sábado, 24 de março de 2012


                           
                                                    DEPRESSÃO

                                   O que poderia não ter sido e que foi.

                                  Silas Falcão

sexta-feira, 23 de março de 2012


                                                                          Pesca

Os contadores de histórias – alguns até diplomados pela SABI-Crateús e respaldados pela exímia instrutora e consagrada atriz Karla Kafka – dizem que quem conta um conto...aumenta um ponto!
Fui frequentador amiúde, até recentemente, de uma Bodega em cuja porta principal havia uma placa com os dizeres: CONVÍVIO PARA CAÇADORES, PESCADORES, CONTADORES DE HISTORIAS, POETAS E OUTROS MENTIROSOS. Foi lá que colhi incríveis ficções, todas recheadas de espetaculosas fábulas, felizmente não desenvolvi este terrível hábito de faltar com a verdade.
Passei a entender essa despudorada habilidade examinando alguns pescadores e sei que não existe essa de mentir pouco ou mentir muito, quem mente, mente, é uma consequência  patológica heteronímica de Pessoa, o poeta, que diz que o principiante mentiroso logo se converterá num profissional da lorota. Mesmo assim sinto-me bastante inseguro, pois o  grande filósofo Sócrates, se não me falha a memória, uma vez falou: Quem mais conhece a verdade é quem mais é capaz de mentir. Eita, me vem mais este increspo, já daquela época.
                Ora, se até uma complexa teoria científica respaldada pelos cabelos grisalhos do bioquímico Oparin, afirmando peremptóriamente que todas as formas de vida que perambulam por aí, descendem diretamente de uma molécula primordial que, de uma hora para outra, resolveu sair pulando das águas lodosas de um rio, fazendo com que este inconsequente biólogo russo perdesse o direito de caminhar livremente pelas ruas da sua própria cidade, ao apresentar-se com um ar todo darwiniano a medida que sua lorota ia ganhando autoridade.
Ora, ora... muitas vezes eu vi, com esses dois olhos lamurientos, saírem das águas serenas do Poço da Roça, no intermitente Poti, uns acanhados reptéis, umas lúbricas sereias que lavavam roupa nas pedras baixas, uns mirrados piaus, algumas dentuças traíras ou um roliço cangati ovado sendo puxado pelo anzol de um paciente pescador e nada mais. Mas acho que tenho o direito de coibir esse tal de Oparin de especular sobre a origem da vida.
Quem teve a felicidade de encantar-se nas margens do Poti, aprendendo com as graciosas garças, com os pacientes socós a fina arte da pescaria, passa a entender o porquê da água ser a origem da vida e é o princípio de todas as coisas, sem precisar de nenhuma teoria.
Somente quando percebemos que um poço tem seus caprichos e um rio transporta um mundo de fantasias é que revelamos as habilidades peculiares de grande arremessador de tarrafa. Como o Martin Pescador, do poeta pantaneiro Manoel de Barros, “quando, de repente, do alto da água, arregaça o cuzinho e solta sua isca de guspe. Peixe vai ver o que foi aquele guspe: antepara! De veloz arrojo Martim-pescador frecha na água, e num átimo sobe O peixe atravessado no bico! As águas remansam e rezam. Esse martim-pescador é fela.”
Um povoamento que começou com uma denominação de peixe, Piranhas, é para ser mesmo bem desenvolvido na arte da pesca. Naturalmente, pelo seu imenso rio, a espinha dorsal da região, que desce da Serra da Joaninha como um fiozinho d'água e cresce impetuoso e rouco, um Itaimanssu que vai se revestindo no serpenteado Poti, sedento, a ingerir as águas dos inúmeros riachos e deixa, aqui e acolá, alguns poços repletos de peixes pelo sertão ou se desenvolvendo artificialmente, pelos inúmeros criatórios de piscicultura que se propalam pelos açudes da região.
Quando o açude da Água Branca foi abastecido com milhares e milhares de alevinos de tambaquis, um escamoso e arredondado peixe da Amazônia que adora comer frutas, rapidamente a semente transformou-se em fruto maduro e a partir daí foi uma festa para os pescadores. Uma linha grossa, de meio milímetro, equipada com um anzol do tamanho de um dedo médio era o suficiente para fisgá-lo. A goiaba, partida ao meio, era um petisco para o colossal pacu vermelho. Mas algo estava errado, todos com a mesma linha, o mesmo anzol, a mesma isca e somente Seu Felício, o filho do Compadre Caboclo, conseguia apanhar o peixe do tamanho de um bode e arrastá-lo para fora d’água. Alguém, sorrateiramente, se aproxima do felizardo pescador, descobre seu segredo e sai alardeando: O Felício está é para morrer de fome, morde a metade da goiaba e coloca o resto como isca. Os outros pescadores matam a charada, observam que a faca que usavam ia deixando um azinhavre na fruta e o peixe a rejeitava. Em pouco tempo estavam todos comendo goiabas e pegando tambaquis à vontade.
Ali, por perto, havia outro convidativo açude, também semeado de peixes em abundância: tilápias, carpas, tambaqui, afora a gostosa curimatã de meio quilo cada, um lugar adequado para se pescar. O problema era que o dono sempre vigiava, madrugada adentro, numa oscilante canoa ancorada bem no meio do açude, equipado com colchonete de dormir, uma boa lanterna e um potente papo-amarelo do lado, quem se atreveria a ir pescar!  O Fanhanhã foi! 
Um exímio pescador, conhecedor de todos os mistérios da pesca. Aprendera com o paciente Socó-boi e o preciso Martim-pescador, dizem até que era filho de Ártemis, a deusa da caça e da pesca, e que era bem afeiçoado de São Pedro, o protetor dos pescadores. 
A água do açude estava fria e serena por aquelas horas da madrugada, e como um aquático quelônio vagarosamente, sem muita pressa, para não perturbar a paz do ambiente, desliza sobre a superfície distribuindo dezenas de metros de fio de náilon em rede de pescar. Um pescador vive grande parte de seus dias numa individual solidão, aprendendo a esperar, e a melhor hora de pescar é do pôr-do-sol ao amanhecer, nem tão cedo que não haja luz bastante para a transparência da água nem tão tarde que a viração do dia abale a serenidade do aquático santuário. A despesca de um galão deve ser feita na tranquilidade do lar, tomando um gostoso cafezinho quente, tendo a visão exata do que se pescou. O finório pescador ainda deixou uma mediana tilápia, dentro da canoa, para o desenjum do raivoso papo-amarelo.
Agora vocês me dão licença, já chega de tanta lorota por hoje,  que vou colocar a minhoca n’água, na beira do rio Poti, pois toda pesca também se assemelha à poesia e, como o fanfarrão Fanhanhã, também nasci pescador.

