sexta-feira, 26 de agosto de 2011

ACHADO ESCULTURAL


Elias de França
Ela tomou-me como numa enchente:
cara e rara,
tara relampejante!
Dada subitamente
como o golpe do inimigo...
Marca cravada na carne
a ferro quente!...
Eu me entreguei como um leito seco:
eira dos seus caprichos,
beira de seus encantos!
                                            Uma Fábrica de Sonho

            Nasci numa fábrica de sonho. Cresci dentro desta fábrica e vendo como se produzia, in vitro, estes sonhos. Como se criava de uma simples visão, de uma mera ilusão, uma realidade. Era como aquele incrível filme em que se fabricava chocolates, na inesquecível película montada pela Disneyworld, a extraordinaria magia de se preparar com cacau e leite barras de amarronzados deleites. Uma fábrica que era uma casa, que era meu lar, que tinha uma escola em plena atividade, bem no meio.
            Quando a dona cegonha me deixou por lá, deve ter estranhado o endereço, mas mesmo assim entregou-me e vim ao mundo num lar-escola ou numa escola-lar e ficava sempre na dúvida onde realmente estava, se na escola ou no lar, mas sabia que tinha um magnífico nome, chamava-se: Externato N. S. de Fátima.
             Se não tinha na entrada uma plaqueta com os dizeres: “Temos aqui todos os sonhos do mundo”, isso ficava subtendido no rosto dos meninos e das meninas que os pais levavam para se matricular. A bem da verdade é bom que se diga: para alguns que chagavam compelido e contrafeitos, lá não parecia uma fabrica de sonho, não, assemelhava-se mais com um  lugar onde nasciam os pesadelos. Eram aqueles desafortunados para os quais o estudo nunca deixou de ser uma punição, uma mortificação. Na realidade, desde criançinhas, vamos nos formando destes dourados sonhos que apreendemos e guardamos no bolso da farda infantil e dos nossos receosos pesadelos que se grudam na pele de nossas almas, teimosamente e se mesclam, resultando nesta massa invisível que chamamos personalidade. Se tiver qualquer dúvida sobre o que estou falando, pergunte ao seu psicólogo.
             Fui alfabetizado e percorri os caminhos com um nítido estoicismo, do bê-á-bá até a mais avançada das salas de aula, o 5º Ano, como um  aluno e filho da diretora, uma sobrecarga tremenda, pois tinha a obrigação de ser o aluno exemplar.
             As salas de aula eram especiais em tudo. Eram bem diferentes destes individualismos de hoje. Tínhamos um cantinho certo para sentar, numa cadeira cativa ou num lugar reservado de um comprido banco. Tomávamos assento ao redor de uma longa mesa de madeira e, como os trabalhadores de uma fábrica, um de frente para o outro, cada um ia manufaturando, misturando ingredientes, camada por camada, preparando gota a gota esta porção do que somos feitos, de bom ou de ruim, a qual nasceu ali, naquela fábrica de sonhos coletivo.
            Até hoje tenho certa dificuldade com as lições de casa, sempre alguma coisa estranha imiscuía-se com mais urgência, atrapalhando o meu objetivo. Naquele dia, na hora da lição, tinha sido uma simples pergunta sobre as Capitanias Hereditárias e no meu querido livro de Exame de Admissão tinha lido que eu era o Capitão de meu time de futebol, o herói do jogo e fazia o belo gol da vitória. Meus travessos sonhos haviam novamente se intercalados com a realidade.
            A Mestra e mãe, dizia: “A justiça para ser boa começa de casa”. Segurava bem na ponta dos dedos, para espalmar a mão. Com o primeiro bolo, a palma já ficava quentinha. O terceiro, que voltava, era como uma língua de mandacaru que lambia toda minha preguiça.
            Aos sábados, a diversão era uma extraordinária sabatinada. No quintal, embaixo de uma frondosa algaroba, as tabuadas de dividir e de multiplicar eram arguidas, sempre repetindo o sentido de um circulo, um a um, com a expectativa da ação da Maria Bonita, que nos fitava da mão da digníssima mestra.
            Ali traçávamos nossos destinos, como numa oficina de humanidade, onde configurávamos as vidas e depois partíamos preparados para uma longa caminhada, cada um com seu rumo, com sua bússola feita flores e espinhos desbravando caminhos distintos, como uma semente que já leva a forma e o destino de árvore.
            Continuei a embaralhar meus sonhos com a crua realidade que meus olhos sorvem pelas trilhas da vida afora, pois percebi que os sonhos sozinhos se diluem facilmente nos primeiros raios diáfano que o cercam numa inesperada esquina. Assim, a minha mão segue desenhando imagens de minhas lembranças em fluídos espelhos e tentando recompor, com meras palavras, aqueles dias em  que aprendi o oficio de sonhador, para não cair num poço de esquecimento.
            Sei que sobre nossos sonhos podemos construir os arranha-céus, as megalópoles, inclusive as inacessíveis montanhas de Maomé que dizem que com a nossa vontade férrea é possível. E sobre uma singela e mágica escola que sempre produziu e continua a produz sonhos, pedestal de muitas vidas, o que podemos erguer? Acho que nada mais nada menos o que lhe é devido: as estruturas abençoadas da eternidade.

