sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

VIRADA (Isis Celiane)


No último dia do ano
Crepúsculo triste anunciando alvorada
Nas ruas a juventude vibrando
Esperando, cheia de vida, a hora da virada

O velho ano de bagagens prontas
Carregadas de recordações, quase indo embora
Deixando sonhos, conquistas e desilusões
Que serão amanhã miragens em nossa memória

E os poetas do tempo e da vida
Dizendo em versos o quanto ela é breve
“Vida louca, vida (...)
Já que eu não posso te levar
Quero que você me leve.”

Alguns carregando seus deveres
Lembrando a rapidez com que o tempo passa
“A vida é uns deveres que nós
Trouxemos para fazer em casa (...)”

“Quando se vê já são seis horas: há tempo (...)
Quando se vê passaram-se 60 anos” num segundo
E embora todo o dia ao acordar não tenha mais o tempo que passou
“(...) tenho muito tempo, temos todo tempo do mundo...”

Elias de França disse...
Que gostoso, Poeta Isis, essa costura de tão preciosos retalhos poeticos de tão grandes trovadores. De fato, falar de tempo é falar de vida. Porque, à otica humana, ambos estão bem imbricados. Li ha alguns meses, não me recordo de quem, a tese de que o tempo não passa; quem passa é a vida, o homem, seus fazeres terrenos. Assim, o lapso de uma volta da terra em torno do sol só tem significado para quem vive, breve vida, como nós mortais. Ainda assim vivemos a esquecer que somos tão pouco, ínfimos até, nessa imensidão de mistérios, codificados desde a célula à mais longínqua poeira do sem fim alem.

ANDARILHOS (Aldo Costa)

Eu e você estrada afora
Dois ciganos a vagar
Sem destino, como a brisa
Sem preguiça, como o mar

Os seu olhos têm o verde
Do milho, lá no roçado
Na boca, doce desejo
Do prazer e do pecado

O amor tem várias fases:
É verão e é inverno
É lucidez e loucura
Paraíso e inferno

Se te quero e te preciso
A vida inteira, só prá mim
Nessa estrada vou contigo
Caminhar até o fim

Estradas...ciganos
Andarilhos cansados
Amor ao relento
Corpos saciados.



Aproveitando este momento dos últimos de 2010,
Gostaria de abraçar a todos(as) amigos(as) acadêmicos(as),
desejando-lhes um novo ano cheio de muita paz, saúde, luz e
muita inspiração ao lado de todos aqueles que amam e prezam!
FELIZ 2011!
Aldo Costa

Isis Celiane disse...
Lindos versos, carregados da simplicidade que torna a poesia encantadora e apaixanante. Feliz ano novo para ti e para todos nós desta casa de versos chamada Academia de Letras de Crateús.
Sexta-feira, 31 Dezembro, 2010

quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

VELHOS TEMPOS DO FUTURO (Elias de França)

Amanhece, e eu de novo à janela.
O céu continua azul;
o sol, deslumbrante, ilustra o nascente;
o mundo tem nova data marcada para acabar: 2012.

Passam os bêbados de volta da noitada,
patinando na lama dos esgotos da rua,
tropeçando em latas de cerveja, copos plásticos,
aspirando poeira, vômito, enxofre...
detritos do homem descartável
em festa de reveillon.
Ainda sobre a calçada,
toda a vizinhança em sacos de lixo
de um ontem tão distante...

Zé Porfírio ainda vive, servindo raro leite, na sua velha carrocinha -
mas já não lhe sou freguês:
hoje bebo pó sintético de cereal transgênico,
dada a intolerância à lactose;
o jegue Stalone não teve a mesma sorte: foi atropelado por um caminhão,
não sem antes ter matado minha muda de palmeira,
e em seu lugar plantei um pé de Nim Indiano.
Totó-da-Bodega faliu!
Aí se aposentou e mudou-se para a capital.
Agora passo o cartão no supermercado da cidade,
E sigo pendurando faturas aos fins dos meses...
A casa vizinha virou uma lan house, um cyber sem café, sei lá o que mais...
os sons sintetizados de supercarros de formula 1, nos games,
redundam em meus tímpanos...
Morro de saudades daquele cheiro de CO2 colorido de cinzas, que enevoava toda a rua – Não desse gás catalisado, incolor, insípido e inodoro,
que todos devoram sem tapar o nariz

e nos dilacera oculto os brônquios -
e do barulho cansado da velha Brasília vermelha,
há dez anos vendida no quilo para o ferro-velho...
A banda militar, ao longe, estranhamente,
ainda toca os velhos refrões,
ensaia as “antigas lições”,
de coturnos em teimosia com o asfalto,
enquanto jovens praças
rondam minha rua em modernas volantes.

Não há robô algum a recolher dejetos,
nem naus espaciais zanzando em meu beco.
Nem mesmo o carro-pipa que abastecia os baldes nos socorre,
pois se encontra no prego no quilômetro 15 da rodovia,
com o diferencial quebrado
e não se fabricam mais peças para sua manutenção...
Aí bebo água tônica comprada a preço de prata
e me banho no canal,
que um dia já foi um rio com nome indígena,
cuja pronúncia me foge à memória...

É 2011, como se fosse ontem...
um ontem tão distante
que insiste em não desaparecer,
com todos os seus resquícios
da “parte rudimentar” da história humana...

É 2011, igualzinho ao ontem,
o ontem tão distante
que não desapareceu,
com sua pobreza, seus males e fracassos...

É 2011, o mesmo que ontem,
que tanto mais mude, tanto mais cresça, tanto mais se modernize,
tão mais velho fica o ontem,
assim tão distante e tão presente.
E eu que tanto já ralhei, gritei, indignei...
continuo a ter amigdalite na garganta operada;
tempero de veneno o repolho, prevenindo a teníase;
respiro caltin para não morrer de dengue;
tomo resignado meus coquetéis de pílulas diários,
um para cada mal,
e vou ao templo todos os dias
louvar ao criador
pela graça de ver a aurora do novo ano,
que me nasce à minha imagem:
enrugado, esclerosado, demente, insano...



Raimundo Candido disse...
Acho que do lirismo de Cecília à poesia filosófica e trina de Pessoa neste poema há. Por sinal, acho que há é uma multidão de poetas que se reunirão na pena do profeta, digo vate Elias( dá no mesmo! ) para entusiasticamente louvar um ano que vai e outro que vem, assim na vida do Zé Porfírio ou de um jegue, que convenientemente tem o nome stalone, pelos velhos tempos do futuro antes que eles se acabem ( Espero que fique bom de sua amigdalite, bem antes! ) .Quinta-feira, 30 Dezembro, 2010

COELHO disse...
O Raimundo Candido acha que "Em Velhos Tempos do Futuro" há Cecília e há Pessoa...Discordo do Raimundo...Quem sou eu para discordar? Mas discordo assim mesmo... Neste poema só há o verbo dilacerante, às vezes impiedoso, deste artista de múltiplos talentos de quem tenho a honra de ser amigo...Salve, salve, grande Elias de França...Espero que nos encontremos antes que o mundo se acabe... Um grade abraço

Elias de França disse...
Muito obrigado Meu Caro Poeta, Raimundo Cândio, e meu caro parceiro de tantas lutas, Coelho. Embora num ensaio de opiniões contraditórias, ambos muito generosos para com este humilde aprendiz metido a poeta. Aprediz sim com os grandes, como Cecília e Pessoa, mas tambem aprediz, inclusive, com os amigos, como por exemplo: ao tempo em que o "natal era feito de belas palavras", "num arriscado balancete vivencial de verificação, nos versos do Raimundo, tirei a ideia de comprar a prazo e pendurar faturas para manter a vida no azul; e das tantas horas de dedicação aos debates e embates das lutas pro-humanidade, ter a coragem de contestar sempe que necessário, ainda que nos digam que é proibido, o que aprendi com o Coelho. Ter meus versos tortos comentados por tão brilhantes mentes, de um lado, o poeta e professor de ciencias exatas, do outro, grande humanista e mestre em economia (na economia util ao povo) é um grande privilégio e gratificante presente de ano novo!
Feliz tempo vindouros, velhos ou novos, vamos pra eles!
Grande Abraço!

terça-feira, 28 de dezembro de 2010

UM SARAU DE POESIA NO SERTÃO: SERÁ POSSÍVEL?



