sábado, 6 de julho de 2013

CONFESSIONÁRIO


 

- Pode contar seus pecados, meu filho.
- Padre, sou seu neto.

Silas Falcão


Do livro de micro contos O colecionador de dedos.

segunda-feira, 1 de julho de 2013

A Coruja esfomeada.

                                                           
Uma grande crise se abateu sobre o Planalto Central. No desespero, sem saber o que fazer, o Centro Administrativo dos Camundongos convoca todos os ratos, ratinhos, ratões e as ratazanas da nação  para uma Grande Convenção entre os salafrarios , ordinários,  patifes, tratantes  e roedores larápios do Brasil. O que tinha de rato em Crateús, (E não eram poucos!) pegou carona, clandestinamente é claro, nos ônibus e caminhões que se dirigiam à Brasília. Quem sofreu bastante foram as pobres corujas! Procuraram um ratinho para matar a fome e não acharam! Estavam ficando magras e desnutridas.
                Uma coruja branca, destas orelhudas e da cara redonda, moradora dos telhados do Colégio Vitória, teve uma ideia brilhante , pois não aguentava mais passar tanta fome. Iria comer um dos saborosos alunos daquele estabelecimento, alguns até pareciam uns ratinhos dentuços. Ficou de olho, bem atenta! Percebeu uns quatro meninos que moravam ali por perto e tramou um plano. Estes estavam no papo! Sábia, como é toda coruja, eliminou logo dois, pois eles não tinham carne nem para fazer um pastel!  Dos outros,  viu que o mais gordinho, metido a alemão, era muita sustância para sua fome. Pronto, estava escolhida a vitima: Arthur Goiano, até o nome era sugestivo como cardápio de lanchonete, não precisaria nem de maionese nem ketchup.
Sorrateiramente, voando leve como uma pluma, penetrou no quarto dos meninos e, bem oculta, aguardou. O coraçãozinho do Arhur quase pula pela boca quando viu aquele bico arregalado e as pontiagudas garras de cinco centímetros da coruja esfomeada. Foi um pega num pega, um corre que corre tremendo e Arthur gritava desesperado:
- Socorro!!! Alguém me ajude! Esta coruja doida está pensando que sou um rato! 
- Já que alguém aqui não tem coragem, chamem o Tio Dim, e bem depressa, por favor!
Alguém pegou o telefone e, rapidamente, liga para o tal corajoso Tio Dim que, como um Super Herói das revistas em quadrinho,  voa rápido  e apreende a Coruja malvada, salvando o menino Arthur, que nem fôlego tinha mais, de tanto correr.  
A Coruja foi solta nas margens do Rio Poti, que é o seu verdadeiro lugar, mas mandou um recado para o gordinho Arthur:
- Oh, seu intrometido Tio Dim, diga para aquele ratinho roliço, que se nossos alimentos não vierem logo de Brasília eu volto lá, e ele agora não escapa não! E levantou voo, piando tristemente, com suas longas asas talhadas ruflando no ar, rumo à inóspita Caatinga para se alimentar de algum desprevenido e saboroso calango.


Raimundo Cândido