(À
Rua Calabar)
Se foi herói ou traidor,
não sei, não me importa!
Interessa-me o povo
que vive na Rua Calabar,
em Santo Antônio de Jesus!
O Calabar é uma rosa negra,
avermelhada de sangue,
estampada no asfalto.
Param na porta da baiana Dona Maria,
e a reverenciam:
- Bom dia, minha Preta Veia!
É o respeito mútuo de um povo sofrido!
Traídos? Sim!
Desde que acorrentados
nos tumbeiros infectos,
desde a dádiva da ilusória liberdade,
que lágrimas vêm vazando dos olhos,
e o escuro brilho honra a pele da raça.
Aqui, ali, acolá um desgarrado
lembra os velhos Quilombos:
um Canga Zumba, um Zumbi dos Palmares
com o cassetete da polícia
queimando nos lombos.
Subsistem os que aprenderam
a alegria, o labor e o lundu das mães pretas
e desfilam com glória no chão enfadonho
da Rua Calabar, como numa nova senzala,
de um Brasil Negro ainda pregado na cruz!
Raimundo Cândido
Vieram acorrentados nos tumbeiros
ResponderExcluirpara serem descarregados
em longínquos continentes,
da terra brotam hoje
os quilombos de séculos cativos.