sexta-feira, 30 de setembro de 2011


Recuerdos da Ibiapaba

De osso e lata é o pífano deste fauno zambeto e profano
Que assedia os animais de monta nos contrafortes de taipa da Serra Grande.

Ali mesmo na margem do rio-estrada, furtei-me de olhar
e fartei-me algures de aluá & angu de puba a saciar contudo outras fomes sem nome, e as vontades bastardas.

Remela de resina de Angico a escorrer dos olhos secos da padroeira.
E corda de coroá para cingir tua cintura ó penitente
Sobrancelhas de Algaroba.
Ide e adestrai vossa sombra escassa
O dia sucumbe
Agoniza.

CAVALETE

No nadar em si não há mistério
Que se deva desvendar
Nem rosto, rastro, enigma
Digno de um sismo ou cisma.

Pois, nadar não é mais que praticar
Um voo líquido
O sonho de um Ícaro anfíbio

Nadar é ato inconsciente, inconsequente
Resquício ancestral
Fuga de si do homem ilha
Complexo fluvial

Nas tosca tábua do mulungu – o cavalete
Espraio-me reptil
Carnaúbas alvoroçadas por testemunha
Agito os braços
Acerto o compasso torto a bússola avariada
Estrelas areadas.

À margem minha avó se desespera
Mal ando com meus próprios pés
E já não me arrisco, me atiro.
Nado.

Não há nada que ela possa fazer
Nada.

Esta enchente ela mesma provocou
Ao desfiar noites a fio
Seu rosário de contas.



Poemas do vate Francisco Pascoal Pinto, o Chico Pascoal escritor e professor nascido na Ibiapaba que hoje reside em São Paulo: “Com a cabeça aí na Terrinha, rascunhei o poema abaixo. E reafirmo aqui a minha crença de que a prancha de surfe não foi inventada pelos Havaianos. Já em tempos ancestrais, no Poty, homens pré-históricos de cabeça chata equilibravam-se em longas pranchas de Mulungu. Inscrições rupestres nos paredões da  Serra da Ibiapaba, cuja localização não sei precisar pois soube-o pela tradição oral,  o atestam.”

Paulo Nazareno disse...
Beleza! Estas inscrições ficam num,local chamado "ininga",depois do assentamento Cesario, Sao fantásticas. Visitei-a há anos numa inóspita caminhada, da qual foi impossível sair incólume aos espinhos de Jurema e nao ouvir o ameaçador chacoalhar da cascavel. No trajeto,nao poderia faltar a velha lenda do vaqueiro e do boi,tragados chão a dentro por uma enorme fenda/gruta,habitáculo de incontáveis morcegos;história essa, passada de geração a geração pela tradição oral, conservando assim, lúdicas lembranças do ciclo do couro.

quinta-feira, 29 de setembro de 2011


        Prof. Luiz Bezerra (Ponderações de um sábio!)

                                                                                                      Uma grande lembrança não morre,
pois se alimenta do sangue que corre!
Irrigando-se cordialmente com a seiva
da ausência, estará eternamente viva!
                                                              (Raimundo Candido)  
                                                                                                                

