Ao amigo Elias de França
Aos dez, admirava índios nas mil ladeiras de
Barra do Corda e arriscava os dedos nas poderosas rasga latas das noites de São
João. Mas o que eu mais desejava era voltar pra casa.
Aos doze, apaixonava-me pela beleza morena de
Jordaty, a vizinha que me permitia um abraço, vez por outra, talvez por pura
delicadeza de menina, e sonhava em ser marinheiro e me perder no fim do mundo.
Mas, mesmo assim, eu ainda queria voltar pra casa.
Aos quatorze, meus cabelos desgrenhados, minha
calça boca-de-sino, meus tamancos de madeira, pouco em mim denunciava o ávido
aprendiz de tipógrafo que, nas tardes de sábado, duelava ao lado de Clint
Eastwood nos cinemas de Teresina. Aí eu pouco pensava em voltar pra casa.
Aos quinze, enquanto sorria satisfeito com os
encantos da vida, mergulhei nas areias do Poty e fraturei a terceira vértebra da
coluna cervical. Agora, a coisa que eu mais desejava era nunca mais voltar pra
casa.
Então, eu voltei pra casa.
Lourival Veras
Como uma rara flor de cactus, demora a gente ver, mas sempre compensa esperar e esperar para se ler Lourival quando inesperadamente brota!
Parabens pela bela cronica. A foto da ponte sobre o Rio Poty me fez voltar aos tempos da minha infancia. Nas minhas travessuras eu costumava pular quando o rio estava cheio. A lamentar somente o fato do editor do notebook nao permitir a grafia dos acentos. Peço-lhe permissao para postar sua cronica, qualquer dia, no meu mural. Abraço.
e ai vai um poema meu que tenta explicar como são criado os poemas.
ResponderExcluirFRAGMENTOS
fragmentos são pedaços
de idéias no papel
são vivências, feito traços
de cometas pelo céu
são os portos da memória
onde buscamos veleiros
de lembranças e estórias
perdidas nos nevoeiros
são os teares de sonhos
toda ilusão, pensamentos
como toda chama ou vida
seguindo o rumo dos ventos
feito nós quando dormimos
e sonhamos fragmentos.
Fco Fábio Bezerra Tomaz