sábado, 25 de junho de 2011

O amigo dos anjos

Foto: Evilázio Ferreira

"Apago o incêndio do olho
com um simples gesto da mão.

Ando com minha bengala:
a perna esquerda mecânica.

Sou o fantasma de minha rua.
O aleijado mais trágico do meu país.

Ninguém me ama
mas sou amigo do Anjo.

Não negocio a paz do morto
nem o silêncio do meio-dia.

Caminho à sombra de Deus.
O sol me ilumina.

Durmo todo o inverno, à beira dos rios.
Acordo no estio com o canto das cigarras.”

(J.A.P)

Ele, que nunca foi íntegro nem inviolável (a provar isso suas mil e duas contradições, seu corpo magro e vulnerável, que sofreu horrores até tombar triste e bestamente no asfalto ainda molhado das últimas chuvas de julho de 2008), nunca pensou em reconhecimento póstumo, dizia a qualquer um que a cota dele queria em vida.

Com sua costumeira lucidez sabia, mais que todos, que morrendo o corpo dificilmente sobreviveria por muito tempo a obra, mesmo a sua, que também sabia mais que outros de seu perene valor.

Mas desconfiava de nossa memória urgente, curta.

Dia três de julho próximo completaremos três anos sem seu corpo magro, sem seu riso simples, sincero, escandaloso e triste.

Mesmo sabendo que sua sombra incorpórea (e sem faltar um só de seus gestos físicos) continua transitando pelas ruas desertas do Benfica.

Continua todo domingo, impreterivelmente, indo à missa na igreja de São Benedito, acompanhado de seus queridos Antonin, Jamaica e Alessandra.

Ele continuará sendo o velho fantasma de preto escanchado no arame farpado dos quintais de nosso conformismo. Misteriosamente colhendo o silêncio com suas mãos invisíveis e tecendo uma mortalha com o nó dos dedos para vestir o próprio corpo magro.

Mesmo sendo hoje apenas um retrato destituído de cor e dependurado nas paredes da velha casinha amarela da Vila Cordeiro, o sabemos vivo, vestido e nu, louco e poeta. Acima de tudo um poeta, lúcido e louco, refletido nas mil luas, nos abismos bem fundos dos poços. Continuará como aqueles místicos intocáveis e impossíveis, que viveram sem jamais se conhecerem.

Por isso santos.

E que jamais conhecerão a morte.

*   Singela homenagem aos três anos de ausência física de José Alcides Pinto, usando frases de seu poema “Eu”.

Pedro Salgueiro
Colunista O Povo

quinta-feira, 23 de junho de 2011

A Orquestra Morais Rolim

No transcorrer do tempo, os fatos marcantes acontecem deixando lembranças imorredouras nas mentes de muitos que presenciaram ou participaram de tais acontecimentos que a cada dia se transformam em recordação e saudade.

Crateuenses que viveram em décadas passadas não desconhecem a existência do Instituto Santa Inês, escola primária particular reconhecidamente como a melhor de Crateús, no final da década de 1940 ao limiar da de 1950.

Fundado pela professora Francisca de Araújo Rosa (Madrinha Francisca), que tinha em mente para os seus alunos, a construção de um futuro promissor, ainda distante, com base nos moldes da boa educação. Muitas práticas educativas adotadas por ela em sua escola, são válidas até hoje.

O Instituto Santa Inês comemorava todas as datas importantes do calendário nacional. Nas comemorações, além da participação dos alunos, tinha presença constante a “Orquestra Morais Rolim”, pequeno conjunto musical formado por alunos do Instituto. Madrinha Francisca à época, se adiantava no tempo, colocando a música como importante ferramenta para a educação.

A Orquestra Morais Rolim era integrada por Juraci Lopes, sanfoneiro que mais tarde foi substituído por Jeová; por Edson Martins (cavaquinho), Edmilson Barbosa (violão), Melinho (cuíca), Cirineu Lima (pandeiro), além de  Raimundinha Andrade, Carlos Dirceu e pelos irmãos Vânia e Erisvaldo Martins, que tocavam outros instrumentos. Eram todos alunos do Instituto.  A “Orquestra Morais Rolim” marcava presença nos mais diversos eventos: em sessões solenes, desfiles cívicos, aniversários e, principalmente nos inesquecíveis piqueniques realizados em fazendas próximas a Crateús, em comemoração a diversas datas.