Raimundo Candido

José Alberto de Souza disse...
A glória de todo mentiroso é quando duvidam do que conta como aquele sujeito que tinha um pesqueiro abundante e os outros ao redor não pegavam nada. Até que um dia descobriram o seu segredo: ele molhava miolo de pão na cachaça e atirava n'água, os peixes se embebedavam e ficavam por ali mesmo, abandonando a tocaia dos outros pescadores... "Mas eu juro que é verdade!"

César Vale disse...
Por que você não envia este primoroso conto ao senador Crivela, que também é o ministro da Pesca? Talvez, ele que só entende da pescaria de dízimos para a Igreja Universal, possa tomar boas lições de como fazer uma boa pescaria. E você, querendo, pode tornar-se seu principal assessor para assuntos do Rio Poty e trazer logo a verba integral para a construção do Lago de Fronteiras. Aí,vamos ter também surubim, pintado, tucunaré, pacu vermelho e outros tantos. Com o lago, poderemos fazer um criatório de cavala, garoupa, pargo e cioba, bastando para tanto, trazer sal de Mossoró para salgar parte das águas da barragem, se4m prejudicar a produção de mandi, corró, piau e cará, peixinhos para a panela do pobre. Faz isso! César Vale

quinta-feira, 22 de março de 2012

Três escritores de Crateús lançam livros amanhã em Fortaleza


Elias de França (Presidente da Academia de Letras de Crateús), Lucas Evangelista (Tesouro Vivo da Cultura Cearense) e Lourival Veras (membro da SABI) estão entre os escritores cearenses que terão suas obras lançadas amanhã, pela Secult, na Praça do Ferreira, em Fortaleza.

Produção literária do Estado aquecida por novos títulos 

Em breve, 100 novos autores cearenses devem ter seus nomes arrumados em estantes de bibliotecas, livrarias e outros espaços dedicados à leitura no Estado, a partir do lançamento coletivo das obras financiadas pelo Prêmio Literário para Autor Cearense, cujo resultado foi divulgado recentemente.

