quinta-feira, 9 de agosto de 2012

DIDEUS SALES


O Poeta crateuense DIDEUS SALES participa do 4º Encontro de Cantadores Repentistas do Nordeste em Diadema, na Grande São Paulo. Hoje, dia 09/ 08/ 12, realizou uma Palestra na PUC para uma turma de Doutorando em Ciências da Oralidade. O encerramento será domingo, com um Festival de 12 Repentistas do Nordeste no Teatro Clara Nunes. Belíssimo voo, poeta Dideus, e por ser motivo de orgulho para nossa terrinha  e lhe damos os PARABÉNS!!!

Prêmio de Literatura



Revelar novos talentos e promover a literatura nacional são propósitos do 2º Prêmio Benvirá de Literatura de Ficção - 2012.
Com a finalidade de estimular a produção e divulgação das obras de escritores brasileiros, a Editora Saraiva institui o concurso, que também abre uma porta do mercado editorial aos estreantes: o livro selecionado será publicado e distribuído em todo o país.
Autores já publicados ou não, de nacionalidade brasileira, poderão participar inscrevendo uma obra inédita de ficção, de tema livre, escrita em língua portuguesa. Cada candidato poderá concorrer somente com 1 (um) original.
Caberá ao vencedor, além da publicação da obra pelo selo Benvirá, um prêmio deR$30.000,00 (trinta mil reais).
As inscrições deverão ocorrer no período de 09/08/2012 a 30/11/2012, somente através do site www.benvira.com.br

quarta-feira, 8 de agosto de 2012

Convite

O IDSAF apresenta a temática: 50 anos do Concílio Vaticano II e atuação de Dom Fragoso e os/as convida para participar da seguinte programação:
11 de agosto – sábado
- Apresentação da temática por estudantes de duas escolas Públicas
- Participação do Público
Local: Sede do Centro Dom Fragoso de Direitos Humanos
Horário: 19:30hs
12 de agosto – domingo
- Missa do aniversário de 6 anos na Catedral

terça-feira, 7 de agosto de 2012

S. Vicente e Sr. Pierre.


                                                                    (Jose Maria Bonfim Moraes)

Julho sempre foi o adorável mês para nós. Sem aulas. O mês de auroras mansas. De sol brando. De madrugada terna. Como era gostoso o mês de julho em Crateús. Porem um fato me marcou para sempre: a festa de S. Vicente de Paulo. A igrejinha de uma só torre, eu a descortinava da Praça da Estação. Construída com a dedicação e economias do Sr. Antonio Pierre Rocha de Aguiar, a cada julho realizava sua concorrida festa. Não sei porque,  em julho, quando a festa do santo é no mês de setembro. Hoje quanto de imenso era manter esta bela tradição. Vicente nasceu em Pouy, uma vila de Paris em 21.04.1581, falecendo em Paris em 27.09.1660. Foi presbítero aos 19 anos. Partiu para Marselha em busca de uma grande herança que herdou de uma rica viúva. Ele já se pungia pela pobreza. Na sua viagem de volta, sua embarcação foi assaltada, foi feito prisioneiro e mandado para Tunis. Foi feito escravo e martirizava-se nas terríveis galés. As galés cantadas em Navio Negreiro de Castro Alves. Retornou para Paris, como escravo. Foi livre. A sua piedade e a sua ternura pelos pobres encantou o Rei Henrique IV, que o fez capelão da rainha de Valois, Rainha Margot. Vendo a sua extremosa dedicação aos pobres, deu-lhe o Ministério da Caridade. Monsieur Vincent recebia mais verbas que o Ministério das Finanças. Enfrentou a oposição dos cardeais Mezarino e Richellieu, pela sua luta pelos pobres. Chegava a distribuir 2.500 refeições por dia. A sua vida de carisma e dedicação, o fez capelão da França. Em 1625 criou os Lazaristas ou Vicentinos, pregadores do homem do campo. Em 1633 juntamente com Frederico Ozanan criou as conferências Vicentinas. S. Francisco de Sales o chamava o santo do século.  Dom Bosco tinha  uma grande veneração por Francisco de Sales.  Dom Bosco criou sua congregação e a denominou de Salesianos. Vicente com Margarida Nesseau criou as Damas de Caridade. As senhoras de caridade. Com Luiza de Marilac as irmãs de caridade, educadoras talentosas e servidoras no mundo inteiro. Neste ano estive em Paris, na Rue Du Bac 340 onde se encontram os corpos incorruptíveis de Marilac e Cattarine de Labouré, na Casa da Medalha Milagrosa. Lá se venera um relicário com o coração bondoso de São Vicente. Leão XIII, o fez patrono de todos os movimentos caritativos da Igreja Católica. Já bem distante penso como é fantástico e dignificante o trabalho de Pierre Aguiar. Em uma cidade tão distante de Paris, um homem se dedica pela causa dos pobres. Sr Pierre merecia um olhar mais justo. Fui acólito na Igrejinha de S. Vicente, e presenciava o carinho, o denodo que aquele homem sisudo e calado, se debruçava sobre sua causa. Ele era de extremo amor aos menos felicitados da vida. No final da festa vinha Seu Pierre nos dar quantia em dinheiro para as nossas férias. Escrevamos a nossa historia. Não precisamos procurar ídolos em outros sítios, esta terra é rica em cidadãos nobres como o Sr. Pierre Aguiar.
Jose Maria Bonfim Moraes- médico cardiologista.

