quinta-feira, 20 de julho de 2017

O desencanto das sereias




Um canto encantador ecoa dos paredões
Das entranhas do mar,
Cardumes em volúpia deixam de procriar.
O sussurro das correntezas marinhas
São as trilhas das sereias em volitação.

Elas vêm famintas e sedentas,
A sedução mágica atrai os homens
Para o amor letal. 
Ah! Homens do meu tempo,
Não se apaixonai pelas suas formas encantadoras,
Colhei a lágrima de seus olhos,
E desencantai seus encantos e seus cantos,
Não ficai à sombra dela,
Pois sua sombra é como o raio de sol
Tal como faísca de ouro
Para guarnecer sua cauda
Dos poderes dos homens.

E muitas sereias vieram
E ergueram suas vozes
E dedilhavam as cordas de suas harpas
E cantavam um canto enternecedor,
Mas os homens estavam surdos,
Pois um herói de outrora
Contara-lhe da voz gritante
Daquelas feiticeiras marinhas.
E os homens do mar
Tomados de súbita emoção
Fecharam os ouvidos com algas
Mágicas do fundo do mar de Poseidon.

Então elas cantaram.
E cantaram muito mais alto que o ruído das águas,
Que o som da canção e os suaves acordes das harpas
Reverberavam nas paredes dos penhascos
E multiplicavam-se e propagavam-se
Nas colinas envoltas no manto da noite
Que o mar deserto se encheu de melodia sob as estrelas.

Quando a música morreu
No horizonte das colinhas e do mar,
Em meio às estrelas brilhantes à margem do mundo,
Então se fez silêncio,
E no meio do silêncio,
Um grito desesperado se ouviu.

As lágrimas das sereias
Escorreram pelos seus seios humanos,
E se impregnaram nas escamas de suas caudas
E mulheres humanas se tornaram.
Elas não encantavam mais os homens,
E fizeram reverência ao mundo terreno,
E cada uma desprendeu a última escama molhada de lágrima,
Oferecendo aos homens,
Depois se apaixonaram
E se tornaram mortais.

O sol nascia
E mergulhava em uma grande nuvem branca
Que se erguia na extremidade do mar.
Fazia frio e o mar estava revolto
Uma tempestade se anunciava.

O vento estava pleno de açoites e gritos naquela manhã gelada.


Prof. André – 19/07/2017