                   Uma claridade rósea iluminava o familiar céu de chumbo, como um vistoso ornamento de aniversário, naquela quarta-feira em que Crateús despontava, pouco a pouco, para um novo caminhar.
          O dia 15 de novembro de 1961 teve, logo nos seus primeiros instantes, uma festividade solene e triunfal, pois além da imponente aurora a reverenciá-lo com um áureo brilho que adorna unicamente as divinas cidades, um rojão de 21 tiros desfechado pelos paladinos do 4º Batalhão de Engenharia e Construção, o condutor da bandeira do progresso tira de vez a sonolência que impregnava os olhos de nosso amanhecer e nos promete um alvoroçado inesquecível dia. 
             A cidade acorda, estampando na jovem fisionomia meio século de um lento amadurecimento, numa existência de contínuo labor, em busca de um arborescente desenvolvimento que é sempre vagaroso e imperceptível como nas árvores que crescem em suas ruas, pelo estilo de vida calmo e pachorrento. Em todos os lugarejos perdidos no espaço, ostenta-se uma esperança, e essa espera é uma semente carregada de aspirações, repleta de anseios para sair de um adormecimento no tempo. Embora cinqüentenária, Crateús já é uma mocinha cheia de prendas em comparação com outros lugarejos do hinterland cearense.  
             Os últimos repiques dos sinos da Matriz convidavam os crateuenses para a celebração da missa, num preito religioso ao cinqüentenário. O amplo espaço da praça já está qual um formigueiro. As pessoas se aglomeram no pátio da Igreja cujas torres se erguem aos céus. O imenso monumento de Cristo abraça a todos, indistintamente, pois na nave central não caberia tamanha multidão. Elegância à vista em suas roupas novas.
               No altar montado no calçadão, apresenta-se Vossa Reverendíssima Dom João José da Mota de Albuquerque, Bispo de Sobral, que veio especificamente celebrar esta missa campal auxiliado pelo vigário de nossa paróquia, o Pe. José Maria Moreira do Bonfim. 
              Na primeira fila, bem próximo ao altar, está o Governador do Estado o Sr. Parsifal Barroso, os Deputados estaduais, o Juiz da Comarca, O Senhor Prefeito Raimundo Bezerra de Melo, as demais autoridades, juntamente com os ilustres e orgulhosos filhos e perfilhados da terra, este soberbo torrão que um dia se agasalhou às margens do intermitente rio Poti.
                Entre os adotados, pois nascera no Ipu, está o digníssimo professor Luiz Bezerra, de terno branco, trajado com esmero, feições nobres de um philósophos (σοφός) grego. Tem uma apurada distinção de um cavalheiro habituado ao mundo. O professor examina Dom Mota celebrando ao ar livre. Sua mente turbulenta se ativa pelo simples hábito de cismar, sempre absorto em todas as possibilidades que a vida lhe impõe. Analisa cada instante como um lance de xadrez, com acuidade de sua sabedoria prática. Este ensejo religioso lhe puxa da memória a saudosa recordação do Colégio Cearense onde cursou o Ginasial e o Científico, em Fortaleza, para onde lhe mandara o velho pai, José Hermínio, um pecuarista acostumado na lida com o gado, no trato da terra e com uma imensa visão de futuro. Num átimo lhe vem todo conhecimento profundo que adquiriu do Budismo, do Confucionismo, de Jean Paul Sartre, de Martin Heiddger, de todos os clássicos da literatura, de toda Filosofia e História Geral que muito lhe queimara as pestanas. Ali em plena praça, lembrou-se até do grande mestre Platão.
              Uma formação intelectual primorosa e uma erudição assombrosa é coisa rara de se encontrar num único cidadão. Essa imensa consciência refletida no espelho de sua sabedoria foi obtida de muitos e muitos livros que sorveu por estímulo dos irmãos maristas e, mesmo assim, não o ajudou ver a Deus no altar de Dom Mota, pois sempre sentiu que Ele está presente na natureza, na beleza de uma pétala, no perfume de uma flor, no trinado do galo da campina do sertão. Como afirma nas crônicas diárias, tudo que existe é manifestação divina. A preocupação social reflete-se até nos seus versos livres, como o inquietante drama que sentimos no poema Angústia: “E nesta hora / o homem treme / de medo, / de angústia / e vai / procurar refúgio dentro da terra. / Esconde-se / da ciência, / da técnica, / do progresso.”