Perpetua Aguiar disse...
DR JOSÉ MARIA, OBRIGADA PELA LEMBRANÇA DO MEU QUERIDO AVÔ ANTONIO PIERRE ROCHA AGUIAR. A SUA HISTÓRIA DE VIDA, MUITO NOS ORGULHA!ABRAÇOS!

segunda-feira, 6 de agosto de 2012

Goela Pagã


             É pela incompletude de minhas crenças que fico hesitante e céptico, duvidando até de que a Terra gire em torno do Sol. Desconfio que Deus ao criar a fé, em contrapartida, fez o diabo criar a religião, com indispensáveis regras e cerimônias inevitáveis.
             E é por longo silêncio, um legado da infância, que se me revelam as realidades abstratas e as concretudes incorpóreas, quando regresso de remotas eras. Como um arauto solene, o instante silencioso anuvia minhas guerras e proclama uma paz para minhas insociáveis inquietações.
             Tenho-O, por certo, como um sussurro dos ventos quando me oculto em cavernas, também nas sinfonias das águas que me chegam como um renovante dilúvio e respeito-O, intensamente, como ao fogo, guardião dos mistérios invisíveis, que me ilumina e me consome.
             Da terra, elemento primordial de que sou feito, princípio, meio e fim, acredito piamente na eternidade das pedras, como as pedras largadas da goela, num delirante estrangulamento do Itaim-assu, o rio aonde os Karatis saciavam a sede de vida e suavizavam a fadiga do imprevisível subsistir ao bacamarte dos colonos invasores.
             Karati não foi só um nome, foi uma família. Só podemos acreditar na existência daquilo que carrega um nome, como designação de linhagem. Há famílias que necessitam ainda de um complemento, um apelido para reforçar a estirpe: os taiocas, os pitombas, os macacos, os mocós, os bem-te-vis e os rabos-de-couro. Quando uma família não tem um nome leva pelo menos o apelido com insígnia, honrando a existência para gerações futuras. Cito o Domínio dos Pagãos, herdeiros dos karatis, que dominavam um tabuleiro arenoso, de vegetação rala e rasteira, com singelas casinhas de taipa ao lado de um majestoso campinho de futebol, tendo com trono as pedras esmeradas da Goela.
               Os rebentos caboclos, da nativa família, já nasciam com asas e escamas, com faro apuradíssimo do oportunista carcará e do atento socó, para a caça e para a pesca.  Herdaram, dos antigos moradores daquelas brenhas, o instinto e a perspicácia para sobrevivência, mas sempre renascendo no ressentimento de suas antigas misérias.
                Os pagãos pescavam nas pedras da goela, pescavam não, iam colhendo com as mãos na abundancia de peixes: os caris bodó, o mandis, o corrós, as piabas e pegavam somente o necessário para a subsistência diária, nos esconderijos, nas locas de pedras que ficavam imersas sob correntezas arriscadas. Sobre a confiante proteção da Mãe d’água, eles desconheciam até o medo, o maior de todos os perigos.
               Quando se matava a fome com chá de velame e pão do Zé Marques, comprados na bodega de Sr. Raimundo Fernandes, era uma beleza. O Chico Pagão em sua esperteza de alegre caçador, sempre trazia rolinhas pegue em arapucas ou uma fieira repleta de roliços preás tirados das gangorras engatilhadas nas trilhas do mato rasteiro. Era um grande dia de festa quando iam caçar pebas e quem não sabia estranhava aquele tambor que levavam, transbordando água. Cavavam o buraco até certo ponto e o inundavam com o líquido. Os coitados dos pebas saiam para tomar fôlego e, neste instante, eram feitos prisioneiros.