Raimundo Candido 

joao silas falcao soares disse...


Raimundinho, sempre relembro a nossa Fábrica de Sonhos. Os primeiros sonhos. O sol do meio dia esquentava a Rua da Cruz e, sob ele, centenas de estudantes de Crateús se somavam nos rumos de um único destino: O Externato Nossa Senhora De Fátima. Lembro-me de fileiras de alunos aguardando o momento de entrar na maravilhosa Fábrica, e começar a trabalhar os próprios sonhos. E como todo sonho que se preza, aqueles não eram fáceis de realizar. Muita aplicação na tabuada. Leitura e mais leituras do volumoso Livro de Admissão. Lembro a capa dura e azul. Todos os erros, para não atrapalharem a realização dos sonhos e o funcionamento competente da Fábrica, eram castigados com palmatória ou com permanência em sala de aula, quando todos saiam. Experimentei os dois. Várias vezes. Ainda é muita acesa a imagem austera da Dona Delite anunciando: O Silas, o fulano, o beltrano ficarão de castigo depois da aula. E o pior era em casa. Inventar o que para os pais? Aí, outros castigos: não sair para brincar. Cine Poty? Mas punição nunca desejada era dita como lei paterna: não tomar banho no Rio Poty e não jogar peladas no campinho, que ficava ao lado deste rio da nossa infância.
Externato Nossa Senhora de Fátima. Toda vez que vou à Crateús passo ao lado dele, olhando para a memória dos meus primeiros sonhos.

Raimundinho, esta crônica tem que ser imortalizada no seu próximo livro.

Niltomaciel disse:

Olá, Raimundo. Obrigado pelo envio do link.
Parabéns a todos os que compõem a Academia de Crateús. O site está muito bom. A crônica "Uma fábrica de sonhos" deve ser lida e divulgada pelo mundo. Parabéns! Um abraço cordial. Nilto

César Vale disse:
Raimundinho: Nesta fábrica de sonhos você parece ter se superado. Entre tantas que já li e gostei, de suas crônicas, esta foi elaborada com a sua alma e o sentimento infantil, ou materno/infantil. Parabéns. César
   


