sábado, 27 de outubro de 2012

Compromisso e sabedoria.


Rosa Ferreira de Moraes, neste outubro chega aos 99 anos de idade. Dista apenas 12 meses para ser centenária. Nasceu quando Crateus dava os seus primeiros vagidos. Era uma cidade que nem a aurora alcançara. O Trem ainda amaciava os trilhos por onde deslizaria aventuras e façanhas. Francisco, seu irmão menor balbuciava suas primeiras palavras. A Professora Rosa chegou como surgem as rosas, orvalhada de ternura, com um céu brando de paz. E no horizonte se descortinava uma luminosa aurora de talentos. Rosa veio ao mundo quando as estrelas se arrumavam nos céus. E quando os mesmos céus divinos se vestiam de beleza e formosura. E já era verão. Mas o sol bramia em raios doces, amaciado com uma brisa que balançava a cambraia sagrada da vida. Como se fosse uma bandeira tremulando pela paz. Como se Deus, neste bródio maravilhoso, retomasse o seu cinzel e completasse com o seu olhar piedoso a sua fantástica obra criadora. Assim iniciou sua invejável empreitada a nossa querida Rosa. Nascia no ninho amoroso de Dona Conceição e do Sr. Zuquinha, a filha predileta de Deus. O salmo reza que a graça de Deus transborda por toda a terra. Rosa é fruto da inundação desta graça em todos nós que a admiramos e a amamos. Ela é este moto continuo de esperança  e de serviço em prol de tantos. De uma inquietação missionaria. De uma predica convincente. Tornou-se a Teologia do Serviço. Serva servidora. Simples e silenciosa. Sem alarde. Sem trombetas e sem fanfarras. Produtora do leite bom da humanidade. Despida da ingerência desviarada da vaidade. Foi dia a dia construindo esta sua fantástica caminhada. Consistente e sabia. Trabalho profícuo e talentoso. Com os seus pinceis pintou os quadros da vida, retocou os dramas do povo, com a tintura de sua alma maravilhosa. Hoje esta casa histórica, altar sagrado da nossa infância, deixa que os turíbulos se incendeiem com os grãos de incenso do saber, com o perfume da dedicação e com a luz da ciência. Um obrigado a Deus pela vida de uma pessoa tão maravilhosa. Que hoje mesmo  com a tocha de Diógenes  não se encontra pessoa de sua estirpe facilmente. Ela é a instituição histórica mais valiosa de nossa terra. A conduzimos nos andores dos nossos corações. Como um sacrário repleto de tesouros. Como um cibório santo que agasalha as virtudes divinas do compromisso. Da inquietação libertadora da promoção humana. Ambula que alberga os procederes de uma vida irretocável de cidadã a serviço do mundo. A,  serviço da historia. A serviço da educação. A serviço da Pátria. A serviço de Deus. A serviço de todos nós. Parabéns Professora Rosa.

Fortaleza, outubro de 2012

Jose maria bonfim de Moraes, da Academia Americana de Cardiologia.

terça-feira, 23 de outubro de 2012

sem título


o que é esse papel em branco onde sangro meus dias, onde lanço todos os meus sonhos e frustrações? pobre papel tem que aguentar tudo, porque tudo lhe cabe e lhe cai bem, até quando pega mal. eu escrevo porque não aguento carregar tudo sozinha e o papel branco e em branco, tão diferente da minha pele de cor negra e cheia de veias e pelos, divide comigo esta sobrecarga que me deixa de quatro ou me levanta. ah, o que estou dizendo, se escrever é uma dor de barriga, é um pouso forçado, é um quarto escuro e desacompanhado. escrever é um parto aos sete meses, é um aborto aos três. escrever é uma cólica menstrual, é um amor dividido, é um tênis velho, é o cabelo que insiste em cair nos olhos, é um cheiro de perfume antigo, é uma foto feia escondida, é o lençol rasgado, é a calcinha desbotada. escrever é cangalha sem azeia, é cavalo sem arreio, é rio sem sol. escrever é uma lágrima entalada na garganta, é uma chuvarada em dia de festa, é sal na ferida. escrever é uma dor fina de transa sem gozo, de partida sem abraço. pra mim escrever é sair em busca de precipícios, é se jogar sob um carro, é cair nua no asfalto quente. e ainda tem mais, escrever é deitar com porcos, é passear com os vira-latas, é voar com as andorinhas. escrevo porque canso de mim mesma, porque preciso que o mundo me caiba, porque não suporto um dia inteiro de realidade. 

Karla Gomes

Elias de França disse...
É equilibrar-se no fio da navalha, escandalizar-se da propria solidão, desentulhar os prantos num papel branco e em branco... é tanta coisa e quase nada, talvez, somento o jeito de não suportar, ja suportando, uma vida inteira de realidade.
Emocionante!