quinta-feira, 19 de janeiro de 2012

Arremedando Drummond, um poema que escrevi há tempos.


RIMAS


Clarisse sonhava em ser Miss
Ernesto  queria ser honesto
Luis? Luis queria apenas ser feliz.


 Raimundo – o estraga-prazeres –
Disse com todas as letras, hieróglifos e ideogramas
Parafraseando Carlos
Um gauche lá das Gerais:

Rima não é solução. Tirem o cavalinho da chuva.

Clarisse engordou cem quilos
Ernesto entrou pra política
Luis? Que é de Luis?

 Dizem que caiu no mundo
Depois que Felicidade
Que não entrava na estória
Foi embora na garupa do cavalo de Raimundo.

CHICO PASCOAL
http://microrelatosdocheeko.blogspot.com


P.S. – O Raimundo estraga-prazeres, no caso, é só um xará seu, meu caro.  Pois você, ao contrário, nos proporciona sempre a leitura prazerosa das suas crônicas, e contos, e poemas.

 Abraço, Chico Pascoal

DEMANDA

Elias de França 19/01/2012


Abusei de consciência
Luz é meio que dor
Arde tudo ver
ter
ser...
nada crença!
Nem a escuridão me esconde tantas “verdades”
Viva a inocência!


Deem a meu deserto a miragem,
em vez da gota
o anestésico antes que o milagre
Saber nada redime
Estou em crise
de paciência
Lucidez é meio que dor...
Incandescência!


Tragam-me um poço
de ilusões
Que o ópio nos leve ao porto
da fantasia...
Um trago amargo
de bem-querença
Em poesia
sonhar é meio que flor...


Alô, freguesia,
Compram-se devaneios!
Pagam-se bem!
Anestesia...


Luciano Bonfim disse...
será uma "ode" anti-Belchior ?[não estou interessado em nenhuma teoria, em nenhuma fantasia nem no algo mais...]
abs
Luciano Gutembergue Bonfim Chaves.
Professor e Escritor.
Universidade Estadual Vale do Acaraú.

quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

CRATEÚS SEDIARÁ ENCONTRO ESTADUAL DE ESCRITORES EM 2013


Membros da Academia de Letras de Crateús participaram do I Encontro Estadual de Escritores, realizado nos dias 13, 14 e 15 de janeiro, na vizinha cidade do Ipu. O evento foi prestigiado por seis membros da ALC: Elias de França, Adriana Calaça, Silas Falcão, Raimundo Cândido, Edimilson Providência e Mestre Lucas Evangelista.
Por iniciativa da Academia Ipuense de Letras, Ciências e Artes, com o apoio da ACE (Associação Cearense de Escritores) e do SESC (Serviço Social do Comércio), este primeiro encontro foi realizado com pretensão de ser o início de uma série anual do evento.
Na programação, palestras sobre temas relacionados às letras, apresentações musicais, declamações poéticas e lançamentos de livros.
Ao final do evento, foi anunciada a Cidade-Sede do próximo encontro. O II Encontro Estadual de Escritores será realizado em Crateús, em data ainda não definida, em 2013. Na ocasião, nossa cidade deverá receber escritores, artistas e intelectuais das diversas regiões do Estado e da Capital Cearense.


Paulo Nazareno disse...
Parabens Grande Timoneiro Elias!

Valdemir Mourão, presidente da Academia de Letras do Ipu.
Lucia Medeiros, coordenadora de literatura do SESC

Airton Soares (AS) debulhando uma das suas personagens
O vaqueiro Poeta.

