domingo, 5 de setembro de 2010

A Nova Praça


A fotografia embotada pelo mofo e carregada de saudades que agora tenho em mãos, diz daquele momento que me dói, como em Drummond olhando sua ferruginosa Itabira estampada na parede. A imagem da praça de minha infância sai do passado escondido nesta foto descolorida e me faz lembrar uma entoada nostalgia de muitas vidas, de muitas vozes que um dia ecoaram no ar de meus dias. Eram simples, as praças, sem muitos atrativos, havia bancos encurvados de cimento sobre as sombras das verdes algarobas, que nos convidavam docemente, como se dissessem: estou aqui a sua disposição, sentem-se! E a gente tinha tanta intimidade com eles, os bancos, que sentávamos mesmo era no costado e não representava maus modos estampados aos olhos de hoje, pois era mesmo uma época de se sentar no chão, ou ficar de cócoras para uma conversa agradável sobre sombras do dia ou da noite. Logo, sentar sobre o reclinado de um banco de praça era uma prática menineira de meu tempo de praças.
Hoje, olho para o mesmo largo público que outrora era uma bucólica praça que sabia ouvir o sino da matriz nos chamados para os momentos de devoção, de alegria, de tristezas ou simplesmente para uma alegre quermesse paroquial e vejo algo diferente, moderno, mas que também chamam de praça: Praça de alimentação, acompanhando o moderno estilo de vida das grandes cidades, que me lembra até um Shopping Center colorido e piscante de feira neônica com seus aromas de óleos ensalivantes e não mais aquela luz tremeluzente e singela de outrora que ainda teima em pulsar em minha memória.
Como uma jóia no corpo de uma jovem moça vaidosa, ergue-se uma nova praça na cidade, que quer novamente ser princesa e novamente encantar e novamente embelezar como no passado recente dos meus tempos de praças. Ganhamos uma nova sala de estar, moderna, cheia de atrativos e ornamentos importantes como nos grandes centros do mundo: Praça do Ferreira, José de Alencar, Castro Alves ou na Praça da Paz Celestial. Sim, há uma nova extensão de nosso lar onde a socialização se processa.
Mas meu olhar se volta para os momentos felizes que guardo com carinho da velha praça de minha nostalgia, onde passo a passo, percorro as alamedas ensombradas pelas algarobas, e meu reservado siso compara os dois campos de urbe, o de agora e o de ontem e saudoso sussurra segredando ao meu ouvido:
- Sim, voltou! A velha praça voltou. Olhe para a multidão que passeia contente por lá! Estão como as borboletas que regressam ao ambiente que novamente ganhou vida! Mas algo importante falta ao lugar para ser como a aprazível praça do ar de meus dias. Falta o carinho que as “algarobas” lançam no ar, falta os desvelos feitos de leves sombras que amenizam a rijeza da luz e implantam todo encanto natural que somente uma árvore sabe implantar.
Raimundo Candido