Por Elias de França



Um dia desses, um amigo me surpreendeu com uma informação inusitada: de que ouvira no rádio que eu seria homenageado num sarau em uma comunidade rural de um município vizinho.
A surpresa advinha de dois motivos: um deles, o gênero do evento: sarau, nome dado às rodas de declamação de poesia. Ao longo dos meus mais de 40 anos nesses Sertões, foi a primeira vez que me ocorreu saber de acontecimento desse tipo, pelo menos com amplitude publicada nos meios de comunicação locais. Na infância, era comum ouvir convite enterro, convite festa - no caso forrós, tocados por sanfoneiros da região, convite dança de São Gonçalo, reisados, cantorias de viola, festejos de santo padroeiro, novenas de Nossa Senhora de Fátima, vaquejadas, derrubadas de Judas... Mas nas últimas décadas, as alternativas de eventos se apresentam cada vez mais escassas, quase se resumindo às festas, agora tocadas por megabandas e anunciadas com meses de antecedência.
O outro motivo de estranheza era que eu não havia sido contactado a respeito, mistério esse que foi esclarecido dia seguinte, quando recebi em casa a diretora da Instituição promovente, Gracinha Ferro e o seu coordenador pedagógico, Francisco Antonio. De fato, tratava-se do I Sarau 2010, de realização da Escola de Ensino Fundamental 03 de dezembro, no Assentamento Vitória, na Zona Rural do Município de Ararendá, Região Centro-Oeste do Ceará.
No dia marcado, tomei a estrada, percorri algumas dezenas de quilômetros em asfalto, depois me embrenhei numa trilha estreita, de terreno arenoso, repleta de poças d’água, devido às chuvas da noite anterior, até avistar um caminho de luzes sequenciadas, que me permitiram concluir ser aquele o lugar. Estacionei junto ao muro da Escola, numa das poucas vagas restantes, dado o bom numero de picapes tipo pau-de-arara, microônibus, motos e bicicletas. Segui, enfim, entre boa gente que rondava a escola e ao adentrar o pátio do prédio está lá armado um palco, com estrutura de som montada, alem de uma passarela em forma de T, dessas onde se costumam realizar desfiles. A estrutura e o número de pessoas a prestigiar o acontecimento não deixava a desejar em relação às grandes festas realizadas nas comunidades.
Convidado a sentar em um bloco de cadeiras chamado pelos organizadores de “tribuna de honra”, juntamente com diversas autoridades municipais e regionais, pusemo-nos a contemplar o decorrer do evento. O mestre de cerimonial, vestido a caráter, passa então a anunciar as apresentações, já desde os cumprimentos iniciais, através de bem elaborado script, amplamente fundamentado, todo intercalado de citações de escritores, poetas e pensadores de todos os níveis e estilos. Os declamadores eram os próprios alunos da escola, desde a educação infantil até as séries finais. Todos, desde a menor criança até o mais adulto, demonstrando grande esforço, explicitado no cuidado de haverem memorizado todas as falas, inclusive, as informações biográficas dos autores escolhidos. As declamações dos poemas sempre eram precedidas das apresentações dos respectivos autores, enquanto uma criança desfilava a mostrar sua imagem física ampliada, traçada em grafite por retratista.
O verso soou noite a dentro por uma, duas horas, e nossas atenções ali a flechar aquele elevado. Não se viam abrimentos de boca, gestos de impaciência, ou esvaziamento de nenhum dos tantos sertanejos que ali se encontravam, a despeito de costumarem dormir e acordar cedo. Já pelas dez da noite, após o decurso da ultima apresentação, a palavra é facultada e me inscrevo. Pergunto-lhes que lugar seria aquele; digo que precisaria voltar ali, em um dia comum, para tentar sentir as dificuldades tantas que aquela gente deve ter, sejam necessidades de existência material, sejam demandas artístico-culturais, pois do contrario eu iria sair dali pensando que havia estado no paraíso da cidadania.
De meu trabalho, como um dos homenageados, o único presente em pessoa e um dos poucos ainda vivos, não tinha quase a dizer, posto que tanto já havia sido dito, boa parte pelo próprio fato. Ao fim, como se tamanha honra não bastasse, como se meu peito já não transbordasse, como se não estivéssemos repletos da poesia cantada por aqueles meninos e meninas, ainda ganhei minha caricatura de presente e tomei o caminho de volta, tecendo e desfiando reflexões.
Percorrendo aquelas trilhas, vou recobrando em mente o poder da educação, sua capacidade de produzir nos homens e mulheres, por eles mesmos, e por que não nas crianças, grandeza humana, intelectual e cultural; o poder do educador de fazer escolhas, conduzir pedagogicamente o processo de apropriação e interiorização dos domínios externos, distantes, abstratos, aparentemente inalcançáveis. Pois, quem haveria de imaginar que as letras de Cecília Meireles, Ruth Rocha, Eva Furnari, José Paulo Paes, Manoel Bandeira, Drummond, Vinícius... qual sementinhas trazidas de terras além viessem encontrar adubo no meio da Caatinga e vicejar em parelha com as nossas humildes invenções, com os nossos deuses sagrados como Patativa e Rachel de Queiroz?
E a passarela, não houve desfile? Houve sim. Foram eleitas as garotas poesia. Elas desfilaram com faixas contendo os nomes dos autores, aos efeitos sonoros de um DJ (Dijei, não sei se é assim que se escreve). Ao fim foram convidadas a responder por que ostentavam os nomes daqueles escritores, advertidas pelo mestre de cerimônia de que a beleza física é precária caso não se conjugue a beleza intelectual, cultural e espiritual.
Se aprendemos com Belchior, que “Nordeste é uma ficção, nordeste nunca houve” e que não somos “... do lugar dos esquecidos, da nação dos condenados, do sertão dos ofendidos”, Os meninos e meninas do Assentamento Vitoria bem que poderiam cantar com o mesmo autor “conheço o meu lugar” e por se desafiarem para dizerem que sabedores de sua sina de terra esquecida, tórrida e distante dos grandes centros urbanos, podem transformar a si próprios e a seu lugar num mundo melhor para se viver.





Teddy Williams disse...
Parabéns a todos por esse evento. Que outras comunidades realizem ações parecidas como essa e que possamos, juntos, criar uma Grande Ciranda Cultural divulgando atividades sócioculturais que acontecem nos sertões.Parabéns Elias de França, pelo texto e por sua vasta contribuição.Abraços!Teddy WilliamsCiranda das Coisas do Coração.
Quarta-feira, 29 Dezembro, 2010

Meh'ssias disse...
Realmente... um importante evento! PARABÉNS A TOD@S QUE ORGANIZARAM. Muito bom saber que existem lugares e comunidades que organizam prestigiam um evento como esse! PARABÉNS ELIAS! PARABÉNS Á ESCOLA QUE PROMOVEU ESTA ATIVIDADE!!!
Quinta-feira, 30 Dezembro, 2010

segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

AO POETA JOÃO BOSCO,

Meu Caro Poeta João Bosco,

Muito prazer em contatá-lo!

Gostaria de agradecer pelos acessos ao nosso blog, pelas boas impressões manifestadas e pela reflexão acerca da questão das Academias de Letras.

Sobre esse ultimo tema, trata-se de um assunto que tem motivado grandes debates e dividido largos segmentos da sociedade e até a classe dos escritores. Divide, inclusive, a nós aqui de Crateús: alguns bons cultores de letras de nossa terra, que possuem todos os méritos e talentos para compor conosco esta Arcádia, não o estão em face de possuírem restrições de princípios em relação às estruturas orgânicas e fins das academias de letras.

Respeitamos seus posicionamentos e prosseguimos tentando construir esse ente que, para nós, como você sugere, se emprenha na missão de “produzir, de se reunir, discutir e resenhar obras, sem o sentimento da egolatria e do egocentrismo, mas com o sadio desprendimento da solidariedade, do companheirismo".

Pensamos como você; não fizemos uma academia para nos sentirmos “imortais”; para nos vangloriarmos ou celebrar honras e comendas vazias. Pois que, como você e os colegas de letras ai de Francisco Santos, assim como em todos esses rincões tórridos nordestinos, sabemos que a literatura é uma semente rara de difícil cultivo e traquejo que requer, alem do solo fértil, da água tão rara nesse nosso chão, muito amor, compromisso e dedicação. Só temos alguma chance organizados, solidários e companheiros.

Assim, gostaria de nos por a disposição dos amigos aí dessas terras irmãs para maiores intercâmbios, inclusive mediante a troca de postagens, através dos nossos blogs. Nosso email institucional é
alcrateus@gmail.com.

Teremos todo o prazer de corroborar as letras dos amigos.
Abraço Fraternal e que a palavra talhada nos aproxime cada vez mais

Elias de França
Presidente da ALC

sábado, 25 de dezembro de 2010

Caros amigos.

Nosso blog, que por algum tempo pareceu tímido e quieto, agora começa a se movimentar, percorrendo diversas estradas, tendo chegado, inclusive, a outro Estado.

Quero compartilhar com vocês uma bela observação feita pelo poeta e escritor piauiense, João Bosco, no blog da cidade de Francisco Santos-PI, direcionada a todos nós da ALC:

"Prezadíssima Isis.

Através de teu último e-mail, pude "viajar" um pouco pelo blog da ALC, onde me deparei com péroloas como teu poema sobre o natal. Ligando uma coisa à outra, li, com satisfação, no blog de F. Santos, texo teu sobre o mesmo tema, cuja postagem eu havia sugerido.
A propósito do asusnto ACADEMIA, fez-me cócegas comentar conceito depreciativo externado por Fernando Jorge em seu livro ACADEMIA: Do Fardão e da Confusão: "A Casa de Machado de Assis é estéril como uma mula". Quem assim se expressa deve estar cheio de sentimentos malsãos, explindo em gotas de veneno frustrações e desgostos, quem sabe em razao de ali ainda não haver chegado. Acadêmicos da ALC, cuidem de produzir, de se reunir, duscutir e resenhar obras, sem o sentimento da egolatria e do egocentrismo, mas com o sadio desprendimento da solidariedade, do companheirismo e - sim - da sadia competição.
E tu, botão de múltiplas promessas, haverás de, em breve, desabrochar em buquês literários frutos conforme já prometes em teus poucos trablhos (divulgados), que não tardarão em aparecer compilados em livro, sonho maior de todo escritor.
Perdoem a extensão do comentário, pois muitas vezes a emoção me domina.
Saudações natalinas e a desiderata de que o ano novo traga para todos a realização dos nossos sonhos mais caros.
João Bosco da Silva"
(http://fcosantospi.blogspot.com/)

Cuidemos em divulgar nossa arte e compartilhá-la com todos que nutrem amor pelas letras, pois como brilhantemente observou o Sr. João Bosco, "quem escreve só para si, quando muito produz um prazer solitário e egoístico".

Isis Celiane.



João Bosco Disse...


Caríssima Isis,boa noite! Consegui abrir o blog da ALC, onde li muita coisa boa, produções deveras extraordinárias. Elias França: teu natal dos bichos, um primor; dá vontade de a gente, diante de tanta injustiça, desejar tornar-se animal irracional; Rogerlando: vermelho cor, vermelho ora ação, cor velmelha coração. Excelente. E o Raimundo Cândido, em cujo "verso fervilha (...)sanguínea esperança". Ótimo.E os demais? Dos outros falarei depois. Para isso é preciso que tu medigas como postar comentário do blog da ALC, pois não consegui encontrar janela para tal. Sim, e tu és fora de série. Avise para os confrades da ALC que estou com um blog exclusivo para divulgação de minhas produções inéditas. Para acessá-lo, basta digitar http//joaoboscodasilva.blogspot.com/
a
a
Elias de França disse...
Carissimo João Bosco,
Obrigado por acessar nosso blog e pelas considerações sobre nossos poemas e textos. Qual pães postos à mesa, versos e prosas, quando compartilhados em comunhão, terão sempre melhor sabor. Para continuar postando e comentando nosso blog, você pode seguir dois caminhos: 1)clica sobre "comentarios", icone que se encontra no final de cada matéria, aí abrir-se-á a janela com os comentarios ja postados e tambem para os novos comentarios. Então é só mandar brasa e soltar o verbo. Ou você pode postar seus textos no nosso email: alcrateus@gmail.com. Teremos muito prazer em publicá-los
Saudações Literárias e até breve!

quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

NATAL SEGUNDO OS BICHOS (Elias de França)

