A nossa Praça da Estação era o nosso mundo. A nossa Pátria.
Lá fermentavam os nossos sonhos. Os
nossos projetos futuros. As nossas audácias pela vida. Era uma tenda simples. Iluminada por estrelas
miúdas e tímidas. Os pés se arrastavam no próprio solo sagrado. Era uma praça.
Mas nem praça era. Era um pais
minúsculo, daqueles que são felizes, pois não constam no mapa. Se o calor
vermelho do dia, fazia, a praça arder,
na boquinha da noite, uma brisa fina e macia, salpicava de ternura e amplexo a
nossa pátria. Era o nosso Santuário de justeza e paz. Todos eram nobres.
Ninguém vislumbrava o poente. Todos tinham o sagrado direito de beijar o sol.
Ali não havia crepúsculo. Ali não se entardecia. Bebia o leite morno das melódicas
manhãs. Pois naquela teluricidade,
mourejavam as nossas saudades. Semeávamos as nossas recordações. E em cada
matinata um grão de recordações morria naquele chão de ventre fértil de
felicidades. Éramos felizes, e nós sabíamos. E hoje o queimor das lagrimas vão
nos lavando em conta gotas, revirando a poeira do tempo, e o tinto pó do
passado. Lá fizemos os nossos ninhos,
como as felizes andorinhas. E como na canção do Padre Leo, nas pátrias por onde
andei, eu não me acostumei, para a minha pátria eu retornei. E volvo meu olhar
sombrio e fosco, e com os olhos pálidos em lagrimas mergulhados, vejo uma
neblina espessa de saudade e de dor no coração da minha tão querida praça. Se
foi a ultima das estações daquela nação. Se foi a querida amiga Magda Portela
Machado. Um exemplo de superação. Um diploma de resiliência. Sem queixumes. Sem
lamentos. Com um ponto de saudade no seu sorriso, conduzia um inútil balão de
oxigênio. Uma alma oxigenada de
grandeza. Com as mãos abundantes de servir. Os seus caminhos luminosos
de compromisso com o próximo, ela singrava a todo o momento. Melquiades, seu
irmão, meu colega medico foi para São Paulo. Sua irmã Naide mora em Fortaleza.
Seus pais se foram. E Magda era a jardineira que cuidava com docilidade do
nosso jardim de felicidade. Se o tempo para nós era este contraste doloroso
entre o construir e destruir, a incoerência entre o futuro e passado, para ela
o tempo era mansidão. Era deitava um olhar religioso sobre o tempo. Para ela o
tempo tinha ação própria. O tempo era o da graça. Era Kairós. E ainda Magda que
é uma nação pequenina e bíblica, era kairocidade, como cita Fabio de Melo. E
diria como Álvares de Azevedo, “ e então acordarei ao sol mais puro, cheirosa a
fronte às auras da esperança.” Ao partir Magda deixa-nos este legado de
enternecimento e de doce esperança. A última estação não morrerá. Viverá de esperança e arrimada de saudade.
Fortaleza, julho de 2012
Jose maria bonfim Moraes- medico cardiologista
Poesia pura. Maravilhoso, Muuuuuuuuuito bom. Não tem como ler e não ssuspirar.
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