quinta-feira, 20 de maio de 2010

VIVA A VIDA!

Tomo a liberdade de invadir o espaço do blog da Academia para dizer que hoje é meu dia de agradecer, com toda a energia da alma, a graça de viver!

Segundo estudiosos, o dia 20 é o dia da sensibilidade.

Por isso, a poesia - uma das maiores expressões da sensibilidade humana - me fascina tanto.

Posto, hoje, dois poemas: um pedaço de um poema autobiográfico recente e um dos primeiros versos livres que escrevi, aos dezesseis anos.


Júnior Bonfim

RISCOS REFERENCIAIS

Volto aos barrancos de minha infância,

Às gitiranas doiradas que me abençoaram,

Às veredas escuras que me deram a luz,

Aos frondosos mufumbos que me perfumaram,

Ao estrume azul do velho Curral,

Ao piso vermelho do amendoim original

E retomo as essenciais interrogações

Que só a mim me interessam:

- De que argila fui moldado?

- Qual o húmus que sustenta minha canafistula pessoal?

- Onde aportarei em minha errante caminhada?

Se ainda estou sem resposta,

Pelo menos um alento de carnaúba carrego,

Do drama que minha tia Dalva nunca escreveu

Do alforje curado no couro dos Vieiras

Do som do pífano do compadre Pedro Cabloco:


Dos três que passaram e do derradeiro que ficou

Uma lição recolhi, uma tocha se acendeu,

Uma lamparina permanece me alumiando a alma:


Hoje sou outro!


(...)

Daquele Mondubim branco, minifúndio da alma,

Onde abri os olhos para os espasmos da vida

Recordo ainda o corpo imponente do vovô Tetero,

O benjamim eternamente verde e meditativo,

O olor do gado insubmisso, a risada dos tios,

A meiguice da vovó com o cuscuz de cada dia,

Os jovens destemidos montando os alazões elegantes,

A freqüência desprendida dos visitantes,

As barras de doce consumidas às escondidas,

O esparramado sol matinal de domingo,

As poucas flores que nunca beijei,

Os festivais de teimosia dos familiares,

A lesma reacionária grudada no pulso de alguns,

O racismo estúpido se enredando nas veias,

A alegria que bailava no olhar das donzelas,

O ritmo contagiante do fogo crepitando,

A carne conservada na gordurosa lata

E as tardes embriagadas de sorriso e paciência.


(Júnior Bonfim)

DEZESSEIS ANOS

Dezesseis anos... instante solene
É este em que inauguramos
Na agitada bandeira adolescente
Os nossos anos dezesseis...

Que poderia eu dizer-te
Pelo teu aniversário, pela minha vida?

Só posso te dizer o que é possível
Dizer uma pessoa que ama
Com amor
O que não é amável!

Tenho apenas aquilo que é tudo:
O sorriso de infância, a alegria permanente!
E a alegria te envio
Como uma carta transparente.

Eu sou, camponesa, o errante menino
Que não se banha com lágrimas
Nem experimenta roupas de tristeza.

Ando somente com uma luz suave
E tudo aquilo que me toca
Sente o poder da amizade.

Agradam-me os violões
E as músicas que lhes saltam.

Admiro os pássaros... e quando saio voando
Tenho o coração mais vasto que o horizonte azul,
E o Sol luminoso a cada dia de Paz
Afasta de mim as dores e cicatrizes.

Para esta aventura te convoco, amiga,
Como uma abelha que convida outra abelha
Para conhecer a Árvore de Mel.

Quero que a partir de agora passes
A pertencer ao que é fecundo e germinal:
À vontade de nascer – das sementes
À teoria silenciosa – das noites
À fúria juvenil – dos ventos
À claridade derramada – das manhãs
À floração colorida – das primaveras!

Sou apenas aquilo que não sou
E por isso te desejo que sejas
Aquilo que hoje tu não és!


(Júnior Bonfim, em "Poesias Adolescentes e Maduras")