É alvorada. O Sol desenha o arrebol no horizonte rasgando as ultimas penumbras da noite. O bem-te-vi acorda, alonga as asas, vê o mundo iluminado com um brilho especial. É um raio eterno, intenso, sublime, profundo. E pia:
- Ele vem aiiiiiiiiiiiiiií!
O cancão, de lá da moita de mufumbo, põe-se a pular de galho em galho, olhando curioso em todos os cantos, a indagar:
- Quem-quem? Quem-quem?
O bezerrinho que acaba de nascer, enquanto tenta encontrar as tetas da mãe, berra de lá:
- um deeeeeeeeus! Deeeeeus!
Do galho mais alto, o pássaro gorgoró afia sua garganta para anunciar:
- agogogogogogogoooooora!
Então, o bem-te-vi emerge em voo, subindo céu-a-pino, e do alto azul, enxerga a revelação, gorjeia seu gozo em pleno ar, depois mergulha veloz em direção a sua estaca, enquanto o galo, no seu poleiro, bate as asas a gritar:
- Jesus Cristo nasceeeeeu! Jesus Cristo nasceeeeu!
A vaca, virando-se de súbito, balança seu chocalho a perguntar:
- Aooooonde! Aoooooooooonde!
Ao que a ovelha responde com seu berro trêmulo:
- Beleeeeem! Beleeem!
O bem-te-vi, de volta à estaca, saltita eufórico:
- bem que vi! Bem que disse! Bem que disse! Bem que disse!
A ninhada de pintinhos piam sem parar:
- viu? viu? viu? viu? viu? viu? viu? viu? viu? viu? viu? viu?
A rolinha fogo-apagou repete em sequência:
- Cristo chegou! Cristo chegou! Cristo chegou! Cristo chegou!...
O vem-vem decola animado do galho, em voo rasante sobre o pasto a convidar:
- vem ver! Vem ver! Vem ver!
O peru apressa a todos, arrastando suas asas no chão e gritando alto:
- logo! Logo! Logo! Logo!
-logo! Logo! Logo!
O bando de galinhas d’angola salta do poleiro a proclamar em coro:
- que fato! que fato! que fato! que fato! que fato! que fato! que fato! que fato! que fato!
O pato acompanha balançando o pescoço e apontando a direção com o bico a exclamar:
- de fato! De fato! Fato! Fato!
A lagartixa, pregada no tronco da árvore, tentando descer, vai concordando com tudo balançando a cabeça juntamente com o pato.
Cuspindo entusiasmo, o bode pai-de-chiqueiro bodeja de lá:
- bom bom bom bom bom bom!
E o gavião rapina concorda:
- si-iiimmm! si-iiimmm!
o cavalo, o burro e o jumento soltam suas risadas, as galinhas caem na gargalhada:
-rim rim rim rim hun!
-Hoooooonn Urrrr hoon urrr hon ur hon ur hon!
- cocococococo! cocococococo!
O sabiá, tomando de seu bico de caneta, passa a gorjear sua canção típica, composta exclusivamente para aquele momento especial:
- que bom
Quem bom é ser
Estar aqui pra crer e ver
Menino deus nascer, nascer!
O galo de capina, excelente imitador que é, não perde tempo e passa a fazer coro com o refrão do sabiá, enquanto toda a bicharada se espalha nas florestas, campos, terreiros e quintais para viver um novo dia de uma nova era, porque, enfim, o mundo,desde ali, ganhara um salvador, fonte do amor, da misericórdia e do perdão eterno.
E ainda que, um dia, os homens se esqueçam serem eles as criaturas com imagem e semelhança do criador, que as luzes de natal se apaguem, que o significado do nascimento do menino deus seja associado tão somente à ocasião ideal para vender, comprar e consumir modernidades, que a figura comercial do papai Noel tome o lugar do cristo, enquanto houver alvorada e os animais enxergarem os raios do sol, haverá natal na voz dos bichos e nos corações iluminados. Pois que eles testemunharam, eles haverão de rememorar em todas as manhãs de todos os dias, enquanto houver tempo e vida na Terra.


Raimundo Cândido disse...
Excelente texto onomatopéico com uma mensagem "divina". O Thalles ( meu filho) vibrou com a leitura que fiz para ele!Valeu poeta!Sexta-feira, 24 Dezembro, 2010

SABi CRATEÚS disse...
É sempre gostoso demais ouvir suas histórias de contador sertenejo, raízes plantadas em nosso chão... é uma felicidade! É um prazer que nos motiva e orgulha. Parabéns pelo texto. Haveremos de contá-lo muitas e muitas vezes em nossos encontros de amor à arte, em rodas de criança e alegria, sempre celebrando a esperança de um mundo melhor.
Lourival
Sexta-feira, 24 Dezembro, 2010
Elias disse...
Honra-me e alegra a sorte de pertencer a um grupo tão talentoso de homens e mulheres, amantes das artes e da vida. Nossa essencia animal e sertaneja encontra morada certa no que somos enquanto meio, este ser meio entre vocês. Obrigado por fazerem as letras de nossa gente, lerem e promoverem a leitura!

terça-feira, 21 de dezembro de 2010

Natal (Isis Celiane)


Nas casas onde as luzes não brilham
Sem enfeites ou mesa farta
Há lá no canto do quarto dos sonhos
Um menino a escrever uma carta

Desenha compassadamente as letrinhas
Confusas linhas de uma clara esperança
Não é brinquedo que deseja o menino
Não há qualquer devaneio de criança

Tudo que pede a esse desconhecido velhinho
É que venha depressa e chegue ligeiro
Trazendo no grande saco das ilusões
Comida que o alimente o ano inteiro

E vai para a janela o menino
Dia após dia, sozinho esperando
E na solidão de sua espera amarga
O tempo sem trégua vai passando

Até que apagam-se as luzes e calam-se os sinos
Tudo agora volta ao normal
E o menino recolhe-se ao canto dos sonhos
À espera solitária de mais um Natal.

Elias de França disse...
Lindo, poeta! Essa me tocou bastante. Desmascara a ilusão de que a esperança é auto-aplicável e resolve a vida por si mesma. Nada contra quem aproveita os festejos natalinos para encher a paisagem de luzinhas, musiquinhas com tons tilintantes, cores, cartões de mensagens... Tais ações até podem semear esperanças, mas comida, bebida, diversão, arte... amor, tantas outras necessidades humanas precisam ter materialidade tambem na realidade concreta e não apenas na fantasia. O proprio sentido da vida fundado na ilusão é meio que um sentido sem sentido. Parabens e obrigado por nos lembrar que toda a ostentação apelativa em torno do natal não é bastante para chegar no cantinho das casas dos mais pobres.
E quanto ao estilo? Delicioso! Você acaba de nos apresentar um poema a la Bandeira!
Isis Celiane disse...
Obrigada, Elias, pela bela observação sobre o que escrevi. Percebo que os poetas são poetas em todas as situações, tranformam em poesia tudo que falam. Parabéns!Abraços...

segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

SER SEM SE RESSENTIR (Rogerlando Gomes)

No natal tudo que é humano se maravilha
e transborda todo ser - a humanidade brilha.

Brilha enfeite, presente, brilha, brilha ceia.
Brilha se excede se cede à bebida
e se inebria amor ou ressentimento - se extravase vida.

Os indiferentes também brilham transbordante humanidade
- Mesmos as mais frias e as mais ascetas pupilas cintilam.

O asfalto nos cintila e nós faróis, nós aros, nós prédios
cintilamos muitíssimo mais nos egoísmos e nos assédios
comerciais e de amor, ande pela 25 de Março, desfile na 5ª avenida
ore a Alá, vista burca e na China o vermelho
não seja das vestes do bom Noel, mesmo assim
desnude o cruel da existência oprimida
onde mais se suprima a liberdade de se rir de si mesmo,
sem, contudo, abolir o ridículo - o mal intenta elidir o bem
tornando o humor macabro também,
mas o riso não se contrita e, mesmo se atrita, vem à esmo
- O humano, a sucumbir, cintila e rir e o riso ilumina,
sem disfarce, a face da humanidade que a mais mínima faísca, me fascina:
a China não deixará o vermelho, a atingirá, Liu, o global vermelho humano.
E até a Coréia do Norte sairá do vermelho... que elimina
para o vermelho que de humanidade se contamina
que o globo ainda é a única esfera do universo que cintila
vida - e nutre a impar espécie, única ciente que cria, e aniquila.

O Natal, então, como o bem e o mal não é capital, capital à existência
humana é a liberdade de cintilar humanidade - e independência.

Que qualquer ato - acordar, rir, um beijo...um soco -, pois, nos seja vermelho.
Vermelho cor, vermelho ora ação cora vermelho coração.
E a humanidade tenha suas mãos por seu mais caro aparelho
De toque e de plantar, colher, fazer e todas as manhãs se dividir em pão
Em bebida, em riso e amor, mesmo o de intrigante rivalidade
Para que a gente, humanidade, não se ressinta de humanidade.



Um homem de várias facetas. Isso se pode falar, sem medo de errar, de ROGERLANDO GOMES CAVALCANTE. Todas elas voltadas para a produção artística . Com efeito, é na charge, no cordel e na combinação criada por ele dos dois (convenientemente denominada charge/cordel) que Rogerlando acentua mais o espírito criativo e crítico. Mas também há espaço para o desenho, para o ensaio, para a música e até para as histórias em quadrinhos nessa salada. Não por acaso, ele é um dos compositores do hino de sua cidade, Independência, localizada no Vale de Crateús, a 310 quilômetro de Fortaleza. (...) Thiago Barros –especial para O POVO. VISITE O BLOG DO PEQUENO: http://www.rogerlando.com/CHÃO INAUGURAL -2009, obra de estreia. O próximo livro, A MÁQUINA DO MUNDO, está no prelo.

quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

RAIMUNDO CÂNDIDO ESTÁ ENTRE OS AGRACIADOS COM O XIII PRÊMIO IDEAL DE LITERATURA, QUE HOMENAGEIA RAQUEL DE QUEIROZ



Companheiros de Academia:

Tinha dito que estava impossibilitado de participar de nossa reunião de dezembro, mas não tinha falado o motivo. Como agora está confirmado, esclareço: Estou na Seleção do XIII Prêmio Ideal Clube de Literatura, Prêmio Raquel de Queiroz.É um livro de conto e estou entre os 40 selecionados, o convite veio pelo correio, por email( abaixo) e por telefone, fechando o ano com um preminho que num é nada ruim!
Um abraço a todos!

Raimundo Cândido

Em 14 de dezembro de 2010 17:18, ana costa escreveu:

Boa tarde!


Prezados Senhores,
desde já desejo muito BOA SORTE a todos.

Senhores, o Prêmio ideal Clube de Literatura foi antecipado para o mês de Dezembro de 2010.
Estou lhes comunicando caso o Convite ainda não tenha chegado em suas residências, pois os mesmos já foram postados.


Detalhes:

O Prêmio acontecerá no dia 16 de Dezembro (Quinta-feira) de 2010.
Local: Salão Nobre
Horário: 20horas
Traje: Esporte Fino



Mais informações: (85) 3248-5688.

Atenciosamente,
Caroline Gadelha.