O prêmio representa o maior investimento em produção literária já realizado pelo governo estadual, e o maior oferecido no Brasil em valor global - ao todo, R$ 2 milhões. De 317 inscritos, 110 proponentes foram selecionados e desenvolveram suas obras ao longo de 2011. Amanhã, o resultado poderá ser conferido de perto pelo público, em um espaço de exposição e de manuseio montado, na Praça do Ferreira, a partir das 15 horas. A cerimônia de lançamento, com presença do secretário da Cultura, Francisco Pinheiro, e demais autoridades, acontece em seguida, às 17 horas.

"Os outros dez contemplados ainda estão finalizando seus trabalhos, que devem ser disponibilizados em breve. Mas como já tínhamos marcado a data, fechamos o lançamento sem eles", explica o coordenador editorial da Secretaria da Cultura do Ceará (Secult) e responsável pela elaboração do edital, Raymundo Netto.

Idealizado pela Secult ainda na gestão do então secretário Auto Filho, em 2010, o prêmio tinha por objetivo estimular a produção e valorização dos autores e editores radicados no Ceará, promover a circulação do livro, preservar o patrimônio literário e incrementar a produção editorial estadual. Tratou-se de uma ação pontual do órgão, ainda sem previsão de se repetir.

"O valor investido foi muito grande, especialmente se comparada àqueles normalmente destinados à produção literária. Felizmente, também conseguimos contemplar um número grande de pessoas, o que revela o potencial do Ceará na área. É preciso dar visibilidade a esses resultados, pois eles justificam a realização de novas edições da ação", avalia Netto. Segundo o coordenador, foi a primeira vez que os contemplados receberam prêmio em dinheiro, além da verba para publicarem os trabalhos (que variou entre R$ 2 mil, para folhetos de cordel, e R$ 100 mil, para livros ou álbuns de arte).

Outra diferença importante foi a contemplação de gêneros até então ignorados pelos editais de literatura, como quadrinhos, revistas literárias, álbum ou livro de arte e selos editoriais. Além dessas, mais 10 categorias constaram no edital: poesia, conto, romance, crônica, reedição, cordel, ensaio sobre tema cultural, ensaio ou crítica literária, literatura infanto-juvenil e dramaturgia.

Todas receberam nomes de autores e personalidades cearenses de relevância, a exemplo de Moreira Campos (conto), Jáder de Carvalho (romance), Milton Dias (crônica), entre outros. "A diversidade de categorias permitiu oferecer uma gama muito maior de oportunidades. Gostaríamos que isso se repetisse", ressalta Netto.



Impacto

O edital inovou ainda ao exigir a edição e impressão das obras em editoras e gráficas do Ceará, garantindo o investimento no mercado local, e ao destinar recursos para se planejar a distribuição dos títulos, além da reedição daqueles de interesse geral. Também foi exigida a contemplação nas propostas orçamentárias concorrentes de todos os serviços editoriais necessários (revisores, ilustradores, designers etc), o que resultou em projetos gráficos mais audaciosos e elaborados.

No sentido de reduzir ao máximo a burocracia inerente a seleções públicas por edital, foram realizadas oficinas de preenchimento de formulários e de planos de trabalho.

No caso de proponentes do Interior, destacaram-se a comunicação por e-mail e o envio de manuais de apoio. Dos 110 projetos contemplados, 24 (quase um quarto do resultado) vieram de fora da capital, distribuídos entre 19 municípios, como Limoeiro do Norte, Juazeiro do Norte, Crato, Iguatu, entre outros.

Segundo Netto, todos os segmentos da cadeia criativa e produtiva do livro foram beneficiados pelo prêmio. "Por se mais amplo, o edital valorizou os segmentos do mercado. Muitos autores foram publicados pela primeira vez. A inclusão da categoria de selo editorial, por exemplo, favoreceu a criação de selos por parte das editoras e gráficas. Algumas inclusive já nos perguntaram quando acontecerá a próxima edição", observa Netto.