              Recorda agora que tem de escrever uma crônica a pedido de seu amigo, poeta e professor Antonio Lisboa Rodrigues, e o assunto é nada mais nada menos que o capeta, o traquinas. Não sabe por que motivo foi se lembrar disso agora. Por um momento ficou apreensivo, pensando na reação que o povo poderia ter, ao ouvir o grande locutor Edson Martins ler no ar, pelo auto-falante da Rádio Educadora esta estranha crônica. Tem a leve impressão de que poderá haver alvoroço, devido à ânsia com que os cândidos ouvintes aguardam este momento de forte audiência de radiofonia crateuense. Isso o diverte!
              O poeta Luiz Bezerra olha a sua volta e contempla toda a multidão. Ver as autoridades perfiladas, atentas ao momento sagrado da Eucaristia. Observa ali bem pertinho seus dois grandes amigos, O Seu Ferreirinha e Professor Lisboa, ambos bons escritores e até já pensou em convidá-los para fundarem um Grêmio literário, já que uma Academia de Letras é uma liga muito  imponente, e pressupõe que isso só se realizará lá pela época do longínquo centenário.
              Com os dois colegas, tem uma verdadeira intimidade para prosear sobre todos os assuntos do dia, como o andar audaz da Presidência de Juscelino Kubitschek, o desfecho triste da Guerra do Vietnã, a construção separatista do Muro de Berlim, a inalterabilidade da política crateuense, assuntos meritórios para três mentes brilhantes.
              Bem na frente, com toda importância que o cargo inspira, está V. Ex.ª o Prefeito que recentemente concretizou a maior e mais justa aspiração do povo: a iluminação pública. Lembra de quando a cidade ficou vinte dias no escuro, e sempre a ouvir a mesma desculpa, de que era o tampão do motor que estava rachado e continua achando que tudo na prefeitura está se rachado, e há muito tempo, precisando de muitos tampões novos, principalmente um tampão de aço que impeça o escoamento de verbas. O prefeito atual fez o calçamento de algumas ruas nos arredores do centro, mas tem a impressão de que, pelo andar da carruagem, daqui a mais de meio século após esta data magna, a principal obra dos administradores crateuenses será ainda ladrilhar as ruas com pedras toscas e faz questão de deixar esta afirmativa registrada em suas narrações. Registra também que ainda não apareceu um gestor capaz de impulsionar um ritmo acelerado ao progresso. “É só essa pasmaceira administrativa recheada de politicagem que se inicia com uma esperança e logo se revela num duro desengano.” No meio da bela solenidade o Escritor Luiz Bezerra é só memória... Já entrara também para o rol dos cinqüentões. Sente o declive da ladeira, na indesejada descida, após esta curva fechada para o retorno ao pó na estrada cronológica.
              O hábito de superestimar o passado e temer o futuro lhe mexe com os nervos. Vem a vontade inevitável de acender um cigarro. A mão vai instintivamente ao bolso e confirma a carteira de Continental que comprara na noite anterior. Abstém-se deste prazer momentâneo em respeito à multidão que se aglomera a sua volta, mas inconscientemente sabe que este hábito vai lhe custar caro.  Relembra o tempo da Faculdade Nacional de Medicina no Rio de Janeiro quando metido numa bata branca para as aulas de anatomia, o estômago lhe embrulhava. Saia da presença dos cadáveres, forçosamente, situação que o fez desistir já no segundo ano de faculdade. Pensou assim: é melhor ser coveiro, pelo menos não pego em defunto frio, só na alça do caixão. De todas as boas lembranças da Cidade Maravilhosa, a viúva Mary é uma delas. Aprendeu com essa generosa senhora um bom e fluente inglês. Aproveitou a ocasião para fazer um Curso de Línguas Neo-Latinas, recebendo habilitação pra lecionar a Língua Portuguesa. 