Esta rua chama-se Cel. Pedro Aragão. Antigamente Rua da Goela onde nasceu, em 1919, o cronista Milton Dias. Carlos Vazconcelos é outro admirador da literatura miltoniana. Ao lado direito o verde na janela do casarão de 1845, sede da Academia de Letras do Ipu. 
Ilhota - A Ilha das Cobras
              Quando minha vida era longa e podia desaproveitar meu tempo, deslumbrava-me com as ilusões da ILHA DA FANTASIA, um piegas seriado de TV. Tudo acontecia naquela paradisíaca ilha, qualquer inalcançável desejo ocorria por intermédio do poder das moedas que tilintavam no bolso do senhor Roarke, sempre acompanhado de um simpático anãozinho, o pequeno Tattoo.
           Enquanto houver ingênuas crianças e quiméricos poetas existirão os (ir)realizáveis sonhos e as delirantes fantasias.
               Pela janela em que vejo o mundo a girar, sintetizo uma luz mítica com o pó real da vida e alterno os elementos concretos com os entes abstratos de um céu azul, colado ao cinza da terra que compõem a natureza cósmica a configurar todo o paradisíaco ar que respira meu ser.
              Pelas asas ritmadas da poesia, certa vez, voei à ILHA DA MAGIA, a encantada Florianópolis, exuberante beleza em forma de cidade. Dizem que a beleza das coisas está no espírito de quem as contempla, consinto. Aguardo que as mesmas emplumadas asas me levem, algum dia, a São Luis do Maranhão, a ILHA DOS AMORES. O amor que deifica os homens e humaniza os deuses, admito.
              As ilhas são formas vivas, nascem, crescem e, ao criarem raízes, geram um monte de terra, ganhando altura e ultrapassando a linha da água, mas nunca morrem, parece-me! Embora arqueado pelo peso da minha solidão, isolado em mim mesmo, não sou uma ilha, mas conecto-me com elas, por uma estreita ponte de admiração.
              Como uma grande serpe de vidro, o Poti desenrola-se, enrosca-se no leito e corre veloz. Salta, como um escoiceante cabrito, a barragem que o sufoca. Livre, escorrega sob as firmes pontes do batalhão, e debanda, já deixando saudades no Poço do Padre. Um diedro sólido, como uma afiada cunha, racha-lhe a fronte formando dois longos braços fluviais que enlaçam a Ilhota e se alastram imensos, para abraçar toda Cidade Nova, a magistral Ilha. E vão unir-se, de novo e vertiginosamente, no estreitamento pétreo da goela para seguir seu fatal destino de rio e desaguar em pleno mar.
               Naquele dia, o filho caçula de Seu Manoel Bem-Te-Vi, com um estilingue na mão, caçava rolinhas nas matas da Ilhota. Pelo chão desliza uma vil cobra, o insensível instinto sibila avisando o inocente do perigo. Um bote certeiro o alcança. A família Bem-Te-Vi, o Zé, o Raimundo, o Seu Manoel, todos os Bem-Te-Vis soberanos daquele delta sem foz, mas de permeio, abalam-se e debandam como o Poti, por não mais vêem uma poética beleza na Ilhota que marcou época. Agora, é só a ILHA DAS COBRAS.
               Como na ilha de Queimada Grande, no litoral paulista, destruída pela serpente mais terrível e letal do planeta, a jararaca-ilhoa Bothrops insularis – que dizimou até os fugidios pássaros, inclusive os onomatopéicos Bem-Te-Vis.
                A quem diga que aquela cobra da antiga Ilhota, ainda reside por ali, infiltrada no meio de sua gente. E é esperança do povo que ela um dia morda a língua e venha a perecer com seu próprio veneno.
                No único logradouro da Ilhota, a Rua Juca Morais, avistamos uns grupinhos de desocupados, ociosos por vocação, aguardando um tolo que lhes pague uns tragos, e ainda dizem que moram no quartel geral da cachaça.
                O grande filosófo Lao Tsé, na obra Tao Te Ching, O livro do Caminho e da Virtude, que em chinês grava-se assim 道德經, disse: “ Quem conhece a sua ignorância revela a mais profunda sapiência. Quem ignora a sua ignorância vive na mais profunda ilusão”.  Rua Juca Morais, a Ilha das cobras, da ignorância ou da ilusão? Quando um cidadão está mergulhado na mais profunda probreza que entorpece até o espirito, não percebe nem a queda nem o coice. E pressinto o faro de gaviões se aguçando, para um grande tesouro enterrado nesta inconcebivel inconsciência, a infame compra de votos,  que gera injustiça sobre injustiças. Sinto o cheiro de estrume, semelhante ao da vacaria ali ao lado, e um capataz a tanger os votos de cabresto, para um velho curral eleitoral.
              A Ponte de Ferro da Estação, que suspende os serpenteantes trilhos sobre o Rio Poti, une-me a uma Ilhota que busca ser feliz, mesmo com vagas esperanças e todo o desespero comum à raça humana.  Ali, pessoas decentes, arduamente também trabalham e calam, pois falar é difícil quando não se tem um vocabulário ou uma “voz” para exprimir uma dor acostumada. E mesmo, verdadeiramente se expressando, com os olhos, com as mãos ou com a alma, um gênero desumano chamado político, não os ouve!!!

Raimundo Candido


segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

Prece à Madrugada

Às auroras,
a maestrina do coral de galos rouba-me o sono
para eu assistir às árvores orvalhadas
posarem em êxtase, qual figurantes,
em continência ao leste espetacular.


Pássaros sacodem as asas,
piam concertos improvisados,
saúdam o menino-sol, que emerge
rasgando a placenta de névoa da madrugada.


 Revela-se o dia,
mal-escondido num véu de neblina,
e a imensidão é um mar perfumado
exalando um cheiro úmido de vida fértil
e um gosto de eternidade sobre a minha carne.


 Temo que, na aurora,
pássaros sacudam as asas sem que eu os escute assobiarem,
e o sol rasgue a névoa, mas negue-me seu calor.


Temo que, na aurora,
eu tenha que esconder meus olhos do dia mal-escondido;
a imensidão seja um mar perfumado inodoro ao meu olfato
e minha carne não mais degusta o sabor de eternidade.  


 Temo, de toda minha alma,
oh, maestrina do cantar dos galos,
que tu te esqueças de roubar meu sono
e, tão cedo, deixe-me dormir para sempre,
sem aurora, sem dia, sem nada...
E as árvores orvalhadas batam continência
em homenagem última ao meu ocaso.


Elias de França, do Livro Cantigas do Oco do Mundo - 2002

Raimundo Candido disse...
Poeta! O que mais dizer... Só roubar duas palavras da última estrofe e BATER CONTINÊNCIA:  POETA!!!   POETA!!!   POETA!!!