"A categoria de ensaio sobre tema cultural, por sua vez, favoreceu a pesquisa, ao contemplar acadêmicos que não tinham onde publicar seus trabalhos", complementa. A lista de selecionados está disponível em secult.ce.gov.br



Mais informações

Exposição e lançamento coletivo das obras do Prêmio Literário Para Autor Cearense. Amanhã, das 15 às 20 horas (solenidade às 17 horas), na Praça do Ferreira (Centro). Contato: (85) 3101.6794



ADRIANA MARTINS
REPÓRTER 

quarta-feira, 21 de março de 2012

NENEN FRANCELINO

Se tivéssemos que extrair, do imenso e singular painel da vegetação nordestina, uma bandeira para homenagear a radiosa teimosia, a valente esperança, a gratuita hospitalidade, o horizontal sorriso do homem sertanejo, certamente esse estandarte atenderia por uma sagrada madeira chamada Juazeiro

O nome Juazeiro, fruto de um matrimônio silábico do Tupi com o Português - "juá" ou "iu-á" (fruto de espinho) e o sufixo "eiro" – bem traduz o efeito da nossa “Invenção do Mar”, o achamento brasileiro e sua conseqüente miscigenação. 

A mais voluptuosa mancha de solo do município de Crateús repousa no distrito de Monte Nebo, no calcanhar da Serra da Ibiapaba, que limita o Ceará com o Piauí. Nesse distrito pujante há uma localidade chamada Juazeiro. Ali nasceu, em 12 de fevereiro de 1932, um cidadão encomendado para se aparentar com a nossa árvore símbolo: Francisco Fernandes Sales, o Nenen Francelino, filho de José Francelino Sales e Maria Fernandes de Oliveira.

O Nenen Francelino, que recentemente recebeu os amigos para celebrar as oito décadas de vida, é um permanente som de viola tinindo um louvor à simplicidade da vida. Lembra um autêntico mourão voltado, aquela forma de cantoria tradicional apreciada pelo homem do campo nas noites enluaradas. Sua história é uma chuva de estrofes concatenadas com o povo que apreciou e representou. Fez da lida um verso dialogado, sempre obedecendo à rima que o outro escolheu. 

Ao lado da esposa, Maria de Fátima Moreira Sales, dos filhos James Moreira Sales, Jane Moreira Sales e José Fernandes Sales Moreira Neto, Nenen Francelino se mantém renovado como o solo que o gerou ao receber os primeiros fios celestes. 

Fiel às origens, deitou raízes na região em que nasceu. Como agricultor aprendeu que nossa passagem pelo roçado da vida é sempre uma prosa entre plantar e colher. E invariavelmente colhemos o que plantamos. Por isso optou por espalhar sementes de bem-aventuranças, caroços de ajuda, grãos de doação ao semelhante. Trabalhou com tranqüilidade a fecundação do óvulo da pacificação. Exerceu, durante trinta anos, a missão de Juiz de Paz na região. 

A gente humilde da sua terra, identificando nele um apóstolo da causa pública, alguém capaz de “ver” a “dor” dos eleitores camponeses, o elegeu Vereador por quatro legislaturas. 

Na primeira vez em que tomou assento no Parlamento Mirim de Crateús não recebia remuneração. Aqueles eram bons tempos. Tempos de políticos vocacionados. Tempos em que a fama de um homem público era construída por sobre a rocha da coerência. Com a argamassa da capacidade de ser firme e leal. De honrar a palavra empenhada. De ser inquebrantável no cumprimento dos compromissos. Duro como os troncos das velhas árvores. Bons tempos aqueles...

Tua biografia, Nenen, é um convite à reflexão. Para que estamos em cima deste chão? Certamente, para no alimento por o sal, servir o próximo de coração, acorrentar o mau e espalhar gratidão. Eis o teu recado. Isso é que é mourão voltado. Isso é que é voltar mourão!

(Júnior Bonfim, na edição de hoje do Jornal Gazeta do Centro Oeste e na Revista Gente de Ação)

segunda-feira, 19 de março de 2012



                                                           GPS
 
                             Encontro o seu amor onde você estiver

Silas Falcão
                                 IMPORTANTE !
   Se lampião não veio à Crateús, Crateús vai ao Lampião!

             Uma belíssima música do Acadêmico Edmilson Providência acaba de ser selecionada para o II FESTIVAL DE MÚSICA em Serra Talhada/PE. É a cidade de Crateús que será representada, e mui dignamente, na Terra de Lampião. Parabéns Edmilson Providência, leve o Ernesto muito bem caracterizado de Virgulino e mostre na Terra do Xaxado que por aqui também temos talentos.