              Naquele fatídico dia, o irrequieto caçador Chico não imaginava que seu filho, endemoniado e furioso com uma faca na mão, tentaria matar o avô. Intromete-se para apaziguar a situação, mas recebe no corpo o desfeche de uma tragédia, apagando o sorriso nos lábios de quem achava que a vida uma eterna comédia. Os infortúnios que não suscitam terror provocam piedade, como o do Nenen Pagão, um garantido back central, zagueiro de talento que atuara nos times de futebol do Comercial, do Botafogo e do Cruzeiro, e se esquivara da morte por arma branca nas mãos de um neto, mas mergulha num copo como um velho mandrião e se entrega ao mal do século.
              A alegre Dona Fita, viúva do Nenen, aos 65 anos era uma atleta grandiosa, corria descalça pelas ruas, como a filha Olivia, uma campeã nata que ganhava todas as competições, todas as corridas promovidas pelo Lions Clube ou pelo 4º Bec e até na cidade de fortaleza. As dezenas de troféus e medalhas que enfeitam as paredes de seu quanto, comprovam uma força cromossômica que poderia elevar o nome de Crateús aos gloriosos pódios das Olimpíadas. Contabilize-se aí, mais um descaso, outro desapego dos olhos dos administradores públicos. No centenário da cidade, Emilia recebeu uma comenda municipal reconhecendo seu denodo e fibra, mas quando necessitava de um tênis para correr melhor, faltou-lhe a mão daqueles que podiam ajudar e não ajudaram, demonstrando a cegueira estúpida dos iníquos.
               Numa das últimas casas do Bairro da Ponte Preta, campo dos vencedores dos calungas, encontramos o Sr. Manoel, a se balançar despreocupado numa arejada rede e do alto dos seus 85 anos, o mais velho Pagão, afirma: “ Sou mais conhecido que cassaco”. É ele quem me esclarece o nome de Pagão na família.
              - Nosso patriarca chamava-se Francisco Magalhães, trabalhou muito tempo construindo a estrada de ferro que ia da cidade até o Distrito de Oiticica. Era época dos bolsões e muita gente escapava nas frentes de serviço devido a seca. Seu Chico resolveu casar e aproveitou a ocasião para também se batizar.
               Após a cerimônia do batismo cristão, quando o Pe. Juvêncio o aspergiu, com água benta, disse: Eu te batizo em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo, amém. Ali morria um nome e ressuscitou um Pagão. 
               Atroz contradição: o nome, no lugar de nascer; morre e, para uma futura família, herdeira dos primeiros habitantes das margens do Poti, fica somente um apelido sonoro a confirmar a linhagem de guerreiros, que se entrona nas lisas pedras da esplendorosa Goela, formando uma mágica e melancólica vila, o Reino dos Pagãos.
Raimundo Candido
academiadeletrasdecrateus.blogspot.com.br/

Jose Alberto de Souza disse...
Li e reli esse texto pleno de conhecimento intuitivo recolhido através de narrativas da gente simples do interior cearense, fiel às suas origens. Emblemática e oportuna a história da corredora que recebe a honraria da comenda do poder público, mas que não encontra uma mão estendida para lhe ajudar na compra de um tênis, lembra muito a situação atual de nossos atletas nessas Olímpiadas...