            O retorno a Crateús foi uma procura pelo que não encontrou por navegações distantes. Volta em busca da primordial raiz para lhe suprir novamente a seiva poética, beber na inspiração das musas e se deleitar na confluência natural do amor. Encontra aqui Dona Airam, com quem se casa. Começa assim a aparecer os frutos e os benefícios, não só para o devotado casal, mas para todo o município crateuense.
            Volta, sim, para encontrar aqui sua real missão na devoção habilidosa e quase exclusiva a educação. A ela tem se dedicado de todo coração. É hoje o Delegado Regional de Ensino numa região que detém uma desagradável marca de um alto índice de analfabetismo e por isso, necessita de seu trabalho, de sua interferência para mudar este quadro de abandono que se encontra nossa educação.                  
             Recorda dos primeiros instantes do Colégio Crateuense que fundara com Da. Airam  Veras.  De lá, a fama de bom educador começara a ser apregoada aos quatro cantos do mundo, de boca em boca indo aos confins do Piauí. Chegam alunos de todas as adjacências para estudar com o professor Luiz Bezerra. Muitos ficavam internados nos próprios alojamentos do ginásio que apresenta um ensino tradicional, mas bastante eficiente. Um trabalho concreto e sério onde o que foi semeado nunca vai parar de dar frutos, pois um bom professor, como fazia questão de ser, afeta até a eternidade. É impossível dizer até onde vai sua influência como um grande mestre.
            O educador demonstra seu espírito empreendedor quando, além de erguer fornalhas, se deixa consumir como combustível para lançar ao mundo homens e mulheres, feitos da mesma massa que o compõe: o lenho intelectual de um titã invencível na busca pelo saber.
             Recorda a Escola Normal Rural, também concebida na sua mente. Acompanhou todo o processo de nascimento, cuidou com esmero para o seu desenvolvimento, de lá guarda dias de glórias inesquecíveis. Hoje é o Colégio Regina Pácis, nas mãos abençoadas de irmãs que vieram do Crato e do digníssimo Pe. Bomfim que está ali, ajudando na celebração e é também um dos seus colaboradores na elaboração da Revista do Cinqüentenário, que já está no ponto de ir ao prelo: “Crateús, 50 anos de cidade” cujo lançamento será no salão nobre do Crateús Club. Amanhã, sendo um dia normal de trabalho, o comércio deve estar o burburinho de sempre, num grande vai e vem de gente pelas ruas, e terá que abrir bem cedo as portas de sua Tipografia Central, pois nada como o olho do dono para engordar a boiada. Quem sempre trabalhou com a palavra, lavra da alma, depurada no santo mistério de eterna doçura, deve abranger tudo que lhe diz respeito, de forma escrita ou falada. Já publicara Júlia Maria uma novela sociológica, que começava assim: "A vida é um castigo dos céus, os deuses morreram porque já não podiam suportá-la", escreveu também um opúsculo, Crateús de ontem e de hoje. Pretende reunir suas Crônicas num livro, pois é uma cobrança de seus fiéis ouvintes que querem ser também seus leitores.
            Com o ânimo disperso em relação ao evento, que já se finda, ergue os olhos e vê no céu claro e azul de novembro a estátua de Cristo de braços abertos, como que contrabalanceando toda aquela aglomeração humana e lhe vem uma frase de Buda, que sempre gosta de repetir para seus pupilos ”seja você mesmo sua luz e seu centro de apoio”.
             Alegra-se, pois está quase na hora de ir para o aconchego de seu lar e fazer o que mais deseja nesse momento, nutrir-se da luz da música, ouvindo num deleite íntimo e com uma imensa satisfação na alma, as belíssimas sonatas de Beethoven.
                                                                                                           Raimundo Candido