A Orquestra tinha o seu hino, cuja letra era da autoria da professora Leonor Rosa, uma paródia sobre a letra da música “Tem gato na tuba”, de João de Barro, adaptada pelas professoras Rosa Virginia, Natália e Terezinha Albuquerque. A melodia do hino continua até hoje na cabeça daqueles que viveram aquela época de ouro. Integrada por alunos do curso primário, o conjunto musical tinha um diversificado repertório, executado com ritmo, cadência e harmonia. Suas apresentações se tornaram famosas pela característica musical executada no início e término de cada evento. A letra do hino da orquestra assim iniciava: Todos os dias, com alegria/ cantando sempre assim/ com mui respeito e entusiasmo/ na Orquestra Morais Rolim. Bis. Tum, Tum, Tum, Tum Tum Tum, Tum, Tum (bis) É Orquestra Morais Rolim.  Também executava o Hino do Instituto que apresentava a seguinte letra: Do Instituto Santa Inês os estudantes/ São crianças esforçadas a florir/sobraçando felizes muitos livros/aguardando o futuro a sorrir. CORO - O Instituto é a luz farolizante/onde haurimos prazenteiros à instrução/pelo bom Deus, pela virtude, sempre avante/entregando ao Brasil o coração. Na senda do dever é livro aberto/onde lemos os princípios da ciência/divisando o progresso bem de perto/venceremos na luta em diligência. Nosso lema é prenúncio auspicioso/do esforço, da instrução e do saber/ nosso desejo também é grandioso/é crescer é subir e florescer.

Morais Rolim foi um crateuense de presença constante na vida da sua cidade. Foi coletor federal, desportista e amante da música. Era flautista dos melhores que a cidade conheceu no seu tempo. Contemporâneo musical de Felipe Morais, José Furtado, José Lopes, Osterne Santiago, Murilo Chaves e José Martins, entre outros. Solícito, não esperava ser chamado para algum trabalho e com sua presença e atuação voluntária ajudou nos labores sociais da cidade. Faleceu em São Paulo no dia 12 de fevereiro de 1984, onde se encontrava em tratamento de saúde, sendo sepultado em Fortaleza, onde residia há anos.

Em sua homenagem a Câmara Municipal de Crateús nomeou “Morais Rolim” a Rua lateral ao Hospital de Referência São Lucas, seguindo em direção ao nascente, cruzando com as Ruas Manoel Idelfonso e Maximiano Barreto, até encerrar na Rua Juvenal Galeno.

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Dedico esta matéria à Maria da Glória Monteiro Ferreira Bonfim, que estudou no Instituto Santa Inês e à professora Natália Albuquerque, que colaboraram com o feitio da mesma.

Flávio Machado
Cronista


Raimundo Candido disse...

Flávio Machado, guardião do baú de nossa memória, sentinela de nosso passado que é o presente que sobrevive a lembrança humana. Vejo-o sempre no zelo e no cuidado de preservar, de valorizar o que se findou, como bom cronista que és, meus Parabéns!

Raimundo Candido
Quinta-feira, 23 Junho, 2011


Silas Falcão disse...

Flávio Machado, parabéns pela crônica. Lembrei-me da Madrinha Francisca expandindo sua alegria pelos salões do Caça e Pesca. Ela gostava muito de dançar.

Abraços.
Silas Falcão
Sexta-feira, 24 Junho, 2011

quarta-feira, 22 de junho de 2011

ALC realiza excursão de pesquisa histórico-antropológica

  Está marcada viagem para o Estado do Piauí

A Academia de Letras de Crateús - ALC em parceria com a Secretaria de Educação de Crateús partirá nesta terça-feira rumo à capital piauiense, com o objetivo de pesquisar antigos registros em busca de novas descobertas para a construção do livro o centenário de Crateús. No roteiro, outras duas cidades deverão ser visitadas: Castelo e Oeiras, esta ultima a antiga capital daquele Estado.


A ALC tem 12 (doze) poltronas garantidas, aqueles que tiverem interesse e disponibilidade arrumem as malas, os gravadores, as câmeras e vamos em busca de nossas raizes!



Partida: 28 de junho de 2011

Horário: 05:00h da manhã

Local: Sede da ALC – Rua do Instituto Santa Inês, 231 – Centro
Os interessados deverão confirmar suas presenças na viagem o quanto antes.