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Caro Raimundinho:

Enche-nos de júbilo saber da sua caminhada evolutiva. És um testemunho vivo da brisa criativa espargida pela nossa Academia.

Confrades: mirem-se no exemplo desse Raimundo, Cândido no esmero do trato com os fonemas da fecundação.

Encerras o ano com o prêmio Ideal, que celebra uma das mais poderosas fêmeas da literatura nacional: Raquel de Queiroz!

Parabéns, poeta! De um canto da "goela" do Rio Poty fazes o conto, brinda-nos com o canto e revelas o encanto do telurismo sertanejo!

Na Paz,

Júnior Bonfim

segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

EDITAL DE CONVOCAÇÃO

Pelo presente edital, ficam os 22 membros efetivos da Academia de Letras de Crateus - ALC convocados, na forma do Artigo 15 e 24, inciso IV, do seu Estatuto, para Assembléia Geral Extraordinária a realizar-se no dia 18 de dezembro de 2010, às 16:00h, em primeira convocação, com a maioria absoluta dos seus membros, ou às 16:30h, com qualquer numero de presentes, na Sede da Entidade, à Rua do Instituto Santa Inês, n° 231, em Crateús, tendo como pauta os seguintes assuntos: 1) apresentação de contas; 2) definição de perspectivas, expectativas e estratégias de ação para o ano 2011; 3)verificação de etapas da publicação da 1° coletânea da ALC; 4) apreciação de Edital para ingresso de novos membros efetivos; 5) balanço de uso da Sede; 6) outros assuntos do interesse e pertinentes à ALC.


Crateús, 13 de dezembro de 2010


ANTONIO ELIAS DE FRANÇA
Presidente

sábado, 4 de dezembro de 2010

OBAAA!! VAI TER LANÇAMENTO DE LIVRO INFANTIL

A autora é Penélope, 9 aninhos!




O livro: Procurando Max, o cavalinho e outras histórias
e
e
O Ilustrador (desenhista) é Miguel de Paula



dia 8 de dezembro, às 19 horas,

no restaurante Ouro Verde


VAMOS LÁ, GALERINHA!!
Vai ser muito legal!!!!

quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

JERI


Guiada por uma trilha sem sinal,
Atravessamos a ponte para magia;
Do outro lado um lugar especial,
Aguardava ansioso a nossa alegria.

Deixamos a areia contar nossos passos,
Subimos em busca da celeste atração;
Guardei meu amor nos braços
E, ao pôr do sol, fizemos nossa saudação.

Na diferença de tantas faces,
Vi o mundo ao encontro da natureza;
A noite, sem as luzes do disfarce,
Mostou na penumbra sua beleza.

De uma lua por estrelas enfeitadas;
Da paz entrelaçando os corações;
De ruas com artes nas calçadas;
De um vento que ecoa os violões.

Para mergulhar na luz do amanhecer
Em lagoas de águas azuladas;
Para ver o sol à tarde se esconder
Atrás de uma pedra furada.

Imprimir Jericoacoara na memória
É como sonhar de olhos abertos
E deixar registrado na nossa história
A viagem a um paraíso descoberto.

(Silvia Régia Lopes Melo).

Raimundo Candido disse...
O Blog da academia está cada vez mais sortido e rico!Parabéns para nós!

terça-feira, 30 de novembro de 2010

MEU PRIMEIRO AMOR (Elias de França)

Tenho um segredo sobre minha professora do primário.
Ela foi os primeiros cabelos lisos a entrelaçarem minhas fantasias...
Os primeiros ombros morenos expostos que enxerguei,
a costa nua que inaugurou minha virilidade.
Um ralho seu valia um verso...
Quantas vezes, beliscava colegas,
à espera de ter seus dedos longos cravados na minha orelha!
Contava, um a um, os minutos das tardes;
à noite, ninava sonhos
e acreditava na manhã seguinte,
no reencontro com a professora.
Ainda hoje, me apanho a olhar ossos da clavícula,
palmados na pele de moças anônimas,
como que a tocar o corpo da tia...
As músicas da época ainda cantam seu olhar.
Gosto mais, nos novos amores,
dos traços iguais aos da professora.



Raimundo Cândido disse...
Nas suas traquinices carregadas de malícias corria-se o risco de um ralho mas gerou-se um verso... e valeu a pena!

segunda-feira, 29 de novembro de 2010

Amores

Tenho a leve impressão de que os poetas de hoje
Carregam dores moderadas
Amores conformados
Sentimentos sem sentimentos
Escassez de versos: poesia em crise!

É, já não se ama como Vinícius
Muito menos como Jobim
Não se chora como Marias e Clarices - coisa de Elis
O exagero de roubar mil flores,
Só mesmo o de Cazuza
Ser capaz de perder o medo da chuva
Como um maluco beleza
Ter a paciência de esperar o segundo sol,
Ninguém melhor que Nando Reis
Mas o que mais desejo é carregar
A força e a coragem de Gonzaguinha
Pra começar tudo - sempre - outra vez
Eterno recomeço, "... nada foi em vão"

Nêga

domingo, 28 de novembro de 2010

ESCRITOR (Isis Celiane)

Mesmo quando o sol esquecer de sair
E às manhãs não vir a aurora
Mesmo quando tudo for nostalgia
Estaremos como agora
Mesmo que a lua perca seu brilho
E as estrelas se tornem frígidas
Mesmo que o frio nos faça tremer
Estaremos como agora
E não adiaremos para outra hora
O momento de escrever
Mesmo que nos faltem paisagens belas
E não tenha verão nem primavera
Estaremos como agora
E tudo é como era
Mesmo que o tempo passe
E a velhice venha nos tomar
De cabelos brancos e mãos trêmulas
Estaremos como agora
Mesmo que o nosso lugar se torne pequeno
E o nosso peito fique sereno
Estaremos como agora
E não adiaremos para outra hora
O momento de escrever
Mesmo que sejamos imperceptíveis
E os nossos versos ilegíveis
Estaremos como agora
Mesmo quando chegar nossa hora
E nossa alma tiver de ir embora
Estaremos como agora
Mesmo que já tenhamos partido
Se o céu nos for permitido
Entraremos como agora
E não adiaremos para outra hora
O momento de escrever!

terça-feira, 23 de novembro de 2010

O QUADRO DA SALA



Vinte anos afastado de sua criação,
Como um barco à deriva pela vida,
E as cores pedindo ajuda as suas mãos
Para darem formas as novas margaridas.

Então, pela cidade de Paraty, sentiu-se atraído
Como se aquele lugar fosse sua aquarela
Ao chegar, por um pássaro vermelho foi recebido
Quando abriu para o mundo sua janela.

Mas gente sempre foi sua verdadeira paixão
E os quadros foram chegando com rostos e cores,
Pintados sobre a lona de um caminhão,
Que de suas viagens traz remendos e amores.

Histórias foram completando seu ateliê e galeria,
Enquanto suas telas traçavam as rotas do mundo,
Mas no Rio de Janeiro existia uma sala ainda vazia
Em que um casal aguardava um quadro profundo.

Este em busca de uma arte que tocasse o seu ser
Até que um intenso azul iluminou suas retinas.
Nascendo nele, o ávido desejo de conhecer
O criador da pureza das duas belas meninas.

Os pincéis com suavidade traçaram linhas convergentes
E as vidas dos três se cruzaram na “Veneza Brasileira”,
Pois a arte que por sublimidade é atraente
Constrói entre as pessoas uma relação verdadeira.

Depois de apreciarem tanta beleza,
Em uma tarde, em tão agradável companhia,
O Casal sentiu no âmago a certeza
De que sua sala clamava por aquela alegria.

Então, foram surpreendidos pela nobreza do pintor
Que lhe propôs criar um quadro com seu gosto
E nas noites seguintes, a moça sonhou com a cor
Que daria vida a tela e cada rosto.

Já no aniversário dela, como se por magia,
Duas jovens de sombrinhas em tons vibrantes
Preencheram de encanto a sua sala vazia,
Tornando inesquecível cada instante.


(Silvia Régia Lopes Melo)


Elias de França disse...
Que belo poema, poetisa!
Como que pintando uma historia de vida, os versos vão pincelando as imagens de distâncias findas em doces reencontros, longas idas em coloridos chegares, saudades perdidas reachadas em novas invenções... pintada assim, então, a vida parece tela em aquarela!

Raimundo Candido disse...
Qur bom ter novamente a Silvia Régia por aqui, e agora bem mais colorida! Muito bom!

Isis Celiane disse...
Gostei muito! Versos doces e serenos como sua criadora. Parabéns, Dra. Sílvia!

Silvia Melo disse...
As palavras dos colegas: Elias, Raimundinho e Celiane seguiram em linha reta rumo ao meu coração.Obrigada pelo carinho!Silvia Melo.

sábado, 20 de novembro de 2010

INQUIETAÇÃO (Elias de França)

Quanta vontade de fazer algo,
algo que sirva para alegrar.
Não é cantar, não é dançar,
não é correr, nem é parar.
Não é brincar, nem é brigar;
é uma vontade de fazer algo,
algo que sirva para alegrar.

Viver não serve; morrer, pior.
Tenho vontade de provocar um sono intenso,
não fosse dia de trabalhar.
Eta vontade!
Eta ansiedade!

Beber é ruim,
mas ficar lúcido me faz cismar:
serei só eu quem sente isso?
Essa vontade de novidade?

Estando em casa, quero o trabalho.
Vou trabalhando, me atrapalhando,
sempre pensando que estou cansando,
envelhecendo sem estar vivendo...
Um velho dirá que encontrou vida
nas margaridas, nas carraspanas,
na boemia, na fantasia...
E eu, poesia?!
De um baile a outro,
tanto me enfado que fico inchado,
sempre pensando que estou cansando,
envelhecendo sem estar vivendo...
Ah! Que vontade de novidade!

eliasdefranca@hotmail.com

RAIMUNDO CÂNDIDO DISSE:

Poeta Elias acho que já senti essa inquietação e tenho a impressão que é poesia borbotando das entranhas! Um abraço!
Raimundo Candido

ELIAS DISSE:
Fico aliviado em saber que "nao sou so eu quem sente isso, essa vontade de novidade"
E que mais poesia no sangue nos inquiete sempre
abraço

quarta-feira, 17 de novembro de 2010

VIVENDO...

