sábado, 31 de dezembro de 2011


Juízo Final

Não chores!
É verdade.
Chegamos ao extremo
supremo das eras!
Há 14 bilhões de anos
que a poeira se assenta
e, inevitavelmente,
fecharemos para balanço!
Um estranho alinhamento astral será o sinal,
o sul engolindo o norte num gelo antártico,
banhará meu sertão em ondas de mar,
feito os primitivos oceanos que se exaurem!
Desse Armagedon,
ou Apocalipse, como queiram,
se procriará um novo e geológico mapa,
num quadro sinóptico de Juízo final.
E confirmaremos Nostradamus arcaico,
 até os arqueológicos Maias,
antes que o ultimo grão de poeira caia!

Raimundo Candido

Hoje você me vaticinou
Isto que está acontecendo
Em nosso pobre planeta
Rumo a miseráveis desditas,
O mar invadindo a terra
Fazendo estragos incalculáveis,
A clamar desesperado socorro
Nossa natureza maltratada,
Toda devastação impune
Em que o desatino impera!!!

terça-feira, 27 de dezembro de 2011

Os poemas? Benditos: não envelhecem!

Dizem que algumas coisas não envelhecem:
o amor, os sonhos, os poemas... Benditos sejam!
Ha 11 anos, carrego nas costas um poema
que nascia com o novo milênio
tão menino, tão franzino, tão magrelo...
já nascera, porem, menino-velho!
Daí, só renova, so engorda, só encharca...
está obeso e vive a me escambichar.
Não vou mais chamá-lo de poema,
para ver se me livro dele,
maldito ditado
que transcrevo abaixo:

VELHOS TEMPOS DO FUTURO

Elias de França

Amanhece, e eu de novo à janela.
O céu continua azul;
o sol, deslumbrante, ilustra o nascente;
o mundo tem nova data marcada para acabar: segundo os Maias, 2012; e conforme Juscelino Nobrega da Luz, 27 de outubro de 2013.

Passam os bêbados de volta da noitada,
patinando na lama dos esgotos da rua,
tropeçando em latas de cerveja, copos plásticos,
aspirando poeira, vômito, enxofre...
detritos do homem descartável
em festa de reveillon.

Ainda sobre a calçada,
toda a vizinhança em sacos de lixo
de um ontem tão distante...

Zé Porfírio ainda vive, servindo raro leite, na sua velha carrocinha -
mas já não lhe sou freguês:
hoje bebo pó sintético de cereal transgênico,
dada a intolerância à lactose;
o jegue Stalone não teve a mesma sorte: foi atropelado por um caminhão,
não sem antes ter matado minha muda de palmeira,
e em seu lugar plantei um pé de Nim Indiano.
Totó-da-Bodega faliu!
Aí escapuliu, se aposentou e mudou-se para a capital.
Agora passo o cartão no supermercado da cidade,
E sigo pendurando faturas aos fins dos meses...
A casa vizinha virou uma lan house, um cyber sem café, sei lá o que mais...
os sons sintetizados de supercarros de formula 1, nos games,
redundam em meus tímpanos...
Morro de saudades daquele cheiro de CO2 colorido de cinzas, que enevoava toda a rua – Não desse gás catalisado, incolor, insípido e inodoro,
que todos devoram sem tapar o nariz
e nos dilacera oculto os brônquios -
e do barulho cansado da velha Brasília vermelha,
há dez anos vendida no quilo para o ferro-velho...
A banda militar, ao longe, estranhamente,
ainda toca os velhos refrões,
ensaia as “antigas lições”,
de coturnos em teimosia com o asfalto,
enquanto jovens praças
rondam minha rua em modernas volantes.
Vez em quando, tais coturnos se divertem chutando-pisando estudantes e professores, nos campus ou na casa do povo...

Não há robô algum a recolher dejetos,
nem naus espaciais zanzando em meu beco.
Nem mesmo o carro-pipa que abastecia os baldes nos socorre,
pois se encontra no prego no quilômetro 15 da rodovia,
com o diferencial quebrado
e não se fabricam mais peças para sua manutenção...
Aí bebo água tônica comprada a preço de prata
e me banho no canal,
que um dia já foi um rio com nome indígena,
cuja pronúncia me foge à memória...

É 2012, como se fosse ontem...
um ontem tão distante
que insiste em não desaparecer,
com todos os seus resquícios
da “parte rudimentar” da história humana...

É 2012, igualzinho ao ontem,
o ontem tão distante
que não desapareceu,
com sua pobreza, seus males e fracassos...
É 2012, o mesmo que ontem,
que tanto mais mude, tanto mais cresça, tanto mais se modernize,
tão mais velho fica o ontem,
assim tão distante e tão presente.
E eu que tanto já ralhei, gritei, indignei...
continuo a ter amigdalite na garganta operada;
tempero de veneno o repolho, prevenindo a teníase;
respiro caltin para não morrer de dengue;
tomo resignado meus coquetéis de pílulas diários,
um para cada mal,
e tomaria até a vacina contra a gripe suína, se houvesse, ao menos, uma dose disponível...

e vou ao templo todos os dias
louvar ao criador
pela graça de ver a aurora do novo ano,
que me nasce à minha imagem:
enrugado, esclerosado, demente, insano...

Epitácio Macário disse...




Eu conheço bem esse poema, que está mais encorpado porque mais real. E conheço não apenas de oitiva, mas de vida mesmo. Pois sou um dos que privou da companhia cotidiana deste "velho poeta" por alguns anos, na primeira juventude. Já o citei em crônica intitulada "presente de natal", não por protocolo, senão porque sua mensagem se impunha.

Raimundo Candido disse:

Existem os poemas tradicionais, os poemas livres, os poemas sujos, os poemas práxis, os poemas concretos, os poemas experimentais; são tantos, que é bem difícil a gente enumerar todos. Li agora mesmo, para minha surpresa, um poema caramujo! Uma concha que foi se formando nas costas de um menino magricelo até se compor nesse caracol poético que nos brinda com uma aurora de um ano  novo... Feliz 2012, poeta, profeta Elias!

Há pouco li que perguntaram numa competição estudantil do antigo rádio - em que século foi descoberto o Brasil XV ou XVI - o que deu uma polêmica danada, acabando por encerrar o programa. A mesma coisa aconteceu em 1º. de janeiro de 2000 quando toda a midia saudava um terceiro milênio que ainda era segundo. Porém, me permitirei fazer um exercício numerológico - que se repare a mudança na "quilometragem", de 1999 para 2000 não restou qualquer dos passados algarismos. Será que esse fato não teria influido de alguma forma em nossas percepções extra-sensoriais? Afinal o que nos afetou ao ingressarmos no "buraco negro" desse fantástico limiar?

Elias de França Disse...
Alberto, você levanta uma questão muito relevante... Como todo mundo eu pensava que o novo milenio começava em 2000. Esse poema, de fato nasceu em 1999, e o ano que repetia era 2000 (que diziam que nele o mundo ia se acabar, uns, enquantos outros que íamos atingir o triunfo tecnico-espacial). De fato, sua metáfora (um buraco negro) é muito oportuna. Em todos os aspectos - meio ambiente, economia, relações sociais, sentidos subjetivos, estruturas urbanas... tudo parece um caos, um buraco negro. Ou então somos nós que estamos em colapso sensorial e nao conseguimos interpretar as coisas com lucidez. Grande abraço!