quarta-feira, 31 de outubro de 2012


                                                   A MOLDURA
A parede da casa sustenta a moldura com uma senhora remota de cabelo em coque. Na sala ampla e envelhecida inexistem retratos do que seriam de uma família numerosa. Numa manhã, a senhora remota cedeu o espaço da moldura para sua tia, falecida no inicio do século XIX. E todas as manhãs, membros da família numerosa se revezam minutos de permanência dentro da moldura.

Do livro O colecionador de dedos
Silas Falcão

terça-feira, 30 de outubro de 2012

Ofertório


        
Eis o que ponho no altar!
 
O limo amontoado
em meus olhos,
eclipsando
a íris d’alma
nas lides do dia.
 
Eis o que eu ponho no altar!
 
A indisposição
ao impreciso porvir,
uma inapetência
à fecunda oferenda
de vida e salvação.
 
Eis o que ponho no altar!
 
Os ossos enfastiados
intentando transmutar,
pouco a pouco,
vagas convicções
em mero ato de fé.
 
 Raimundo Candido