Da idéia fiz a arte
Da oportunidade a ocasião
Da palavra fiz a chave
Do sentimento a poesia
Fiz amigos inesquecíveis
Outros que se esqueceram
Fiz projetos “absurdos”
Alguns já realizei
Fiz do medo a coragem
E da coragem a ousadia
Do risco fiz a chance
Do abismo um alerta
Fiz das pedras obra prima
Dos desvios, novos caminhos
Fiz da vontade o que pude
E agora o que posso fazer?
Da interrogação alguns pontos
Três pontos infinitos para viver
...
Isis Celiane

quinta-feira, 4 de novembro de 2010

Ofícios e banhos no Poty


.........Ainda jorram impetuosas, aquelas águas barrentas de minha infância. Corre sobre minha pele um Poty translúcido e equídeo escramuçando entre rochas, com crinas ao vento nas tardes bucólicas. Creio que me tornei rio para fluir livremente desde o primeiro e delirante mergulho.
.......Era como sentir a quinta sinfonia beethoveniana que ia aumentando em vigor, suas notas aquosamente sonoras à medida que nos afoitávamos na sua nervosa correnteza. Para mim só houve segurança enquanto não aprendi a nadar. O pé ficava ancorado ao chão pelo medo de enfrentar a perigosa aventura das corredeiras da “Goela”. Sequer tinha aprendido a boiar como um cãozinho sobre uma porção liquescida e tranquila e já me achava destemido, com ânimo para enfrentar as águas que corriam céleres levando com selvageria a vida e a morte no percurso de rio que sabe ser fiel ao seu destino marítimo. O mar seria bem menor se faltasse uma só gota do Poty.
.........Posso dizer, com imensa satisfação e uma deliciosa nostalgia, que meus banhos no rio da caatinga brejeira foram inesquecíveis. Incomum era esperar pelo desfecho de janeiro, quando se firmam as temporadas de chuvas, para sabermos se o nosso amigo fluvial serpentearia ao nosso encontro repleto de algazarras, de prazerosos momentos em suas jubilosas margens.
........O mais importante daquele entardecer impetuoso, em meio ao caos da multidão irrequieta e dos riscos do volumoso rio com suas águas revoltas e turvas, a rodopiar os sonhos e os medos para a profundeza lamacenta de seu bojo, era o assombro que se estampara em nosso olhar, ao ver sendo arrastado de arrojo um atônito e pesado boi com seus olhos marejando um adeus como se um tronco lenhoso fosse, um troço qualquer. A felicidade também havia e rolava de nossos corações fluvio-sanguíneos por pressentirmos que a infância se salvaria nas brincadeiras salutares na beira do rio, pois o melhor antídoto para salvaguardar a meninice foi e sempre será, brincar.
.........Mas, às vezes, o Poty não estava para brincadeiras. Chegava como um cão raivoso para tomar posse de seu lugar. E lá estavam nossos familiares com os cacarecos na cabeça procurando mudança. Quando vinha nos seduzir em nossos quintais, víamos apreensão estampada nos olhos por mais uma ameaça de desocupação compulsória do que não era nosso, e esperávamos mais uma ordem de despejo. Ainda assim, nunca faltou motivo para nossos banhos.
........Vez por outra o Poty tem perda parcial de memória e esquece-se de voltar. Mas suas amnésias temporárias nunca prejudicaram a imersão fluente de nossas tardes. Ficavam os poços como que nos aguardando para substituí-lo. O Poço da Roça tinha um ar de mistério e de lenda no seu grande anfiteatro aquático de alta mata ciliar. Era nossa piscina olímpica, onde exercitávamos natação e a expectativa de sermos felizes sem ter consciência disso. Ali desenvolvíamos um particular amadurecimento quando a ingenuidade sucumbia à admiração de espiar as lavadeiras tais quais libélulas ensaboando roupas com uma naturalidade original de seus corpos seminus em linhas sinuosas, como as curvas do rio, para nosso deleite.
.........Lá, onde há a pedra da Mãe d’água, aprende-se a nadar. Tínhamos que passar por essa prova de coragem. Era nossa iniciação, para o conhecimento de coisas misteriosas e difíceis. Um enfrentamento ao submundo da escuridão para adquirir um oficio ou arte, nadar. Arrisquei por tentativas inúmeras, de elevado desespero, chegando ao ponto de sentir a mão fria e escamosa da Iara me puxando para seu reino de medo e lama, mas uma força mística dos céus ou da terra, ou um travesso duende, não sei, me fez voltar ao mundo dos vivos.
..........O Poty, como velho fênix que constantemente renasce de si ondulando como cobra em fluxo sonoro, um dia fixou um povoamento no mesmo espaço de terra onde outrora uma tribo rústica de nome Karatis da cor do mufumbo, ululava aos céus em danças de caça e pesca. O rio que avançava impetuoso, rouco, se contorcia, pulava e ria com sua graça meninil, ficou para trás.
.........Hoje, sentado à margem de seu doloroso curso, não vejo o sangue puro e plasmático, que nutria com hemácias e seiva o chão ávido e sedento. Não sinto o rio que vertia um sangue como no Nilo bíblico, cheiro forte e venoso quando eu o bebia... Hoje, à margem do Poty, com uma nostalgia profunda, eu me sentei e chorei... Sinto que ele escorreu pelas minhas mãos.
Raimundo Candido

quinta-feira, 28 de outubro de 2010

Elias de França Disse:

Belíssima crônica, Poeta!
Como um dos que vingou no entremeio da palmatória à psicopedagogia atual, posto que, ao meu tempo, a primeira ainda existia, mas a legislação já a proibia... e para quem, ao menos de longe, como adorno do birou da mestra, conheceu a "Maria Bonita", as suas letras soam tão mais saudosas que traumáticas. A questão levantada por você tambem acerca do debate entre as tendências pedagógicas tradicional e conteporânea tambem é bastante oportuna: tambem sinto que nem a palmatória e as surras que levamos nos causaram tantos traumas como assim o atribuem hoje, como tambem é factível um melindre psícológico exagerado presente nas atitudes educativas dos dias presentes. Talvez isso se deva ao processo dialético: tese (a porrada), antítese (o melindre). Cabe nos construir a síntese. Parabens pela Crônica.

chico pascoal disse...
Meu caro Raimundo, que beleza de crônica! Parabéns!Lembrei do único ano em que estudei na antiga escola da Dona Delite e, travesso que era, inevitavelmente provei da "grande disciplinadora"; e, pasme, até senti saudades.um abraço
Chico Pascoal
Sexta-feira, 29 Outubro, 2010

Palmatória

O Livro era volumoso para o tamanho diminuto do menino magricelo e ingênuo, também para a minha época de coisas escassas. O tempo achava-se carente de tudo, havia mínguas no ar e não se via à farta facilidade que se apresenta nos dias de hoje.
Acabara de deixar a terceira série, por meu brio estudantil. Pulava-se para a quinta série como um prêmio pelo esforço de aprender a aprender e de ser um dos primeiros da turma. Nunca mais no resto de meus dias tive esse avanço tão justo e tão estimulador. Título de meu alfarrábio: Programa de Admissão e ainda vinha carimbado na capa com a palavra “NOVO” escrita na diagonal.
Naquele dia, a lição de português era “Uma Tarde no Campo” de Érico Veríssimo que dizia de um vento fresco com cheiro de campo e de distância. O primeiro exercício pedia para dar o sinônimo das palavras: rutilante e cintilação. Na folha anterior havia o Vocabulário, era só olhar e ler e nunca mais esquecer tão belas palavras. Acho que realmente brilhei enquanto pude, resplandeci com o texto de Veríssimo até não poder mais, porque depois me veio um apagão. Se tremeluzi foi pelas faíscas que chegavam a sair da barra da Maria Bonita!
Foi assim: nas Capitanias Hereditárias, eu dormi no ponto! Como de costume colocava uma cadeira voltada para a parede, para não ter desvio de atenção, mas a desatenção habitava em mim. Não sei por que se inventou a bola, redondinha como o planeta, mas que seduzia meus pés e os meus indolentes neurônios a ponto de não pensar noutra coisa a não ser sonhar. Imaginava que um dia iria ser jogador de futebol. Só eu não via a falta de habilidade e de talento para tal artimanha, mas sonhava. Fiz gols que nem Pelé ousaria, driblei zagueiros que ficaram mais zonzos que os “Joões” a quem Garrinha driblava. Cheguei a ler, sim, o sistema de capitanias, a de São Vicente, a de Pernambuco e as dificuldades do regime. Li e reli tentando fixar em minha mente esvoaçada aquela confusa lição.
Em volta da mesa as perguntas caminhavam. A minha vinha chegando e com ela uma angústia, uma agonia que acabei me acostumando no transcorrer de minha vida. A aflição é um dos motivos que trava a vontade da gente. Descobrir isso aos pouco e dolorosamente! Mas sempre se aprende, por dor ou alegria.
- Quais foram as principais causas que impediram o progresso das capitanias?
Silêncio no ar. Não havia resposta, pois as palavras não passavam por uma garganta onde estava dado um nó. Novamente a pergunta. Novamente o ar silencioso de um indivíduo taciturno e atônito por aquele momento de aperto.
_ A pergunta é sua, meu Doutor! Responda! Inquiria-me a mestra. Não ouve resposta, porque eu não sabia. Ali, provei mais uma vez, da dura reputação da Maria Bonita.
Recordo destes momentos com alegria, como algo de bom de meu passado escolar e não como um estorvo marcando a minha trajetória. Quem passou pela palmatória e foi pelo menos um estudante mediano, a recorda com carinho, e não como embaraço. Foi à disciplina que torceu o pepino desde menino e não deve ser esquecida.
Se você nunca levou um bolo, um castigo de palmatória, mesmo de leve, saiba que ela emite chispas metálicas fosforescentes sempre que entra em contato com a palma da mão, tentando arrancar os saberes pelos poros e eliminar as ilusões que afloram em nosso céu tornando a dar asas às palavras que ficaram presas num chão de chumbo.
Não vou entrar no mérito se a palmatória foi um erro ou um acerto ou sobre seu valor como instrumento pedagógico. Nem quero resgatar rigor do autoritarismo da educação tradicional.
Estou recordando, saudosamente, a pedagogia da palmatória que fez parte de uma época aqui, na Europa ou no Japão e tenho convicção que ela educou sim.
Vivemos numa época de crise de paradigmas, inclusive no campo da educação. Os pais, em sua maioria, não educam e esperam que os colégios e os professores assumam essa digna e difícil missão. E ambas as estruturas, quase sempre, caem em armadinhas que geram falhas educativas. Educar sem traumas, sem castigos e punições requer uma arte e uma nova ética que poucos ainda dominam com eficiência, lamentavelmente.
Pressinto que algo tem que mudar urgentemente, para acabar com tanto fingimento. Os estudantes não têm mais o que se preocupar: eles fingem que aprendem, os professores fingem que ensinam, a escola finge que vai reprová-los, as faculdades fingem que fazem um vestibular e novamente os alunos fingem que estudam, a sociedade finge que os aceita. E eu fico, aqui, recordando da Maria Bonita que fez parte de meu amadurecimento como ser humano e nem estou tão traumatizado assim.
Raimundo Candido.