Caro Raimundinho,

Foi muito bom relembrar as virtudes do inesquecível educador Luiz Bezerra, pessoa competente e apaixonada pelo desenvolvimento educacional de Crateús.
Vale salientar que depois da Escola Normal rural, naquele prédio funcionou o Patronato senhor do Bonfim, instituição criada pelo padre Bonfim em 1958 e também o Ginásio Pio XII, que depois se mudou para o Salão Paroquial, transformado em Colégio Pio XII, quando conquistou do MEC a licença para ministrar o segundo grau.
Na década de 1970 foi criado o Colégio Estadual Regina Pácis, que vem ao longo dos anos galhardeando e engrandecendo o ensino público de Crateús. Por lá já passaram milhares de estudantes que abraçaram as mais diversas profissões e hoje estão espalhados por todos os recantos deste imenso Brasil.
Flávio Machado
                               

terça-feira, 27 de setembro de 2011

Conto de Antares


Conto de Antares

Era ela, ou melhor... é! Uma das estrelas...
Uma das, pois que muitas existem!
Muitas existem numa constelação,
As constelações são muitas estrelas
Estrelas que se unem e por algum motivo...
Por um grande motivo torna-se algo importante!

O astrônomo entende disso tudo
Sabe da importância e da mística que envolve os céus,
Sonha alto, pois sonha em alcançar as estrelas...
E por se aventurar na busca dos brilhos suspensos
Ao éter cosmérico, se joga na viagem por meio das lentes...

Encanta-se a cada aglomerado fitado
Entristece-se a cada explosão de estrela...
É que o astrônomo não se contenta com o brilho...
Por este (GRANDE) motivo quer tocá-la, tocá-las!
Mas afinal, ele escolheu uma...
Uma seria suficiente, teria calor suficiente.
Brilho bastante para reacender todas as chamas...
A chama da vida, da esperança; a chama do amor...

Contudo, o astrônomo não podia tocá-la...
Mesmo assim o desejo permanece; permanece a vontade e...
O amor continua!

O astrônomo? Eu...
Antares? Você!
(Éricson Fabrício)

Raimundo Candido disse:
Eita, Éricsonsão ! Que luneta potente foi essa que você usou para captar tão belíssimas imagens de um éter cosmérico? Sabia que você era um poeta lunático, mas agora estás a desbancar até Olavo Bilac, com esse seu Conto de Antares ... só posso imaginar que estais a ouvir estrelas! Parabéns Poeta!
Raimundo Candido

                                                     Sinal de Modernidade




Uma elegante ciclista parou ao lado do meu carro, um velho Del Rey que às vezes está assim meio esbranquiçado. Olhei com uma concentração displicente, de quem olha por olhar e esquece o que viu. O corado sinal de trânsito até refletia a impetuosa luz do dia. 
Parou?! A bicicleta parou? Olhei novamente, bem rápido e constatei o fato interessantíssimo. Aquilo vinha, inconscientemente cutucando meus neurônios, mas não dava bastante atenção ao fenômeno incomum para minhas retinas, de que a modernidade se instala também e lentamente nas ruas como uma obediência civil no tráfego, com seus pululados automóveis, imprevistas motos e imperceptíveis bicicletas.
E logo me veio uma frase bem conhecida, que sempre lembramos quando temos que nos sujeitar a uma lei: “Manda quem pode, obedece quem tem juízo!
Estar subordinado a uma autoridade é coisa antiguíssima, desde Leônidas, o Rei de Esparta, que para defender o desfiladeiro de Termópilas, obedeceu regiamente à lei de sua consciência e foi combater com seus 300 espartanos à sombra das flechas de Xerxes que obscureciam a luz do Sol e facultou colocarem em seu epitáfio a frase: “Viajante, anuncia em Esparta que aqui permanecemos em obediência às suas leis.”
Crateús não é uma terra sem leis, mas já quis ser, época em que lugar algum havia um comando eficaz, lugar algum havia uma séria obediência, como naqueles filmes que retratavam os tempos de um indomesticável bangue-bangue. Havia sim, mil desejos de libertação, de uma liberdade de escolha que é a nossa única riqueza.
  Numa aventura de desbravadores, os membros da Academia Crateuense de Letras saímos rumo a Oeiras, a nossa primeira capital, atrás de um elo perdido lá do começo da nossa história. Fomos achar algo interessante na cidade de Teresina, nas prateleiras do Arquivo Público do Estado do Piauí. Infelizmente conservaram no tempo e no espaço somente casos de polícia, caixas e mais caixas de documentos amarelados, esfarelando ao tempo, contando o nosso abandono em meio a um velho faroeste.
Na época, um Inspector de Polícia da Villa Imperial mandava um offício a Oeiras:
 “A despeito das ordens terminantes da Presidência (da Província) tenho observado virem de Oeiras sempre que tem que responder ao jury neste termo, criminosos de grande importância como Gaudêncio Ribeiro Mello e Pedro Ribeiro Mello completamente soltos e até montado em bons cavallos, com o maior perigo de se evadirem no caminho, sendo que as autoridades daquelas localidades são as próprias que permitem semelhante abuzo, e por que eu não desconheça quanto pode ser isto fatal à causa da justiça e o prejuízo que traz à moralidade pública tratando com tanta distinção a criminosos de tal natureza, o segundo dos quais até se acha condenado pelo jury à pena capital, afirmo-me levar a conhecimento de Sua Exª para que designe providenciar a respeito.
Deos Guarde V. Exª por muitos anos.
Principe Imperial, 17 de novembro de 1853. ”
            O sinal vermelho muda automaticamente para um verde fusco, indicando que podemos seguir em frente. Deixo o ciclista partir, com referência ao cidadão que sabe da faculdade que cada um tem de se decidir segundo sua própria determinação, mas que obedecer é um primeiro sinal de modernidade.

