quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

SLIDES

Rogerlando


Miríade de borboletas amarelam o ar e o dia.
Na América o medo inibe voos e susta e mata
- Já é de penas e escamas os olhos da gélida estátua que vigia Manhattan.
Labaredas vermelhas de um titânico dragão localizado na Ásia sorve o ar e oxigena
o que somente existe cifrado: no câmbio o âmbito do mundo não vale o sopro de um esfolado.
E não tendo sido escrito o poema proibido de ser dito se recita silêncio.
Lio-o abertamente na mente daqueles que, feito eu, querem ir e vir e
respirar, sem grades, o mundo.
Despossuídos de liberdade são liberados a proverem-se de mercado e trabalho
se de inanição morrem as ilhidiotologias que previram animalizar humanos
servando com gente populações de cadáveres.
O mundo transita.
Não sou indício de nada se indico por satélite o oceao Índico
ou à distância identifico sentimentos que aproxima
amor e ódio e ânsias de morte e de matar: tudo na gente rima.
Gramáticos nem bem a revisam a língua cobra trocar
a pele da escrita ao soar das mutações: quando ao ser fala, dita.
Milhões de faróis vagam nas ruas varando rumos aos seres sem luz
- Literatura não é luz, mesmo se luz do que somente se fita na escuridão:
A luz dissolve o ser e o devolve ao cerne, onde, falho, vejo-me pleno.
Um homem sozinho estarrece toda a civilização
exploda, cante ou nos force a dançar à alucinação de se ter por estrela - e pop.
Estelar, um poltro selvagem na Mongólia acaba de sumir
catalogado e devidamente arquivado em bytes.
Algo fez sumir minha sombra enquanto eu encandecia
- O contrito e o irrestrito não se cabe escrito.
O eu não é lírico, megalomaníaco quer-se épico e acaba por ser,
se insolente, feito eu, meramente poético e, se solene, cerimonialmente patético:
limado, estudado, rimado, classificável, concretizado - ou métrico.
Camaleão se confunde não altera - integra-se à miragem: interage.
Eco não mia, miam milhões de gatunos e nem são gatos
os ratos de Paços corroem maços de papel e moeda e a massa moral.
O Phallos venerado nas antigas civilizações, em bytes escandaliza
mas não é mais porno do que outros elementos sagrados que também se comercializa.
A burca desnuda o regime que se ocultA lá de quatro
em Teerã de bunda de fora oram Aiatolás.
O que se torna alegoria de um tempo transcende.
Transpareço por onitorrinco se, brasil, transpiro o continente nordestino.
Na Austrália me estranham por marsupial americano, lá sou um gambá.
No Pantanal o poeta João de Barros fila a língua
untada de matas bichos insetos e se se farta de etimologia e água
cria sapos gramáticos que, enfáticos, saltam classes e originam palavras por girinos e grilos.
No matagal da língua a vida está sempre se a.bolindo.
Se engole o que a devora devolve ao agora o que o ser siga engolindo.
A raquítica criança hatiana que me aparece sorrindo
premiou o fotográfo e a galeria numa expor em Paris.
Prêmio de crítica e público - gente sensível à arte fácil se humaniza
se a vida se esgarça e radicaliza.
A realidade não rivaliza, ridiculariza.
Não há poesia, na miséria há a frágil e brutal humanidade
crua e brutalmente exposta - e a gente gosta
e expeciona o ambiente e se pressente a presa ao prêmio se abandona.
Isso não é um poema, galeria de cada imagem que se desdobra em infinitos links
e a minha revelia aleatórias alegorias camuflam o que confabulam.
Um nativo da Sibéria se veste de pele felpuda e branca contra a neve
para que não falte foca ao abate em Quebec e pelos aos animais das passarelas.
Etnográfos registram populações indiginas que não existem indiginas
- O humano não cabe senão humano mesmo se humano não se sabe.
Há ursos, não há abutres polares nem no mundo de Alice
mas ante certos homens um arrepio me alerta sobre carniceiros frios.
Um nome proferido em todos os idiomas busca um único ser a ser banido.

Suspendo este escrito que o mundo se precipita ainda mais infinito ao esgarçar-se grito.
Cesso o escrito, não de me abandonar ao que fito.

Grito, precipito-me ao infinito.


Sobre o poeta
Um homem de várias facetas. Isso se pode falar, sem medo de errar, de ROGERLANDO GOMES CAVALCANTE. Todas elas voltadas para a produção artística . Com efeito, é na charge, no cordel e na combinação criada por ele dos dois (convenientemente denominada charge/cordel) que Rogerlando acentua mais o espírito criativo e crítico. Mas também há espaço para o desenho, para o ensaio, para a música e até para as histórias em quadrinhos nessa salada. Não por acaso, ele é um dos compositores do hino de sua cidade, Independência, localizada no Vale de Crateús, a 310 quilômetro de Fortaleza. (...) Thiago Barros –especial para O POVO. VISITE O BLOG DO PEQUENO: http://www.rogerlando.com/CHÃO INAUGURAL -2009, obra de estreia. O próximo livro, A MÁQUINA DO MUNDO, está no prelo.
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Elias de França disse...
Decerto, poeta Rogerlando, um grande poema. Grande apesar de extremamente enxuto, conciso, objetivo, nu e cru. Um poema, sim, mesmo sem pretendê-lo, afinal, "Não há poesia, na miséria há a frágil e brutal humanidade crua e brutalmente exposta - e a gente gosta". Concordando, eu diria que, de fato, não há poesia em nenhum recanto desse contexto global, tria das 5 agencias que nos vendem caro o que querem que creiamos ser em manchetes o mundo, verdade ou não. Há sim, alem da brutalidade exposta, os olhos do poeta, que, como na foto, se lançam no infinito, cósmico ou virtual, atirado, precipitado, tresloucado, como um grito lançado desses nossos fins de mundo – Caratis/pelo Sinal (que embora fim, fazem parte, mas em nada influenciam no resto... ou o resto é aqui?) - como quem exprime um desabafo para nada e ninguém. E em tempos onde se leem bem menos coisas inteligentes - enquanto a preguiça, a falta de sentidos e inteligência nos amordaça e nos faz surdos-mudos – e se preferem viver mergulhados num “paiol de bobagens”, surge o olhar poético (ou a visão), corajosamente convertendo a avalanche de catástrofes ou futilidades em bons e teimosos versos prosaicos. Há os que veneram os Deuses, outros os ídolos, outros os sábios, gênios, ricos... Eu, cá de minha pequenez, saúdo a teimosia... de fazer sei lá o que! Do jeito que todos desaconselham. Parabéns por insistir com a poesia, fora ou em moda, grande ou pequena, confusa ou compreensível.

segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

MINHA TERRA QUERIDA (Isis Celiane)


Tanto tempo sem ver meu povo
O solo que me serviu de berço quando nasci
Terra de sol escaldante e brava gente
Lugar nenhum é como o meu Piauí

Eu aqui com minha saudade
Revirando fotos na lembrança
Recordando os rostos, as ruas e as vozes
Sofrendo até onde a memória alcança

Novamente em solo nordestinho
Longe, porém, da terra querida
Que deixei ainda infante
Terra distante, jamais esquecida

Cada vez que visito minha gente
Trago na bagagem tanta saudade
Tantas lembranças dos dias bons
Que saudade da minha cidade!