segunda-feira, 18 de outubro de 2010

EDITAL DE CONVOCAÇÃO N° 02 PARA REUNIÃO ORDINÁRIA DA ALC

Pelo presente edital, ficam convocados os 22 membros efetivos da ACADEMIA DE LETRAS DE CRATEÙS -ALC a comparecerem a reunião bimestral ordinária da Entidade a realizar-se no dia 23 de outubro de 2010, às 16 horas, em primeira convocação, ou às 16:30h, em segunda convoção, na Sede da Entidade, Rua do Instituto Santa Inês, 231 - Centro - Crateús, onde será discutida a seguinte pauta: 1) leitura e aprovação de ata da reunião anterior; 2) informes gerais sobre decisões e encaminhamentos pendentes; 3) discussão da situação financeira da ALC diante do aluguel da Sede; 4) providências acerca do ingresso de novos socios efetivos; 5) organização de materiais e equipe para publicaçao da primeira coletânea da ALC; 6) outros assuntos de interesse da Entidade. Na mesma data, a ALC, em parceria com a SABi, realizará programação alusiva a inauguração da nossa Sede, nos períodos da manhã e noite, para a qual todos socios e familiares são convidados.
Crateús, 18 de outubro de 2010
A Diretoria

quinta-feira, 30 de setembro de 2010

UM PALHAÇO NO PARLAMENTO

É quase certo que no dia três de outubro os eleitores do estado de São Paulo elegerão um palhaço, literalmente, para ocupar uma cadeira na Câmara dos Deputados, em Brasília. Lá deverá defender os interesses do povo, muito embora o próprio candidato, como ele mesmo afirmou em sua propaganda eleitoral, reconheça desconhecer as atribuições de um parlamentar.
Cogitado como o candidato mais votado de São Paulo, o palhaço Tiririca, cearense, natural da cidade de Itapipoca, vem incomodando os veteranos da política, que, sob o argumento de que sua campanha "afronta à democracia e ridiculariza o parlamento", tentam barrar na Justiça seu direito de concorrer a um mandato eletivo. A Justiça, entretanto, sob o mesmo pálio da democracia, mantém o palhaço firme em sua disputa.
Ora, Tiririca não é uma afronta à democracia, tampouco ridiculariza mais o parlamento do que alguns que nele estão ou que nele pretendem estar. Tiririca é sim uma manifestação escancarada do cenário político brasileiro, caracterizado e assumido: é um palhaço. O que incomoda no candidato é a ousadia de mostrar-se caracterizado, de vestir-se como palhaço, de falar como palhaço, de fazer campanha agindo como palhaço. Tais circunstâncias não o tornam mais desrespeitoso com a população brasileira do que outros candidatos, mas certamente causam mais vergonha alheia.
Tiririca, que em suas propagandas eleitorais limitou-se a fazer piadas e trocadilhos com a eleição sem apresentar uma única proposta sequer, tem tudo para ser o candidato mais votado no estado mais populoso do Brasil. Significa claramente que uma parcela grande deste País desacredita que os representantes do povo possam de fato fazer alguma coisa para dirimir ou diminuir as mazelas sociais, e votam naquele que é mais famoso, mais bonito ou mais engraçado. Significa ainda que a educação não cumpre seu papel de educar e conscientizar, ela simplesmente prepara os indivíduos para permanecerem inertes ao sistema, que obedece a uma lógica absurda e desumana.
Ocupando uma cadeira na Câmara dos Deputados, Tiririca representará uma ferida aberta na honra de todos aqueles que terão que deparar-se constantemente com sua imagem refletida na face caracterizada do palhaço.

Isis Celiane.

terça-feira, 28 de setembro de 2010

LAGO DE FRONTEIRA

As águas barrentas do Poty, quando as bênçãos dos céus lhes deixam existir, corroem voluptuosamente as íngremes margens areentas que logo se dissolvem e revelam as raízes sinuosas das oiticicas, dos melancólicos marmeleiros que nunca pensaram em perecer no meio desta abundante e fluvial corrente.
Lá na frente o rio enlanguesce, nos baixios. É pelo refluxo de suas águas que se deposita o sumo lodoso e rico como no Nilo bíblico: uma dádiva por uma inundação.
Mas por aqui sempre foi assim, uma terra bravia que só se apazigua quando o vigor sanguíneo do Poty lhe sacia os desejos nas entranhas, quando um vento brando lhe vem varrer a aparência esquálida amenizando uma latência desértica que sempre aflora desta sequidão .
Enquanto em sua calha atulhada só existir vento poeirento a correr fará com que os velhos mandacarus, espantalhos redivivos, como Cristos de braços abertos, lembrem promessas não realizadas por quem nunca teve intenção de cumpri-las, nem o cará aplacará a fome ao teiú e nem o carcará, com olhos de lince, encontrará alento em tanto galho seco e solidão.
Meu olhar, mesmo os olhos de muitos, sonha (Por quanto tempo, meu Deus, sonhará?) com o dia da redenção, como uma vez almejou um bardo chamado Demócrito para o seu impetuoso Jaguaribe que se esvaía ao mar. Depois de inumeráveis rogos e outras tantas súplicas aos céus, veio uma pinça hemostática salvando todo plasma, toda hemoglobina das sístoles dos invernos que não mais se foi perder no largo apetite oceânico.
Disseram uma vez que a esperança não é um sonho, mas uma maneira de traduzir os sonhos em realidade. Por isso espero, isto é, esperamos.... Sim, um coágulo de rocha é a nossa esperança antes de mais um desespero de quem gira e gira, como o surrado mundo, caindo sempre no mesmo cenário de desolação e tristeza. Que venha uma titânica represa como uma mão salvadora para estancar a milenar hemorragia do Poty, fechar o golpe na jugular da montanhosa garganta por onde escoa todo nosso abençoado líquido que representa vida e veremos que irá se comprovar o grande milagre da Saga Euclidiana no Sertão de Crateús, o intermitente poty se desdobrando num vasto mar e todas as ilusões que nos foram dadas em cem anos de promessas vãs se realizarem em um segundo... Amém!
Raimundo Candido

quinta-feira, 16 de setembro de 2010

LANÇAMENTO DE LIVRO - "UM JARDIM CHAMADO NOIA" ROMANCE

A academia de Letras de Crateús
convida todos para o lançamento do livro "Um Jardim Chamado Noia", Romance do Escritor Deribaldo Santos, que se realizará no Quintal com Arte do Sindicato dos Professores, nesta sexta, 17 de setembro, às 19:00 horas.


Um Jardim Chamado Noia,
De Deribaldo Santos
A narrativa conta a saga de uma família.
- Trata-se de um romance memorialista, estruturado em curtos capítulos que correspondem a crônicas.
- Cada capítulo desenvolve em torno de uma célula dramática que reflete o cotidiano a partir da linguagem literária e da memória.
- O escritor escolhe, a partir da memória, um problema dramático, que desenvolve por meio da linguagem narrativa. É com essa linguagem que ele objetiva, reflete a memória do seu cotidiano, completando as lacunas com a criação ou ficção.
- Concorrem para a feitura da narrativa a observação da realidade, a imaginação e a memória.
PARTE I – 11 capítulos
1 O capítulo “O Cheiro do Shopping” trata do presente do narrador que tece questionamentos e denúncias sobre seu cotidiano atual, como uma espécie de novo integrante da classe média de Fortaleza. Aqui, o cheiro e a visão são usados como forma de captação objetiva da realidade que rodeia o sujeito, em busca de discutir querelas existencias e o anseio de transformar a sociedade. O deslocamento do narrador-personagem nesse meio atual será explicado e justificado em seguida, ao longo da história de sua vida em sociedade.
2 “Toda História tem seu começo”: origem da família, migração para o Rio de Janeiro, em 1968, em virtude de uma grande seca.
3 “O Jardim Noia e Suas Particularidades”: descrição e ambientação do espaço – Jardim Noia, bairro de São João de Mereti, Baixada Fluminense.
4 “A Faixa de Gaza Vietnamita”: continua a ambientação de Jardim Noia, um lugar hostil e repleto de violência.
5 “A Rua da Lama”: idem.
6 “A Varanda de Condão de Dona Clarice”: educação, primeira professora, ensino tradicional.
7 “A Prole”: enumera os integrantes da família, tios e primos, “conflituosa família” (p. 38)
8 “Água, Sede e Enchente”: trabalho comunitário para levar água potável para as residências. O narrador revela um sentimento de satisfação pelo trabalho realizado em grupo. Fala também das péssimas condições de infra-estrutura do local, principalmente quando chove.
9 “As Brincadeiras”: futebol.
10 “O Arraiá das Andorinhas”: festas juninas, o título é o nome de um arraiá, que teve grande importância na vida particular do narrador, teve um final trágico.
11 “Grêmio Recreativo Sovaco da Minhoca”: fala sobre samba e carnaval, tradição carioca; os bailes.
PARTE II – 11 capítulos
12 “Mais Flores sobre Esse Jardim”: local de produção de recursos para a criminalidade. Ao lado desse mundo, havia a luta pela sobrevivência. Fala sobre a perspectiva de vida e de futuro. O narrador retorna ao presente para fazer um contraponto entre a atualidade e aquele tempo vivido no Jardim Noia. Aqui, ele confessa serem a paixão e o conflito marcas de sua família.
13 “Seu Isidro e Dona Cassiana”: avós maternos do narrador. Conta a história de Isidro – filho adotivo de fazendeiro paraibano. Recebeu terras de herança que foram tomadas pelos poderosos. Casou-se com Cassiana sem consentimento do pai dela (motivo: racismo). Muda-se para Campina Grande.
14 “Do Brejo à Serra”: perfil psicológico do avô Isidro e as dificuldades de sobrevivência.
15 “Que Todo Sofrimento da Vida Seja ao Menos por Amor”: o namoro e o casamento de Isidro com Cassiana.
16 “Campina Grande e Sua Feira Central”: descrição e ambientação social, econômica e cultural de Campina Grande.
17 “Dona Janaína”: mãe do narrador, mulher autêntica, independente, decidida, batalhadora e generosa. O narrador confessa a tentativa de interpretar sua história. Tia Pilá cuidava à sua maneira da educação da prole.
18 “As Ilelas”: Janaína e Pilá, língua secreta usada por elas.
19 “Completando a Família”: Tio Jotão (Tia Pilá), Tia Branca (Tio Mandu), Tia Cheirosa.
20 “A Casca é Dura”: dificuldades que passaram Tia Pilá e Tio Jotão, logo após o casamento. Foram para o Rio de Janeiro, mas voltaram para Campina Grande. Vendo frustrado o sonho de tornar-se pedreiro em Campina Grande, Tio Jotão retorna ao Rio de Janeiro, depois mandou buscar a esposa, Tia Pilá. Aquisição de terreno no Jardim Noia e a heróica reforma da casa por Tio Jotão, aos domingos. A partir de então toda a família vai morar no Jardim Noia.
21 “Entre o Noia e a Noia Há Outra Opção?”: o autor-narrador tece considerações sobre a contradição do mundo objetivo. Levanta questionamentos existenciais, sobre as condições concretas e humanas, em relação à vida no Jardim Noia, onde viviam na pobreza e à beira da criminalidade, mas a família mantinha a união, talvez para assegurar a sobrevivência do grupo, em contraste com a situação atual da família que ascendeu à classe média, mas perdeu o vínculo que os unia outrora. A causa disso, o próprio narrador revela: a sociedade capitalista.
22 “Se Souber a Resposta me Diga”: o autor-narrador revela os motivos responsáveis pela saída do Noia e a volta ao Nordeste: “a união da família, associada a certos valores nordestinos”. Mais uma vez, revela a sua insatisfação com a situação atual, porquanto há contradição entre os problemas materiais resolvidos e a iminência do individualismo da nova geração.
Wellington Soares
Mestre em Literatura/Letras
UECE/FECLESC

