O DESAFIO DE PUBLICAR
Postado por Silas Falcão
Publicar
um livro ainda é o grande sonho de quem gosta de escrever. Fazemos oficinas,
participamos de concursos, figuramos em blogs e sites e newsletters, mas
publicar um livro ainda é o grande sonho. Um grande sonho e, para muitos, um
tortuoso caminho.
Isso me
lembra a menina pobre de uma escola humilde perguntando como fazer para
publicar suas poesias. Ou um personagem-escritor de Dom Quixote batalhando para
imprimir seu livro. Me lembra a Marô Barbieri e o Mario Pirata, competentes
escritores gaúchos e promotores das próprias obras. E me lembra as livrarias
modernas, enormes, organizadas, com cheiro de tudo, menos de livro.
É, há um longo
caminho entre o ponto final e o cheiro de papel.
De forma
simples, podemos identificar três processos depois do ponto final em um texto.
Primeiro, descobrir a dificuldade que é publicar, especialmente pela primeira
vez. Segundo, entender o porquê dessa dificuldade (excesso de escritores,
escassez de leitores, mercado com leis capitalistas e alto custo do papel são
algumas pistas). Terceiro, encontrar uma solução para superar tais entraves.
Muitas
obras que o autor considera “imortais” morrem aí, no ponto final. Ficam
restritas ao escritor ou aos amigos do escritor. Não, ainda não foram recusadas
por centenas de editoras. Simplesmente o autor, ao olhar para o mercado
editorial, se pergunta: para que pôr mais um livro no mundo? Será que sou bom o
suficiente?
Minha dica
– se de cá posso dar alguma – é não desistir tão fácil. Querer publicar um
livro é como querer ter um filho, não há nenhuma razão lógica para se pôr mais
um filho nesse covil, mas é o sonho de muitos e, se formos otimistas, um bom
livro nunca é demais para uma sociedade em formação. Melhor do que desistir
seria tomar a consciência do tamanho da literatura, muito superior a qualquer
outra arte, e reescrever mil vezes o texto, melhorando-o cada vez mais antes da
publicação apressada.
Porque só
a literatura compete de forma tão evidente com toda a sua história, uma
história milenar. Na mesma prateleira de um romance estará Dom Quixote e Madame
Bovary, na mesma estante de um teatro estarão os de Shakespeare e Ibsen. Um
conflito, aliás, muito bem representado por Carlos Henrique Schroeder em A Rosa
Verde (tema da próxima coluna): “eles continuam ali, rindo, me ameaçando com
suas obras grandiosas, criativas, geniais, me reduzindo, intimidando”. Se a
intimidação servir de estímulo para a releitura, para a visão crítica do que se
produziu, ótimo, estamos no caminho certo.
E então o
texto está pronto e relido. Agora sim, pensa a menina, eu, os mil e um
escritores por aí afora, agora sim vale a publicação. Aí há três caminhos:
1 1 )
Enviar para uma editora comercial;
2) Inscrever
a obra em algum concurso literário;
3) Pagar a
própria edição.
É evidente
que qualquer escritor começará pela 1, mas raramente terá sucesso. As editoras
comerciais são mais comerciais que editoras. E nós não somos (ainda) o Pedro
Bial biografando a vida do chefe. Então passaremos para a 2. Conheço muita
gente que começou por um concurso ou financiamento público, pode ser uma
alternativa. Mas requer, além de qualidade, muita paciência.
O terceiro
caminho é o mais traiçoeiro e viável. Antes, vale ressaltar que sempre se pagou
para publicar (de Augusto dos Anjos a James Redfield). A auto-publicação não é
errada e se existe preconceito é pela quantidade de lixo que se publica por
conta própria. O que torna traiçoeira esta alternativa são as falsas editoras
que mal fazem o papel de gráfica, diagramando e imprimindo o livro para o jovem
escritor por um preço muito superior ao que se conseguirá pelas vendas.
Especialmente porque, depois do ponto final e do cheiro de papel, há outro
problema, a distribuição.
Mas
voltando à publicação, ela não atribui, por si só, qualidade a um texto. A
gente pensa que publicar trará reconhecimento, mas não basta ver nossa história
eternizada em papel. É preciso ter boas histórias, acima de tudo. E bem
contadas. As que forem realmente boas, acabarão no papel. Porque o mercado
editorial tem lá suas regras, parecidas com as de um banco, uma loja ou um
canal de televisão. Ele está atolado no mercado, nas leis liberais deste, e só
de vez em quando estica os olhos para a novidade, para a arte. Cabe a nós,
iniciantes aventureiros malucos escritores em busca de espaço, aprimorar nossos
textos para que se aproximem desta tal arte. E assim sejam percebidos nessas
esticadas de olhos do mercado.
Dicas para quem tem um original pronto e não sabe o que fazer com ele:
1) Procure
um bom primeiro leitor, de preferência algum escritor, professor ou leitor
exigente que aponte mais defeitos do que qualidades;
2) Envie o
texto para uma revisão, preferencialmente profissional;
3)
Registre seu texto na Biblioteca Nacional (clique aqui);
4) Se você
quiser enviar para editoras e concursos, mapeie quais estão adequadas ao perfil
do livro. É importante conhecer a editora, pois você tem mais chances de
publicar um livro de contos na Cia. das Letras do que na Sextante, por exemplo;
5) Prepare
um original sem erros de digitação, diagramado com fonte de boa legibilidade e
espaço no mínimo um e meio entre as linhas; acrescente antes do texto uma breve
carta de apresentação sua e, depois, uma sinopse do livro que seja curta e
eficiente;
6)
Entregue o livro pessoalmente ou, se não for possível, envie pelo correio. E
não hesite em enviar para mais de uma editora ao mesmo tempo. Mas se você for
aceito por alguma, é no mínimo elegante avisar as demais;
7) Se você
quiser fazer uma edição do autor, tenha em mente que pode ser importante o
código de barras e a ficha catalográfica para a colocação em livrarias e até
alguns prêmios literários;
8) Cuide,
no caso de livros publicados por conta própria, com os custos de impressão em
relação a tiragem e com a divulgação e distribuição da obra. Devido ao
fotolito, é sempre mais barato o custo unitário do livro para tiragens maiores;
9) Não
deixe de continuar produzindo e, especialmente, participando da comunidade
literária enquanto seu livro não é aceito por nenhuma editora. Infelizmente ter
um nome (re)conhecido é tão importante quanto um bom texto.
Marcelo Spalding