quinta-feira, 5 de abril de 2012


                                                                             Felicidade
Alguém disse, insciente e precipitadamente, que a recordação da felicidade não é mais felicidade, somente a lembrança da dor, ainda é dor, uma assertiva dura para um saudosista que teima em viver de um feliz aroma do passado. Outra vez me pego acomodado numa confortável rede-divã, revendo algumas desbotadas fotografias, mas não tão velhas assim, e percebo que delas ainda irrompem algumas gotas de felicidades, contradizendo a assertiva daquele indolente e excêntrico autor.
                De um pálido retrato saltam três ingênuos sorrisos a revelar cristalinas almas nas primeiras revoadas da vida. Sinto as palpitações dos ardentes coraçõezinhos impulsionando seus passos a uma longa jornada. Será a procura da felicidade? Acho que sim! Pois ser feliz é provavelmente a maior busca, o maior desejo da humanidade, por uma ventura que ninguém sabe o que é, mas todo mundo compreende o que significa.
                É como aquela noção física de calor, lá da termologia que tortura os estudantes nos exames de vestibulares, definida como uma quentura que nunca se tem, mas carrega todas as circunstâncias para sua cálida existência a transitar de um abrasador corpo a outro enclausurado numa tíbia frieza.
                É uma condição que sempre intrigou a humanidade e tem tirado o sono de muitos psicólogos, neurocientistas, filósofos e aluados poetas fascinados pelo brilho momentâneo e transitório deste momento de contentamento. Dizem que, por baixo de sua complexa aparência carregada de dificuldades, há uma trilha simples e fácil de seguir: é só ter alguns amigos sinceros, praticar atividades que exijam concentração e dedicação completa, exercer controle sobre a própria vida, ter um sentimento de gratidão para com as coisas e as pessoas de índoles boas que aportam em nossas vidas, cuidar bem da saúde e, principalmente, amar e ser amado, muito simples não! Nada de sair ganhando em Mega-Senas, se exibindo em potentes carrões, viajar em magníficos iates ou festejar a vida em grandiosas mansões. Não se preocupe com as coisas que estão além do poder da sua vontade, dizem, ensinando o caminho. Ela, essa tal de felicidade, também não é uma questão de intensidade, mas de equilíbrio e ordem, ritmo e harmonia.
                Atualmente é um assunto tão seriíssimo, que obrigou a Organização das Nações Unidas a legitimar mais uma taxa para medir o desempenho e desenvolvimento Humano: O Índice de Felicidade para aferir o bem-estar dos povos nos mesmo molde que o produto interno bruto (PIB) que determina quem é rico ou é pobre. Este padrão holístico que vai ser discutido nas areias quentes de Copacabana no Rio+20, em junho 2012, na Conferência da ONU sobre o Desenvolvimento Sustentável, certamente não será comensurado como um taxa de glicemia para diabéticos ou de triglicerídeos para os cardíacos.
                  A felicidade terrena, que deve ser uma pontinha daquela eterna bem-aventurança que nos aguarda como recompensa lá no céu, faz com que mesmo estando tristes fiquemos felizes, pois a verdadeira felicidade é uma calma, é uma consciência, é um talento para aturar o inevitável e ficar debochadamente admirado consigo mesmo, só por está surpreendentemente vivo. Esta boa e serena felicidade está conosco o tempo todo, nós é que muitas vezes não damos a menor bola pra ela...
Pelo melancólico olhar continuo aspirando a luz diafana da desbotada fotografia que conserva uma alegria infantil de um trio pueril, com seus cândidos sorrisos a me aquecer o coração. São meus filhos que partiram em revoada, mas sinto aquela felicidade sem motivo como uma pluma que o vento leva pelo ar e que também me transporta, visto que passei a acreditar, sinceramente, naquilo que não se ver e não se pode tocar. Hoje, deixo-me ir, e sigo feliz não me importando a que porto tenho que chegar.

Raimundo Candido

Karla Gomes (Kafka) disse...

Amigo Raimundo,
muitas são as receitas para encontrar, viver, alcançar esta tal felicidade, mas o poetinha disse lindamente:
"A felicidade é como a gota
De orvalho numa pétala de flor
Brilha tranquila
Depois de leve oscila
E cai como uma lágrima de amor"

Maravilhosa crônica!

José Alberto de Souza disse...

Nestas idas e voltas, as nossas vidas
são como caravelas em revolto mar,
mastros quebrados, rasgadas velas,
cascos maltratados nas tormentas,
mesmo assim elas seguem paralelas,
tentando sempre manter o rumo,
à procura de um porto aonde chegar...



Luzia Neide Coriolano disse...

Nem é mais so poesia, e emoção e essencia. Pita, Cândida e Kid então fechou a beleza e pureza a infância desses lindos! Amei, valeu, mano do coração.

Pitágoras Teixeira disse...

A felicidade de ter um pai grandioso, que nos faz ter orgulho de ser seu filho. Eu agradeço a Deus por ele ter nos dado um poeta, professor, mas acima de tudo um grande pai, que me deixa super orgulhoso em vários aspectos, e digo que hoje e sempre vou te amar.

3 comentários:

  1. Karla Gomes (Kafka)quinta-feira, 05 abril, 2012

    Amigo Raimundo,

    muitas são as receitas para encontrar, viver,alcançar esta tal felicidade, mas o poetinha disse lindamente:
    "A felicidade é como a gota
    De orvalho numa pétala de flor
    Brilha tranquila
    Depois de leve oscila
    E cai como uma lágrima de amor"

    Maravilhosa crônica!

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  2. Nestas idas e voltas, as nossas vidas
    são como caravelas em revolto mar,
    mastros quebrados, rasgadas velas,
    cascos maltratados nas tormentas,
    mesmo assim elas seguem paralelas,
    tentando sempre manter o rumo,
    à procura de um porto aonde chegar...

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  3. Nem é mais so poesia, e emoção e essencia. Pita, Cândida e Kid então fechou a beleza e pureza a infância desses lindos! Amei, valeu, mano do coração.

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