domingo, 5 de setembro de 2010

A Nova Praça


A fotografia embotada pelo mofo e carregada de saudades que agora tenho em mãos, diz daquele momento que me dói, como em Drummond olhando sua ferruginosa Itabira estampada na parede. A imagem da praça de minha infância sai do passado escondido nesta foto descolorida e me faz lembrar uma entoada nostalgia de muitas vidas, de muitas vozes que um dia ecoaram no ar de meus dias. Eram simples, as praças, sem muitos atrativos, havia bancos encurvados de cimento sobre as sombras das verdes algarobas, que nos convidavam docemente, como se dissessem: estou aqui a sua disposição, sentem-se! E a gente tinha tanta intimidade com eles, os bancos, que sentávamos mesmo era no costado e não representava maus modos estampados aos olhos de hoje, pois era mesmo uma época de se sentar no chão, ou ficar de cócoras para uma conversa agradável sobre sombras do dia ou da noite. Logo, sentar sobre o reclinado de um banco de praça era uma prática menineira de meu tempo de praças.
Hoje, olho para o mesmo largo público que outrora era uma bucólica praça que sabia ouvir o sino da matriz nos chamados para os momentos de devoção, de alegria, de tristezas ou simplesmente para uma alegre quermesse paroquial e vejo algo diferente, moderno, mas que também chamam de praça: Praça de alimentação, acompanhando o moderno estilo de vida das grandes cidades, que me lembra até um Shopping Center colorido e piscante de feira neônica com seus aromas de óleos ensalivantes e não mais aquela luz tremeluzente e singela de outrora que ainda teima em pulsar em minha memória.
Como uma jóia no corpo de uma jovem moça vaidosa, ergue-se uma nova praça na cidade, que quer novamente ser princesa e novamente encantar e novamente embelezar como no passado recente dos meus tempos de praças. Ganhamos uma nova sala de estar, moderna, cheia de atrativos e ornamentos importantes como nos grandes centros do mundo: Praça do Ferreira, José de Alencar, Castro Alves ou na Praça da Paz Celestial. Sim, há uma nova extensão de nosso lar onde a socialização se processa.
Mas meu olhar se volta para os momentos felizes que guardo com carinho da velha praça de minha nostalgia, onde passo a passo, percorro as alamedas ensombradas pelas algarobas, e meu reservado siso compara os dois campos de urbe, o de agora e o de ontem e saudoso sussurra segredando ao meu ouvido:
- Sim, voltou! A velha praça voltou. Olhe para a multidão que passeia contente por lá! Estão como as borboletas que regressam ao ambiente que novamente ganhou vida! Mas algo importante falta ao lugar para ser como a aprazível praça do ar de meus dias. Falta o carinho que as “algarobas” lançam no ar, falta os desvelos feitos de leves sombras que amenizam a rijeza da luz e implantam todo encanto natural que somente uma árvore sabe implantar.
Raimundo Candido

domingo, 29 de agosto de 2010

CORAGEM

Vagas por estradas tenebrosas
Caminhos desertos
Noites escuras

Andas por mares agitados
Rios correntes
Tempestades tremendas

Atravessas os portais dos tempos
As ruas das utopias
As avenidas das projeções

Pisas sobre o chão de pedreiras
Sob as nuvens de sonhos
Sobre o solo fervente

Corre na velocidade dos moinhos
No tic tac dos relógios
Na lentidão dos dias amargos

Vive sobrevivendo às derrotas
Levantando-se à queda
Agarrando-se a esperança

És a fortaleza dos homens fracos
A fraqueza dos que não choravam
És tudo de quem só a ti tem

És a força que move o passo
A mão que chama e expulsa
És o olhar que encherga o abismo

Não és louca ou delirante
Nem tampouco realista
Vai além do que se pode

É o que move e estaciona
Leva o homem ao seu destino
Faz caminhos no impenetrável

O que nos leva ao impossível
Pela estrada dos ideais
É somente tu, coragem.

Isis Celiane

sexta-feira, 27 de agosto de 2010

KARATYS

KARATYS
Aldo Costa

Minha terra tem mais luz
Tem a benção de Jesus - e do Senhor do Bonfim
Uma história que traduz
Nossa luta que reluz
Minha terra é Crateús

Não tem mais hospitaleira
Mais pacata, mais ordeira
Prazerosa aos habitantes
Calorosa aos visitantes
Já foi Fazenda Piranhas
Vila Príncipe Imperial
A beleza das mulheres
É seu referencial

Piauiense nasceu
mas por pura afinidade
Por Luis Correia em troca
Mudou de naturalidade
Nossa história, nossa origem
Ferreirinha sabe bem
Dos "onze" e dos revoltosos
Conhece como ninguém

Do Oeste é a princesa
Às margens do Rio Poti
Que nasce lá na Joaninha
E lhe abraça por aqui
Rasga as entranhas da serra
Fronteiras com o Piauí
Num grande Canyon que outrora
Foi berço dos Karatys

Do ex-prefeito milagreiro
Doutor Olavo Cardoso
Do nosso Primeiro bispo
Dom Antonio Fragoso
És como o primeiro amor
Apaixonante, podes crer!
Quem bebe da sua água
Jamais lhe vai esquecer!

terça-feira, 24 de agosto de 2010

OUVIDO DE MERCADOR

OUVIDO DE MERCADOR
De: Aldo Costa

Chora à cântaros meu coração
Como vidro todo encanto se quebrou
Desde que você se foi e me deixou
Naufragando, em pedaços de ilusão

Chora à cântaros meu coração
Oprimido, solitário caracol
Que nem peixe fisgado no anzol
Buscando uma tábua de salvação

Coração, dá um tempo mas não pare prá pensar
Tem alguém querendo te disritmar
Fazer graça sempre que me ver sofrer

Coração, não faças ouvido de mercador
Sabes que meu sofrer é puro amor
Me ensina a buscar outro querer.

quarta-feira, 4 de agosto de 2010

ESTÁ CHOVENDO RECONHECIMENTO NAS TERRAS CARATIUENSES

Apesar da seca transcorrida em 2010, talvez uma das mais severas dos últimos 100 anos, ultimamente tem serenado prêmios por essas bandas de cá. Raimundo Cândido, em Bragança Paulista, Elias de França, Lourival Veras e Lucas Evangelista na Secult e agora Luciano Bonfim na Funarte.
Prêmios, nos níveis desses aqui tratados, são muito significativos, principalmente quando se concentram em bom número numa cidade do sertão nordestino como Crateús. Demonstram a busca por saciar as fomes, não apenas de comida e bebida, mas também de diversão, arte, criatividade, originalidade, cultura, enfim, de sentidos para uma vida mais repleta e sublime.
Os prêmios significam reconhecimento de produção literária de altíssimo nível, posto que os autores contemplados submetem anonimamente suas produções a rigorosa avaliação de corpo de jurados altamente qualificado, onde se dá escolha dos melhores dentre centenas, milhares de outros trabalhos tambem de alto nível, dos mais variados estilos e autores, inclusive os dos grandes centros de produção cultural do Estado e do País.
Crateús pode e deve Celebrar com entusiasmos esses valiosos reconhecimentos que, uma vez dirigidos a seus filhos, são tão seus também, pois um povo faz uma cidade e a cidade faz seu povo.

terça-feira, 13 de julho de 2010

QUEM SABi SABE!!!




14/07/2010 - Um vestido e um amor - sessão Cine Poty às 19:30h (Entrada Livre)

17 e 18/07/2010 - Feira Circulando Livros - Anfiteatro da praça da Matriz a partir das 18:00h

20/07/2010 - Brincadeiras Populares no quintal da Casa de Cultura de 09:00 às 10:30h.(Entrada Livre)

21/0/07/2010 - Dia da Animação (animação para criança) - sessão Cine Poty - 19:30h.(Entrada Livre)

22/07/2010 - Contação de História para Criançada - Quintal da Casa de Cultura das 09:00 às 10:00 h.(Entrada Livre)

28/07/2010 - A marvada carne - sessão Cine Poty

ENTRADA GRATUITA EM TODOS OS EVENTOS, PARTICIPE!
OBS: Programação Sujeita a Alterações.