                                                                            LIS

No décimo oitavo andar.
– Lis?
–Pois não!
– Há muito tempo desejava lhe visitar.
Ela estranha esta declaração de uma pessoa que não conhece.
– Qual o seu nome?
– Rivera Yazid. Posso entrar?
Num ato mecânico, Lis dá acesso ao corpo esguio, vestido com simplicidade, mas com elegância.  
Ela examina as presenças na sala. Mesas de mármore. Cristaleira protegendo as taças antigas. Estantes horizontais repletas de livros. Telas de artes anulando a imparcialidade das paredes. Iluminação ambiente sem arrogância. Nada mudou. Tudo é ontem - pensa Rivera.
– Não se preocupe com minha visita. Eu e seus pais fomos grandes amigos. Você nem era nascida quando nós criamos momentos agradáveis aqui. Ouvimos músicas. Bebemos vinhos. Comentamos escritores e livros. Nem percebíamos o amanhecer.
Lis ouve com aplicação.
– Só recentemente eu soube do falecimento da sua mãe.
– Foi há três anos. Como você observou, este apartamento continua o mesmo. É a minha invocação para mamãe permanecer comigo. Ela justificou a presença dela neste mundo.
– Compreendo. A morte é uma tragédia interminável.
– Quando começou a amizade de vocês?
– Nossos pais se conheceram na juventude. Ainda crianças, moramos em cidades vizinhas, mas constantemente nos encontrávamos quando seus avôs iam nos visitar. Na minha adolescência meus pais se mudaram para Sete Estrelo, bela cidade onde sua mãe morava. E nos tornamos mais próximas. E mais amigas. Após concluir o ensino médio, fui cursar faculdade em outro Estado. Meses depois seus pais saíram de Sete Estrelo. Passamos duas décadas sem nos encontrarmos. Após minha aposentadoria, resolvi morar nesta cidade. E descobri que sua mãe residia aqui. Retomamos nossa amizade. Aí, a morte em dominó: o assassinato do meu marido, a morte do seu pai... e, por fim, o falecimento da sua mãe.
Silêncios vizinhos.
– Mas tudo bem. Não viemos para ficar aqui. Estamos apenas de passagem. Diz Rivera.
E elas conversam sobre livros e escritores, degustando vinhos de boas safras. 
– Já é tarde, Lis. Preciso voltar.
– Acompanho você até a portaria.
Dia seguinte, noite de segunda feira, Lis descongestiona a caixa postal. E ler: “Lis, muito obrigada por sua hospitalidade. Eu precisava matar saudades antigas”.
Era uma psicografia de Rivera Yazid, falecida há anos.

Silas Falcão

quarta-feira, 24 de agosto de 2011

TEMPO


O tempo todo o tempo passa
E a gente meio sem graça
Observando tudo que vai
Os amigos já foram
Os amores passaram
A juventude foi embora
Meu Deus, e agora
O que será de nós?
O dia é tão longo
A noite tão comprida
E a gente remoendo a ferida
Que o tempo não levou
A mente cansada
O olhar convalesce
E a gente não esquece
O que a audácia negou
O beijo negado
O olhar desviado
O abraço que não foi abraçado
O amor que não foi amado
E tudo que nunca foi dado
Pelo medo que era maior
Maior que a vontade que agora chora
Porque não se pode mais ir embora
Perdeu-se o bonde da felicidade
Passa o trem da saudade
Este a gente pega
Não se pode negar o rumo
Se está sozinho no mundo
Segue então para lugar nenhum
A saudade vai levando
A cada lembrança a dor aumentando
E a gente só chorando
Pelo bonde que não pegou.
                       Isis Celiane

terça-feira, 23 de agosto de 2011

                                   CENTENÁRIA ESTAÇÃO FERROVIÁRIA DE CRATEÚS
                                                  -  PATRIMÔNIO AMEAÇADO
                                                                                                                Edilson Macedo