“A história é êmula do tempo, repositório dos fatos, testemunha do passado, exemplo do presente, advertência do futuro.”

Miguel de Cervantes

terça-feira, 21 de junho de 2011

                                                                Um Tributo Matemático
                                                                                         (A Rodrigues Neto, um avatar)
                O caminho começou a ser traçado há cinco mil anos e já era o caminho de amanhã.  Ainda auscultamos aqueles primeiros passos inseguros e receosos que alguém ainda persegue e repete sucessivamente nos dias de hoje. Mas, na realidade, tudo que havia até então denotava este caminho, como uma placa sinalizando: É por aqui, sigam-me!
                E foi extraordinário! E está sendo admirável esta história que simples palavras articuladas imperfeitamente e com hesitação não conseguem contar minuciosamente em toda sua magnânima grandeza. É preciso que se ouça a amplidão de um silêncio incomensurável para suscitar as partículas que formaram seu genoma e que são, na realidade, partes de um bem maior, saídas daquele momento inicial, onde tudo se compôs e se aperfeiçoou, nas mãos de Deus. Ao escrever seu livro do universo, único best-seller escrito com divino papel luzidio, Ele gravou em letras garrafais assim: Tenho em mim todos os sonhos do mundo que se realizarão por obra das entidades simbólicas e numênicas e que levam meu anseio e o desassossego de toda realização preso numa eternidade.
No cerne de tudo que é grandioso há segredos, há mistérios que a humanidade atenta incansavelmente em decifrar. Mesmo que vá às profundezas dos abismos, que se desfolhem todas as florestas, que se saboreie a cintilação dos  raios , se perscrutem os rimbobados dos trovões, ainda assim, se não for um enigmático Avatar , nada decifrará. Mas se o espírito milenar de um anacoreta te for alicerçando a alma, alargando teu espírito, e se implorares com voz mansa em súplicas mil, em fatigantes rogos, aí sim, o segredo se revelará.
Foi assim no começo, será assim até o fim. Desde quando o profeta de Sámos, anunciado por Pítias, conhecido como o velho Pitágoras desvelou o primitivo discernimento e proferiu que todas as coisas são números e o número é a lei do universo que uma legião de seguidores perscruta incansavelmente essas pisadas, passo a passo, na estrada pedregosa de minas. O soberano Euclides afirmou, lá em Alexandria, que a trilha da matemática não era a mesma da realeza.  Arquimedes, o dá eureka, elevou-se com seus belos escritos geométricos.  Apolônio assombrou a escola de Atenas com suas cônicas. Diofanto veio fundando uma nova vereda pela álgebra e pelos cálculos simbólicos. Hipátia , a mais ilustre das sábias anônimas que se tem notícia, evidenciou o mundo grego, completando esta relação de incalculável valor.
Por mais que processe essa enumeração de seres extraordinários, duendes, magos, profetas versados em números feitos os poetas, que aqui acolá vagueiam por entre nós, no intuito de decifrar os mistérios do mundo, a lista nunca dará quorum. Sua incompletude se fará em virtude de um sem fim de mistérios, um infinito contido no infinito. E se paga um preço por ser aclamado no palco da genialidade, um sofrido tormento se apodera dos momentos que não se usam para a busca, como se decifrar o mistério fosse a única salvação.
                Um avatar vagueia entre nós, à sombras de seus sólidos geometricamente platônicos de faces vazadas, como o olho do infinito nos ligando a uma antiga Atenas. Um mago perambula entre nós, com seu raríssimo laboratório de experimentos matemáticos que asperge os teorema feito poemas, comprovado o que disse Waierstrass, um professor de matemática da Universidade de Berlim: Um matemático que não é também um pouco poeta nunca será um matemático completo! Seja bem vindo, Netão! Vamos beber água do rio Poti e se inspirar, que aqui é nosso chão!

Raimundo Candido

segunda-feira, 20 de junho de 2011

Registros



Teu cheiro
vem nos meus cabelos
Teu gosto
na minha boca
Teu sorriso
nos meus olhos
Tua voz
nos meus ouvidos
No meu corpo
registros.

Karla Gomes

Raimundo Candido disse...


Aleluia! Congratulemo-nos! Habemus mais uma poetisa na nossa Academia e daquelas que traz o sopro das sibilas, que outorga asas e sentimentos nas palavras!

Parabéns a ALC!
Raimundo Candido
Segunda-feira, 20 Junho, 2011