Felicidade
Alguém disse, insciente e
precipitadamente, que a recordação da felicidade não é mais felicidade, somente
a lembrança da dor, ainda é dor, uma assertiva dura para um saudosista que
teima em viver de um feliz aroma do passado. Outra vez me pego acomodado numa
confortável rede-divã, revendo algumas desbotadas fotografias, mas não tão
velhas assim, e percebo que delas ainda irrompem algumas gotas de felicidades,
contradizendo a assertiva daquele indolente e excêntrico autor.
De
um pálido retrato saltam três ingênuos sorrisos a revelar cristalinas almas nas
primeiras revoadas da vida. Sinto as palpitações dos ardentes coraçõezinhos
impulsionando seus passos a uma longa jornada. Será a procura da felicidade?
Acho que sim! Pois ser feliz é provavelmente a maior busca, o maior
desejo da humanidade, por uma ventura que ninguém sabe o que é, mas todo mundo
compreende o que significa.
É como aquela noção
física de calor, lá da termologia que tortura os estudantes nos exames de
vestibulares, definida como uma quentura que nunca se tem, mas carrega todas as
circunstâncias para sua cálida existência a transitar de um abrasador corpo a
outro enclausurado numa tíbia frieza.
É uma condição que
sempre intrigou a humanidade e tem tirado o sono de muitos psicólogos,
neurocientistas, filósofos e aluados poetas fascinados pelo brilho momentâneo e
transitório deste momento de contentamento. Dizem que, por baixo de sua
complexa aparência carregada de dificuldades, há uma trilha simples e fácil de
seguir: é só ter alguns amigos sinceros, praticar atividades que exijam
concentração e dedicação completa, exercer controle sobre a própria vida, ter
um sentimento de gratidão para com as coisas e as pessoas de índoles boas que aportam
em nossas vidas, cuidar bem da saúde e, principalmente, amar e ser amado, muito
simples não! Nada de sair ganhando em Mega-Senas, se exibindo em potentes carrões,
viajar em magníficos iates ou festejar a vida em grandiosas mansões. Não se
preocupe com as coisas que estão além do poder da sua vontade, dizem, ensinando
o caminho. Ela, essa tal de felicidade, também não é uma questão de
intensidade, mas de equilíbrio e ordem, ritmo e harmonia.
Atualmente é um
assunto tão seriíssimo, que obrigou a Organização das Nações Unidas a legitimar
mais uma taxa para medir o desempenho e desenvolvimento Humano: O Índice de
Felicidade para aferir o bem-estar dos povos nos mesmo molde que o produto interno
bruto (PIB) que determina quem é rico ou é pobre. Este padrão holístico que vai
ser discutido nas areias quentes de Copacabana no Rio+20, em junho 2012, na
Conferência da ONU sobre o Desenvolvimento Sustentável, certamente não será
comensurado como um taxa de glicemia para diabéticos ou de triglicerídeos para
os cardíacos.
A felicidade terrena, que deve ser uma pontinha daquela eterna
bem-aventurança que nos aguarda como recompensa lá no céu, faz com que mesmo
estando tristes fiquemos felizes, pois a verdadeira felicidade é uma calma, é
uma consciência, é um talento para aturar o inevitável e ficar debochadamente
admirado consigo mesmo, só por está surpreendentemente vivo. Esta boa e
serena felicidade está conosco o tempo todo, nós é que muitas vezes não damos a
menor bola pra ela...
Pelo melancólico olhar continuo aspirando a luz
diafana da desbotada fotografia que conserva uma alegria infantil de um trio
pueril, com seus cândidos sorrisos a me aquecer o coração. São meus filhos que
partiram em revoada, mas sinto aquela felicidade sem motivo como uma pluma que
o vento leva pelo ar e que também me transporta, visto que passei a acreditar,
sinceramente, naquilo que não se ver e não se pode tocar. Hoje, deixo-me ir, e sigo
feliz não me importando a que porto tenho que chegar.
Raimundo Candido
Karla Gomes (Kafka) disse...
Amigo
Raimundo,
muitas são as receitas para encontrar, viver, alcançar esta tal felicidade, mas o poetinha disse lindamente:
"A felicidade é como a gota
De orvalho numa pétala de flor
Brilha tranquila
Depois de leve oscila
E cai como uma lágrima de amor"
Maravilhosa crônica!
muitas são as receitas para encontrar, viver, alcançar esta tal felicidade, mas o poetinha disse lindamente:
"A felicidade é como a gota
De orvalho numa pétala de flor
Brilha tranquila
Depois de leve oscila
E cai como uma lágrima de amor"
Maravilhosa crônica!
José Alberto de Souza disse...
Nestas idas e voltas, as nossas vidas
são como caravelas em revolto mar,
mastros quebrados, rasgadas velas,
cascos maltratados nas tormentas,
mesmo assim elas seguem paralelas,
tentando sempre manter o rumo,
à procura de um porto aonde chegar...
são como caravelas em revolto mar,
mastros quebrados, rasgadas velas,
cascos maltratados nas tormentas,
mesmo assim elas seguem paralelas,
tentando sempre manter o rumo,
à procura de um porto aonde chegar...
Luzia Neide Coriolano disse...
Nem é mais so poesia, e emoção e essencia.
Pita, Cândida e Kid então fechou a beleza e pureza a infância desses lindos!
Amei, valeu, mano do coração.
Pitágoras Teixeira disse...
Pitágoras Teixeira disse...
A felicidade de ter um pai grandioso, que nos faz ter orgulho de ser
seu filho. Eu agradeço a Deus por ele ter nos dado um poeta, professor, mas
acima de tudo um grande pai, que me deixa super orgulhoso em vários aspectos, e
digo que hoje e sempre vou te amar.
Amigo Raimundo,
ResponderExcluirmuitas são as receitas para encontrar, viver,alcançar esta tal felicidade, mas o poetinha disse lindamente:
"A felicidade é como a gota
De orvalho numa pétala de flor
Brilha tranquila
Depois de leve oscila
E cai como uma lágrima de amor"
Maravilhosa crônica!
Nestas idas e voltas, as nossas vidas
ResponderExcluirsão como caravelas em revolto mar,
mastros quebrados, rasgadas velas,
cascos maltratados nas tormentas,
mesmo assim elas seguem paralelas,
tentando sempre manter o rumo,
à procura de um porto aonde chegar...
Nem é mais so poesia, e emoção e essencia. Pita, Cândida e Kid então fechou a beleza e pureza a infância desses lindos! Amei, valeu, mano do coração.
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