                Causa tristeza e indignação cruzar os caminhos de ferro à altura de nossa velha Estação Ferroviária. Quem, como eu, cruzou a linha dos cinquenta, e tem um pouco de poesia nas veias, não pode deixar que a tristeza lhe invada a alma ao ver a degradação criminosamente imposta a este belo e importante Patrimônio Histórico de nossa Cidade. Estes antigos trilhos de ferro, onde tantas memórias estão incrustadas, partiram de Camocim, chegaram aqui em 1912, a exatos cem anos, quando, de Vila Imperial, passamos à então Cratheús, tal qual está escrito em alto relevo no pardieiro principal, ali onde comprávamos os bilhetes, de primeira ou segunda classe...  passaporte para mundos distantes, insondáveis, que víamos pelas janelas...
                Antes o trem transportava passageiros e seu patrimônio material era tratado com zelo devido. Hoje o descaso e o abandono põem-no em ruínas. Aquilo que o tempo, por si só, leva à bancarrota  não é reparado, e o que insiste em resistir ao seu labor a Empresa Ferroviária e atual Concessionária vai, aos poucos, sem que ninguém dê um pio,  transformando em escombros.
                Há pouco tempo atrás uns vagões carregados com enormes pneus arrebentaram os alpendres da lateral esquerda (sentido Crateús – Piauí) e a única providência da tal Empresa foi, depois de várias semanas, recolher o entulho, restos de telhas e madeiras, que foram abaixo num ato, a meu ver, de vandalismo institucionalizado – a Empresa tinha conhecimento prévio da impossibilidade do tráfego, dado o tamanho descomunal da mercadoria. Os belos alpendres, construídos em madeira- de- de- lei e antiga arquitetura denominada “Mão-Francesa”  viraram ruínas. Com eles, também, um pouco de nossa história e dignidade... Este crime permanecerá impune? Até quando o interesse financeiro suplantará os valores históricos e mesmo material de um povo?...
                Um carro em desgoverno bateu em galpão que funciona como oficina. A construção rija rachou, não caiu, foi por uns dias interditada, como continuou de pé, voltou a funcionar normalmente...  as rachaduras expostas, como ossos fraturados, esperam, por certo, providências divina...
                As velhas e inabaláveis pontes em ferro e aço, importadas da Inglaterra, resistem como podem, mas sofrem avarias  em pontos vulneráveis. As chapas de zinco que cobriam os dormentes e facilitavam a passagem de pedestres há muito sumiram. Quem por lá se aventura (e não são poucos os desvalidos) andam em corda bamba sobre abismo tenebroso. Dormentes soltos, apodrecidos, fendas enormes, fazem o martírio de quem por lá trafega, sejam crianças ou velhinhos. O constante resfolegar das locomotivas completam o ato de terror a que são submetidos. À noite, à falta de iluminação e sinalização de advertência em caso de aproximação dos comboios, o terror ganha status de bandeira dois. Há quem diga e argumente que as pontes não foram projetadas para tráfego humano. Esquecem, os incautos, que, além de destituídos de asas, nossa pouca fé nos impossibilita de caminhar sobre águas, ainda que poluídas...
                A Empresa Concessionária é protagonista ainda de outros tantos atos criminosos contra nossa gentil aldeia. Destruiu, sem nenhuma explicação, batentes outrora edificados para facilitar a vida de pedestres entre o Centro da Cidade e Bairro São Vicente.  Alguém pode explicar tamanha e desumana barbárie?...
                Diariamente comboios intermináveis de vagões, em movimento ou simplesmente estacionados, impedem a passagem de quem por ali precisa se locomover... ás vezes temos de escalar até três filas de carros estacionados paralelamente... haja coragem e coluna, meu santo do Bonfim!
                Os pátios, imundos, repletos de lixo e onde o mato viceja à rédeas soltas, sem nenhuma iluminação, estão agora repletos de valas abertas... como se não bastasse a distância que nos separa das oficinas de concertar ossos...
                A sinalização na passagem da tão movimentada Avenida Sargento Hermínio, cadê? Se antes, quando nosso transito era mínimo, existia, que razões fazem hoje desmerece-la?
                Enfim, amigos e amigas, seres e ceras, pergunto:
                - Quem deu tanto poder a esta empresazinha para que ela destrua impunimente nosso patrimônio e ponha em risco constante a vida de pessoas inocentes sem dá satisfação a ninguém?
                - Até quando esta Empresa continuará perturbando nossas vidas, manchando nossa história e zurrando pra nossa cultura?¹
                No ano de nosso Centenário, que maravilhoso presente seria a restauração de nossa Centenária Gare, com suas belíssimas Pontes iluminadas... brilhando sobre nosso indômito Rio... alumiando nosso futuro...  clareando nossos passos...
                Quanto custa? Muito, muitíssimo menos que uma vida humana...


1.       Com todo respeito aos nossos jegues, claro!

Paulo Nazareno disse...

Custaria bem menos que uma banda (ou seria bundas?)dessas de "forro" advindas do Glorioso Ministério do Turismo, que insistem em fazer das nossas ouças pinico, com seu ritmo primitivo, medular, impossível de ascender ao cérebro (se eh que ainda nao atrofiou de tanto ouvi-las) e letras imbecilizantes.

