Os olhos dos
transeuntes de algumas ruas de Crateús puderam, hoje pela manhã, presenciar uma
inusitada manifestação de protesto. Eram artistas de diversas linguagens,
vestidos de seus "papeis", desfilando os trajes e facetas das artes,
para chamar à atenção da Sociedade quanto a importância da cultura para o nosso
povo.
O movimento
de protesto, batizado pelos manifestantes de CORTEJO, denunciava a situação da
gestão pública da cultura em Crateús, que padece um quadro de abandono e
secundarização por parte da Administração do município.
O destino da
passeata foi o Centro Administrativo, onde foi entregue ao gabinete do Prefeito
una Carta Aberta, traçando um diagnóstico da atual situação cultural de Crateús
e apresentando as reivindicações. A mesma carta foi distribuída à população
durante o cortejo.
Os olhos dos transeuntes de algumas ruas de Crateús puderam, hoje pela manhã, presenciar uma inusitada manifestação de protesto. Eram artistas de diversas linguagens, vestidos de seus "papeis", desfilando os trajes e facetas das artes, para chamar à atenção da Sociedade quanto a importância da cultura para o nosso povo.
Carta Aberta ao prefeito Carlos Felipe Saraiva Bezerra
Senhor
Prefeito,
"Cultura é
comportamento, se manifesta nas mínimas relações do cotidiano, é postura frente
ao mundo. [...] É com a cultura que um povo pode dar um salto no refazer da
solidariedade, no direito à apropriação de sua memória e no conhecimento da
importância do seu papel transformador." (Célio Turino)
Os que assinam esta Carta
Aberta entendem ser urgente e inadiável uma política municipal de cultura que
defina uma agenda mínima e contínua de atividades culturais em
Crateús.
Passados mais de três
anos da atual administração, apesar de conhecidos esforços da SECULT, do MINC e
da comunidade artística local, no sentido e envolver os municípios no processo
de construção dos sistemas públicos de cultura, vê-se em Crateús a continuidade
do desmazelo e da secundarização desta área da gestão pública. A ausência de,
pelo menos, um mínimo de planejamento nos leva ao diagnóstico a
seguir:
1. Secretaria de
Cultura e Turismo: A criação da Secretaria foi um avanço e trouxe grandes
expectativas ao setor, mas esta tem se revelado potencialmente vazia, uma vez
que não dispõe dos recursos necessários para implementação das ações que lhe
competem. Seus gestores, embora pessoas afeitas à cultura, encontram-se
limitados pela completa falta de verbas ou em realizar eventos (que, como a
própria palavra revela, é vento).
2. Lei do Fundo
Municipal de Cultura: Outra reivindicação do setor aparentemente atendida
pela atual administração, mas inteiramente nociva. Isto porque não diz de quais
receitas virá esse recurso e não estipula qualquer percentual para abastecer
este fundo, o que o torna incongruente.
3. Pontos de
Cultura: Crateús é uma das cidades do interior cearense melhor assistida em
quantidade de Pontos de Cultura: são cinco! Cada um com investimento de 180 mil
reais, recurso empregado todo ele em formação e desenvolvimento da cultura
local. Mesmo assim, apesar das inúmeras tentativas de seus dirigentes em firmar
parcerias com a administração local, não existe uma política voltada para estas
entidades. Afora uma relação de proximidade com os Pontos de Cultura Beira de
Rio, Topo de Serra e Cultura é para Todos (que são atendidos com o pagamento do
aluguel e em uma ou outra ação), o restante é nulo.
4. Carnaval e
Quadrilhas: Os dois carros-chefes da cultura de massa de nosso município
encontram-se de pires na mão, praticamente pedindo esmola para poderem
acontecer. O que se percebe, a cada ano, é um retrocesso violento em relação ao
ano anterior, tanto em recurso quanto em qualidade do que é visto nas praças e
avenidas da cidade. Algo que tem hora e dia marcados para acontecer, somente é
pensado nos últimos dias, e feito de qualquer jeito, como se fosse para inglês
ver.
Embora seja duro afirmar,
é necessário dizer que todos os setores da cultura encontram-se em petição de
miséria. Os grupos de teatro praticamente não existem mais; as companhias de
dança extinguiram-se; o circo sobrevive apenas pelo trabalho abnegado de alguns
multiartistas e seus panos de roda; a cultura popular dos reisados e das
Danças de São Gonçalo não resistiram ao abandono; as artes plásticas, a música,
os artesãos, a capoeira, as culturas afrosdescendente, indígena e cigana se
encontram relegadas à própria sorte; o setor do livro e da leitura infelizmente
não existe, e a biblioteca pública é apenas um depósito de livros. Todos os
setores da cultura do município, enfim, pedem atenção, respeito e
investimento.
Diante disto, vimos
reivindicar a urgente implantação [1] do Sistema Municipal de Cultura, [2]
criação do Plano Municipal de Cultura, [3] criação do Conselho Municipal de
Cultura, [4] criação do Fundo Municipal de Cultura (com o repasse de no mínimo
1% da arrecadação municipal para o Fundo), [5] criação de leis e editais de
incentivo à cultura, [6] criação da Lei do Patrimônio Material e Imaterial, [7]
políticas de formação continuada em cultura e [8] apoio às produções artísticas
locais.
Senhor Prefeito, não é
mais aceitável, nos dias de hoje, com toda informação a que estamos sujeitos,
entender a cultura como um artigo de 2ª categoria, relegada às questões menos
importantes de uma administração. Conforme ressalta Marilena Chauí, "é a cultura
que forma as realidades que nos condicionam e projetam os destinos da vida em
comum". A cultura não é e nem deve ser entendida como artigo de luxo, é produto
elementar para identidade de um povo. É a cultura praticada em Crateús o que nos
torna únicos em relação aos demais povos do planeta. Sem cultura seremos para
sempre desmemoriados.
Em razão da proximidade
das eleições, queremos propor uma reunião até o dia 3 do mês de maio do corrente
ano, para discutir a pauta ora entregue.
Atenciosamente,
SABI (Sociedade Amigos da
Biblioteca Norberto Ferreira Filho)
ORCA (Organização
Karatiús)
Ponto de Cultura Quintal
com Arte
Ribuliço
Ecoart
Academia de Letras de
Crateús
Frente Social
Cristã
Cáritas Diocesana de
Crateús
Movimento Negro de
Crateús / Comunidades de terreiros
Paróquia Imaculada
Conceição
Centro Espírita Boa
Nova
Centro Acadêmico de
Pedagogia Luís Palhano Loiola – FAEC/UECE
IDSAF (Instituto de
Desenvolvimento Social Dom Antonio Batista Fragoso)
Acadêmicos do
Tykerê
Bloco Alternativo
Inkomuns
Escola de Samba
Malagueta
Quadrilha Junina Roça de
Milho
Quadrilha Junina Arraiá
Esperança
Quadrilha Ceará
Junino
Família Norberto Ferreira
Filho
Francisca Erbênia de
Sousa
José Carlos de Paula
Miguel (artista plástico)
Hilda Cristina (artista
plástico)
Francisco Welington Alves
Lira (ator)
Raimundo Cândido Filho
(escritor)
Flávio Machado e Silva
(escritor memorialista)
Maria do Socorro Malveira
Siqueira (atriz)
Waldenia Bezerra Rosa
(cantora)
Messias Gomes
(ator)
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