Realização:
SABi - PC Cultura é para Todos
Casa de Cultura João Batista

EXCELENTE PROGRAMA PARA TODA A FAMILIA - FEIRA CIRCULANDO LIVROS


DIAS 17 E 18 DE JULHO
NA PRAÇA DO ANFITEATRO EM CRATEUS

segunda-feira, 5 de julho de 2010

ESPANHA X PARAGUAI

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......Tudo bem, é um filme que se repete. Futebol tem disso, nem sempre é o melhor quem vence. Se o Brasil foi despachado que venha pra casa e só alguns jogadores. Sabemos que a grande maioria ficará por lá mesmo enchendo os bolsos de euros! Já enxugamos as lágrimas, iremos assistir o restante da copa sem muito abalo no coração. Em compensação a nossa arquiinimiga Argentina saiu de quatro, uma situação mais inconveniente que a nossa. ............................................
;;;;;Estou aqui, sábado 3 de julho, de novo na minha rede, um divã inspirativo que aqui e acolá me faz meditar e viajar por lembranças tão antigas e visões nem tão futuras. Mas agora assisto Paraguai vs Espanha, outro jogão. A terra de la mancha e das touradas credenciada ao título joga um futebol encorpado com toque de bola coletivo num misto de técnica e muita garra que lhe valeu a alcunha de fúria. Já o Paraguai faz sua melhor campanha em copas do mundo, tem uma defesa segura mas contou com a sorte para passar pelo Japão nos pênaltis e como é considerado o azarão nas casas de apostas tudo indica que, com licença do trocadilho, é realmente um “cavalo paraguaio”como o time de Dunga que me deixou muito triste.
Termina o primeiro tempo: 0 x 0, e enquanto isso meus dedos tamborilam por essas negras teclas. Aceito novamente o convite de minha rede para devaneios circunstanciais por outros ares onde se agitava os estandarte espanhois enfincado a custa do aço da espada e chego até a ouvir o estampido da pólvora no solo paraguaio quando era habitado por índios guaranis, gaycurus e payaguás. Em 1530, teve início a colonização espanhola, quando foi criado o forte de Nossa Senhora da Assunção (atual Assunção), a população nativa foi escravizada durante séculos, esse fato impulsionou a realização de missões jesuítas com o intuito de proteger os índios. O problema foi que por mais que os jesuítas fossem capazes de fazer um bom trabalho acolhendo os índios sem matá-los, quando esses eram “domesticados”, aprendiam a língua espanhola, a religião católica, e aperfeiçoavam seus conhecimentos de agricultura, estavam perfeitos para serem roubados pelos colonizadores espanhóis para serem forçados a trabalhar como escravos nas minas de ouro e prata. Foi um processo de genocídio e etnocídio violento, extenso e prolongado que resultou no maior massacre de comunidades indígenas da história.
;;;; há pouco tempo (1865-1870) Paraguai perdeu dois terços da população adulta masculina e muito do seu território na desastrosa guerra da Tripla-Aliança atiçada pelo imperialismo inglês para favorecer seus interesses, obrigando Brasil, Argentina e Uruguai a detruí-lo economicamente. Já que estamos relembrando nosso vizinho vale ressaltar que após tudo isso por que passou, o Paraguai continua um dos país com maior índice de corrupção ( mais que o Brasil, acreditem) e de pobreza do mundo. Sofreu pela ganância dos poderosos que dominavam para “tirar” suas riquezas e pelas mãos de caudilhos, chefes políticos e militares irresponsáveis que incutiram sofrimento, atraso, dor e morte. Recordando uma frase de Ernesto Che Guevara "as tantas rosas que os poderosos matem nunca conseguirão deter a primavera" acreditamos que existe uma superação para tudo e a esperança por mais que sofra nunca morrerá.
........Volto ao jogo, 1 x 0 para a Espanha e Paraguai tem que voltar pra casa para repensar em seus problemas seculares, que sãoos mesmos do Brasil, mas por sorte retornaremos no mesmo voo do continente africano para America do sul: Brasil, Argentina e Paraguai , como irmãos, deixando o Uruguai como único representante das Américas respirando ainda algum sonho futebolístico para encobrir tanta injustiça que reina por este lado de cá.

..........................................Raimundo Candido

PATRONOS DA ALC - MEMORIAL

Maria Gláucia Menezes Teixeira Albuquerque

No dia 29 de março de 1953, em um Domingo de Ramos, na cidade de Crateús à Rua Frei Vidal da Penha 1500, as 14:30h nascia uma linda menina, a oitava, de uma prole de onze filhos de Raimundo Candido Teixeira e Maria Delite Menezes Teixeira.

O ano 1953 foi marcado por grandes transições políticas para a queda de Getúlio Vargas. Dr. Juscelino Kubitschek fazia política em Minas Gerais e seria em seguida o novo Presidente da República. O Ceará era governado por Raul Barbosa e administrava Crateús o Prefeito João Afonso de Almeida Vale.

Começava a grande aventura da televisão com a TV Tupi e o Brasil era o 4º País a ter esta inovação, sendo até então o rádio – a grande diversão nacional – preterido lentamente pela TV. Era essa a realidade do início da década de 1950.

No dia 19 de abril às 8:00h a menina foi batizada pelo Pe. Tupinambá Melo na Matriz do Senhor do Bonfim recebendo o nome de Maria Gláucia e tendo por padrinhos os tios que moravam em São Paulo, Milton Evaristo e Marinete Menezes, irmã de sua genitora. Os padrinhos foram representados por seu avô Júlio Facundo e Adonor Melo Lima e era vigário da Paróquia de Crateús o inesquecível Pe. Bonfim.

Maria Gláucia sendo uma das filhas mais novas e tendo ficado órfã de pai aos 10 anos, apegou-se de forma especial à sua mãe, transformando-a em sua melhor amiga e por ela sempre demonstrou grande afeição. Era uma menina doce, fina, amável e atenciosa para com todos, mas com a mãe o tratamento era excepcional, causava admiração.

Fez o Curso Primário, hoje, Fundamental no Externato Nossa Senhora de Fátima, escola de sua mãe, onde anos depois exerceu o cargo de Diretora Pedagógica. Aos 16 anos, incentivada por sua mãe, alfabetizou um grupo de operários da REFESA em Crateús, tornando-se assim Professora, muito cedo. Daí então não parou mais de lecionar e exerceu esta atividade em várias séries do ensino fundamental desta conceituada escola.

Professora vocacionada como sua mãe e irmãs, possuía a competência e habilidades naturais e aperfeiçoadas de uma exímia educadora. Exerceu a atividade de Professora no Externato até mudar-se para Fortaleza em 1974 para cursar ensino superior. Mesmo residindo em Fortaleza voltava sistematicamente a Crateús para diligências pedagógicas, mantendo-se na direção e administração desta escola – a escola da dona Delite, de 1979 a 1986.

De 1974 a 1978 lecionou na Escola de 1º Grau Eudoro Correia e Complexo Escolar Antonieta Siqueira, como Professora Polivalente, em Fortaleza. Mais tarde foi transferida destes Colégios para o Colégio Estadual Liceu do Ceará , ensinando Técnicas Industriais e Administração de Empresas no nível médio, até 1980. Período que também lecionou na Escola de 2º Grau Adauto Bezerra.

Foi Assessora Técnica em Educação no Município de Maracanaú, de 1997 a 1998. Lecionou no Curso de Pedagogia da Faculdade Integrada Christus, de 1998 a 1999, assim como na Faculdade FIC, na Universidade do Vale do Acaraú, na Faculdade Farias Brito ministrando disciplinas em Cursos de Especialização.

Em 1997 passou a ser Professora da UECE, quando ingressou no Departamento de Fundamentos da Educação do Curso de Pedagogia da UECE pelo Programa de Bolsa de Transferência Tecnológica da FUNCAP. A partir do ano 2000, após aprovação no processo de seleção passou a ser professora substituta. Em 2003 foi admitida através da Portaria Nº 0103/2003, para o cargo de Professor Assistente Nível V, do Grupo Ocupacional Magistério Superior, lotada no Centro de Educação, em regime de 40h semanais de trabalho, com dedicação exclusiva. Teve ascensão funcional para Professor Adjunto, Nível IX.

Maria Gláucia era pesquisadora da UECE, investigava a gestão do Projeto Educativo das Escolas de Ensino Médio no Ceará, em face de políticas e práticas modernizantes. Sondava a gestão educacional como ferramenta propulsora da efetivação das mudanças propostas pelo projeto político, assim como a adoção de teorias e práticas no sistema educacional influenciadas por experiências de organização da estrutura produtiva e instâncias empresariais. Investigava formas de democratização, participação, descentralização e a qualidade das escolas. Questionava os desdobramentos operados na escola na década de 1990, em função das propostas de modernização da gestão escolar, mediante processo de planejamento, da dinâmica institucional e interinstitucional da escola pública de ensino médio. Examinava conteúdos e fundamentos das diretrizes norteadoras da gestão escolar, da dinâmica institucional nos processos de planejamento das dimensões: pedagógica e financeira.

Sua pesquisa envolvia alunos de Graduação e Mestrado acadêmico em Educação. Trabalhavam na sua equipe os colegas: José Eudes Baima Bezerra, Francisco Carlos Araújo Albuquerque e Jeannette Filomeno Ramos.

Grande pesquisadora, uma investigadora científica. Era membro da ANPED desde 1997, participou de 10 bancas de mestrado e 6 qualificações de doutorado.
Integrante do Grupo EDUCAS, coordenava um Projeto de Pesquisa recém aprovado pelo Edital Universal do CNPq, mas não teve tempo de aplicar os recursos financeiros disponibilizados pelo Conselho Nacional de Pesquisa para suas investigações, tendo sido devolvido este recurso financeiro.

Seu crescimento pessoal e pedagógico parou em dezembro de 2008, pelo desígnio de Deus quando fez seu retorno à Casa do Pai. Faleceu em 30 de dezembro de 2008, mas sua dedicação ao Ensino Público de boa qualidade a fará imortal nos livros, nas escolas por onde passou e no Centro de Educação da Universidade Estadual do Ceará.

Maria Gláucia era casada com o Engenheiro Dr. Bismark Albuquerque Filho e deixou duas lindas filhas: Ingrid Menezes Albuquerque (22 anos) e Érika Menezes Albuquerque (20 anos), ambas universitárias.

Escreveu os seguintes livros
Política e Gestão Educacional: contextos e práticas. Fortaleza: Ed.UECE, 2008.
Estrutura e Funcionamento da Educação Básica. Fortaleza: Edições Demócrito Rocha, 2002.
Política e Planejamento Educacional. Fortaleza: Edições demócrito Rocha, 2002.

Assim como Capítulos de livros tais como

Albuquerque, M.G.M.T.; Farias, Isabel Sabino – A educação para a juventude na perspectiva dos usuários do PROJOVEM em Caucaia-Ce. In: Educação Básica Contemporânea: Política, Planejamento e gestão. 1ª ed. Fortaleza: Ed UECE, 2008.
Albuquerque, M.G.M.T.; Farias, Isabel Sabino – A educação para a juventude na perspectiva dos usuários do PROJOVEM em Caucaia-Ce. In : Política e gestão educacional: contextos e praticas. 1ª ed . Fortaleza: ed. UECE, 2008.
Albuquerque, M.G.M.T. – O lugar da escola no planejamento educacional: contextos e conceitos necessários a formação docente. In :Formação e prática docente Ed. Fortaleza: Ed. UECE, 2007.
Albuquerque, M.G.M.T.- Para aprender a aprender In: Educação: olhares e saberes. 1ª Ed. Fortaleza : Edições Demócrito Rocha, 2001