Terça-feira, 23 Agosto, 2011

segunda-feira, 22 de agosto de 2011

Diogo - Cavaquinho e Violão


Por Flávio Machado e Silva
                Crateús, ao longo da sua história, ganhou uma infinidade de filhos adotivos. Diogo Barros de Macedo é um destes filhos acolhidos por esta terra desde 1961, quando ainda jovem acompanhou seus pais que escolheram como morada a terra do Senhor do Bonfim.
Nasceu em  Mutuquinha, uma localidade no município de Tauá, onde cresceu e aos 6 anos mudou-se para outro lugar conhecido por Lindoia, perto do distrito de Trici. Filho de família humilde não conheceu nenhuma moleza nos seus dias de vida e logo aos quatorze anos, em 1958 já estava alistado para trabalhar em frente de serviço no lugar Várzea do Boi, onde seu pai conseguiu duas vagas uma para si e outra para o jovem Diogo, na construção do açude.  A penúria acompanhava a família dos seus pais Francisco Fernandes de Macedo e dona Francisca de Souza Barros, a ponto de em certa época terem que morar sob um frondoso Juazeiro, na localidade Retiro, perto da obra onde trabalhava. Quando foi desativado o serviço na Várzea do Boi, em 1959 a família enfrentou o sol causticante do nordeste, onde desta vez aquele garoto viu as dificuldades enfrentadas por quem trabalha na roça, na produção do Ouro Branco, (Algodão), cultura que para dar camisa a quem trabalhava nas capoeiras, precisava ser zelada, através do roço, labuta que hoje o Diogo comenta com a felicidade de quem conheceu e venceu certas intempéries da vida.
Em 1964 ingressou no exército e era integrante do Programa 4° BEC EM SEU LAR, levado ao ar através das ondas sonoras da Rádio Educadora de Crateús. O Soldado Diogo participava na parte musical. O comandante da programação era o Sargento Valdir Labres. No exército Diogo Integrava a Banda de Música do 4° BEC. Pouco foi o tempo de escola do nosso jovem, razão por que logo completado o tempo, deu baixa e ficou quites com o serviço militar, mas passou a integrar o conjunto musical  “OS ALUCINANTES”, organizado por um grupo de sargentos.
Em 1968 conheceu a companheira com quem segue a vida até hoje. Maria Vilani Feitosa Macedo, vem ao longo do tempo, ombro a ombro trilhando os caminhos do casal que divide o lar com o filho Ivany, companheiro inseparável.
Mas aquele menino que, nas veias, nasceu com o dom da musicalidade, logo cedo descobriu a arte e a paixão por instrumentos de corda. Cultivou uma hereditariedade e se familiarizou com o cavaquinho e o violão. Aqui no município de Crateús, morando no quilometro dez, onde trabalhava nos algodoais do agropecuarista Tobias Soares Resende, à noite, hora do descanso, se deleitava com um violão acariciado no peito e se aperfeiçoava naquele instrumento que mais tarde o levaria a ser conhecido como um dos grandes violonistas que Crateús conhece. Integrou-se ao regional do Grande Músico Zé Regino e a partir daí cresceu a fama daquele menino humilde que não mais retornou para as capoeiras de algodão, preferindo participar, nos estúdios da Rádio Educadora de Crateús nas noites das sextas feiras, do Programa Hora da Recordação e Saudade. Integrado ao Regional foi animador de festas e forrós, e também participou das inesquecíveis serenatas, costume tão intensamente vivido nas noites enluaradas de Crateús dos Anos sessenta.
Durante muitos anos dividiu a profissão de músico com a de segurança ou vigilante. Fez curso para esta área e prestou serviço na CORPVS, ajudando a transportar valores e trabalhando como segurança, até se aposentar servindo no Centro de Educação de Jovens e Adultos (CEJA).
Dificilmente encontramos um tocador de violão ou cavaquinho que não caia na tentação e enfrente, imune, as oportunidades de beber. São viciados em bebida quase todos os violonistas que conheço. Diogo foi um destes, mas consciente e ajudado por amigos, principalmente pelas professoras do CEJA, teve força de vontade e hoje, nunca vemos o nosso amigo tragar algum tipo de bebida alcoólica.
Ao longo da vida o Diogo notabilizou-se como um dos grandes instrumentistas desta terra. É dotado de elevada auto-estima e é amigo de todos que cultivam interesse pela arte e pela música. Atualmente é solicitado por pessoas para ministrar aulas de violão ou cavaquinho. Trabalha em oficinas culturais tanto ensinando, como participando de eventos. É componente de um grupo que se faz presente em aniversários, serestas e eventos outros promovidos por integrantes da sociedade crateuense. Belas páginas musicais compõem o CD intitulado DIOGO MACÊDO – 48 anos de cavaquinho e violão. Portanto, quase cinco décadas integram o mestre Diogo com estes nobres instrumentos utilizados no mundo da música, esta companheira inseparável e harmoniosa participante dos nossos sentimentos.
                                                    
                                                              
                                                         YURI EM PARIS

Amanhã, 23/08, Yuri viajará.

