segunda-feira, 10 de junho de 2013

O Pintor


                                                     (Aos pincéis de João Batista)

Um dia, sucedido deleite
na rua da beira do rio,
uma inspiração dizia-me:
Bom dia!
Eram os pinceis fervorosos
do mestre João
que já se achavam inebriados.

Um dia,
pela janela descerrada,
qual tela visionaria,
pasmos, meus olhos liam
o escoar do  Poti fluvial
em aguado pincel de um Portinari
e o emanar do sertão cordial
afeito aguerrido Picasso.

Um dia,
as coisas avivadas verteram
em magia de um Da Vinci, 
fluindo no expressivo plasma
expelido na doce janela
como luzidio arco-íris no ar.

Um dia,
porção de findo instante,
quando um encanto emergia
germinando  flores,
a mão do poeta-pintor
adormeceu no tempo,
mas pincelou as águas revoltas
em memória estática
arrebatadas nos remansos
e nos delírios inesquecíveis
do Poço da Roça.

Raimundo Cândido