Raimundo Candido

domingo, 25 de setembro de 2011


TUCUNS
PÉLORAS AOS PORCOS
                                        Edilson Macedo
Quem caminha pelas ruas do pequeno Distrito de tucuns cruza a todo instantes com indesejáveis transeutes- porcos. Grandes e pequenos, a maioria doentes, se fartam nos lixões que a cada dia crescem em números e dimensões que assustam. Estima-se que meia tonelada de lixo e despejada diariamente nos arredores da pacata comunidade. Grande parte do indesejado material desliza mato adentro arrastada pelas águas das chuvas, poluindo, destruindo uma das maiores riquezas legada à pobreza e aridez de nossos espíritos...

Queira Deus que um dia, talvez daqui a duzentos, trezentos anos, alguém se assuste ao encontrar no meio de nossa mata reconstruída, uma garrafa pet, símbolo de uma geração que viveu em contradição com a Natureza e consigo própria...

             TUCUNS é um simpático vilarejo no cocuruto da serra da Ibiapaba. A exuberância de suas belezas naturais o credencia a um potencial turístico de valor inestimável. La os ventos dos sertões de Crateús se misturam a brisa que sopra dos mares do Piauí. Serras revestidas com as cores da caatinga, lajedos de onde brotam jardins paradisíacos ornamentados pelas cores vibrantes de cactos e macambira, céu de azul impar, pedras pigmentadas que atestam a purezas do ar, mágicos mirantes, águas que brotam do chão... Tudo isso faz, como atestar o poeta Raimundo Candido, lugar digno da morada de Deuses. Habita o lugarejo, entretanto, um povo pacifico e esquecidos das benesses publicas...

Em Tucuns a maioria das casas não possuem banheiros, não existe saneamento e os bichos têm licença da saúde publica para transitarem livremente entre os humanos...

DEUS NOS PRESENTEOU COM PEROLAS, NÓS AS JOGAMOS AOS PORCOS
Crateús, setembro de 2011

José Alberto de Souza disse...

Pérolas jogadas aos porcos também são muitos materiais recicláveis como as garrafas de refri 2l (aquelas que perdem o gás depois de consumida a metade) e as caixinhas de leite longa vida que, se fossem reaproveitadas jamais seriam encontradas no meio da mata no futuro...

Segunda-feira, 26 Setembro, 2011