Entre ele e nós, o oceano.

Preciso permanecer sem tristezas. Celebrar deve ser a minha atitude.

Conquistar, aos 23 anos, um mestrado de filosofia em Paris e com bolsa, é uma vitória muito expressiva.

Mas ele é da espécie de geniozinho raro e indisciplinado sempre pronto para conversas e cervejinhas geladíssimas.

A casa ficará silenciosa sem seus passos. A cozinha quieta, sem as delícias que ele cozinhava nas manhãs de sábado.

Ele vai.

E leva muito da gente.

E deixa muito dele.

Sentirei falta das suas histórias engraçadas, das suas trapalhadas, mazelas, pensamentos e risadas.

Sentirei falta do tic-tac que seus dedos produziam na velha remingthon. Dos papéis em cima da escrivaninha, dos livros abertos.

Sentirei falta dele na rede lendo, lendo, lendo.

Sentirei falta dos gritos quando assistíamos aos jogos do Flamengo e dos seus quase infartos comemorando os gols.

Sentirei falta do seu “Olá, John”, quando nos encontravámos.

Vou sentir falta dele por inteiro.

Mas, ele será feliz. E muito!

Quando ele estiver na outra ponta do mar, me esticarei daqui para tentar vê-lo. Sempre que chegar ao mar, ficarei de ponta de pé e tentarei enxergá-lo onde o céu da nó com o mar. Se não o vir, não tem problema, o vento levará o meu olhar.

Esse bondoso vento será o nosso elo.

Quando ele colocar os olhos naquela Torre, terá vento. Quando for para o túmulo de Sartre e Beauvoir e perceber que chegou atrasado ao encontro deles, o vento também estará lá.

Nos cafés, nos livros, no frio haverá vento. E com ele estaremos juntos.

Paris!

Meu filho Yuri vai para a Paris dos seus sonhos!

Vai, menino, vai ser feliz por aquelas ruas! Senta nos cafés e sorri lembrando do nosso Brasil.
Escreve, cria e estuda, mas lembra que o afeto é a maior sabedoria.

E cá vamos ficando: pais, irmãos, tias, avós, amigos e a tua amada Carol, esperando o teu retorno vitorioso.

Silas Falcão

"Pai, cheguei bem, embora a viagem tenha sido desconfortável ao extremo (eu mal cabia na poltrona do avião, não por causa do meu peso, mas acredite, por causa das minhas pernas). Enfim, correu tudo bem, embora eu tenha chorado algumas vezes durante o voo. Estou caindo de sono, porque o fuso horário é mais longo do que eu imaginava: em Paris serão seis horas a mais. Mas adivinha: estou em Madri, em um pub irlandês chamado James Joyce escutando Beatles, e o idioma aqui é o inglês cantando da Irlanda. Já fumei em uma praça em frente a uma fonte magnífica. Estou na Europa, mas posso dizer que a ficha ainda não caiu: fico olhando as ruas organizadas, os cafés com todas as pessoas fumando e o clima europeu, mas não consigo acreditar. Madri é linda, absolutamente linda... O sol torrando mas um vento gelado".

Beijos, Yuri. ­

Anônimo disse...


Desejamos sucesso no Mestrado do Filósofo Yuri e que ele hasteie a bandeira do flamengo no alto da torre eiffel!
Segunda-feira, 22 Agosto, 2011

Anônimo disse...

Você, Silas, que significa 'morador dos bosques', incorporou a faceta da ave mais rápida da terra, o Falcão, para nos brindar com esse chope que é a mais genuína cevada da alma, pura fermentação de amor paternal.
Um brinde a essa primorosa peça onírica!

Júnior Bonfim
Terça-feira, 23 Agosto, 2011

domingo, 21 de agosto de 2011

Paulo Nazareno disse...

Beleza!!!! Enfim em sua função verdadeira; pena neste dia estar no Ipu a serviço.
Carpe Diem.
Sexta-feira, 19 Agosto, 2011
Nega disse...
Vamos sim!!
Olá Raimundinho, faço coro ao seu chamado!!!
Disse Drumond , o poeta:
"Ir ao teatro é como ir à vida sem nos comprometer."
Então vamos ao teatro!