Chico vaqueiro, que chorava demais, pois um rapaz carregou a mulher dele:
Vou lamentar a sorte
Do pobre de meu vizim,
Sendo ele o Chico velho,
Vaqueiro de seu Benjamim,
Que lhe roubaram a mulher
E deixaram o pobre sozim.
Foi este o golpe fatal
Pra quem tem compreensão
O pobre perdeu os planos
E até sua colocação.
O cabra é tão maluco,
Perdeu toda Proteção.
Mas foi um plano muito errado
Do pobre deste rapaz,
Carrega esta maluca
Com um troço do satanás,
O que ela fez com o marido
Com ele mesmo faz.
Ainda nos deu um bom conselho final e quem tiver juízo para ouvir, ouça:
Quem tiver mulher bonita,
muito mimosa e querida,
nós estamos no comunismo:
Tenha cuidado na vida!
Raimundo Candido
joao silas falcao soares disse...
Poeta, você é um ótimo caçador de assuntos. Uma sentinela do passado. Você sempre se volta para o pensamento do dia anterior de até muitas décadas. Creio que o seu acervo de realidades colhidas daria um volumoso e magnífico livro . Seu Menor era da vizinhança do meu pai. Vizinhança comercial daquele ambiente que me toca de saudades: o Mercado Central. A mercearia sortida atraia clientes para as feiras de sábado. Mas o segredo não era somente a variedade de produtos que seu Menor organizava nas prateleiras, mas a variedade de conversa. Meus ouvidos, ainda menino, captavam seu Menor falando em tom maior sobre a política e causos da nossa cidade. A memória de Crateús não seria a mesma sem o seu Menor. Ele tem páginas na história política da nossa cidade. Parabéns por sua sensibilidade, Raimundinho.
Beleza ver o blog da ALC restabelecido.
Abraços.
Abraços.
JASouza. disse...
Ilustre Poeta "Bodegueiro":
Depois desta beleza de comentário do João Silas, parece-me que não teria mais o que acrescentar.
Porém, ai por trás desse balcão de letras, ainda existe um vendeiro sensível de saborosas conversas que enriquecem com sua sensibilidade o nosso conhecimento intuitivo.
Está na hora do "solo" da sua estreia editorial.
Sexta-feira, 23 Setembro, 2011
Poeta, você é um ótimo caçador de assuntos. Uma sentinela do passado. Você sempre se volta para o pensamento do dia anterior de até muitas décadas. Creio que o seu acervo de realidades colhidas daria um volumoso e magnífico livro . Seu Menor era da vizinhança do meu pai. Vizinhança comercial daquele ambiente que me toca de saudades: o Mercado Central. A mercearia sortida atraia clientes para as feiras de sábado. Mas o segredo não era somente a variedade de produtos que seu Menor organizava nas prateleiras, mas a variedade de conversa. Meus ouvidos, ainda menino, captavam seu Menor falando em tom maior sobre a política e causos da nossa cidade. A memória de Crateús não seria a mesma sem o seu Menor. Ele tem páginas na história política da nossa cidade. Parabéns por sua sensibilidade, Raimundinho.
ResponderExcluirBeleza ver o blog da ALC restabelecido.
Abraços.
Ilustre Poeta "Bodegueiro":
ResponderExcluirDepois desta beleza de comentário do João Silas, parece-me que não teria mais o que acrescentar.
Porém, ai por trás desse balcão de letras, ainda existe um vendeiro sensível de saborosas conversas que enriquecem com sua sensibilidade o nosso conhecimento intuitivo.
Está na hora do "solo" da sua estreia editorial.