quinta-feira, 24 de março de 2011

A.PREÇO A CLAVA

Foto publicada na FOLHA.COM.BR
Rogerlando
.
Rebelde curva-se e reza diante de sua arma.
Reza à morte para manter sua vida.
Reza à vida pela morte de quem encarna
O que ele encarna e, a reza, escarnece
- Seu Deus, sua fé, sua terra ofendida...

Deus e o homem se infeli.citam a cada prece.

Deus e o homem se contestam a cada prece.
A cada prece o ser se aproxima de quem já não reza.
Ou não ore – e deplore –, ou parle, ou verse
Por moeda, por moda, se paga ao ser e a Deus lesa.

O homem e Deus se partícula.rizam a cada fissão.
E onde a filosofia não se fez evocar ser Deus,
O homem também se afastou à imensidão.
Não de Deus, que não cultua, da sabedoria dos seus.

E o homem a cada clava, a cada conclave – enclave,
Se tem mais de ciência e a cada avanço, um recuo:
Nem fé cega, nem auto-sufi.ciência – nada que trave

Sabedoria, vivência antes de irmos ao futuro, atuo
Para que a gente possa continua bestamente humano.

No tempo corrente não correr, coerente andar sem pressa
E sem presa humana – não abater quem ainda se detém e reza.

quarta-feira, 23 de março de 2011

Clímax

Água calma,
translúcida.
Excita-se,
avoluma-se,
transborda.
Cinge-se esférica,
no tremor total
que não pode
esperar mais!
Olhos furtivos,
oblíquos,
delatam.
Orquestração
que delira,
brande
a epiderme.
Esparrama
líquida luz,
deleite sólido,
vida e gozo...

Raimundo Candido
WWW.raimundinho.hpg.com.br

segunda-feira, 21 de março de 2011



Fukushima

Toda Terra é enxofre, sal e abrasamento
de uma imensa fornalha lambendo nossos fatigados pés,
onde os gritos de Sodoma e Gamorra em desamparado dó, ecoam.

Toda Terra é um pavor bafejado da boca de um Vesúvio,
soterrando as perplexas estátuas de Pompéia e Herculano,
como um feroz dragão que nos habita desde a remota Pangéia.

Toda Terra tem um prenúncio de um insano Enola Gay
sobrevoando impiedosamente nossas imprudentes cabeças,
evacuando o flash mortal que ainda corrói Hiroshima e Nagasaki.

Toda Terra é um monte Fiji, com um pesado olho adormecido
e outro na instantânea prontidão à desdita e ao flagelo
de um inflamado rio sem foz, para ardermos em seu desprezo.

Toda Terra rodopia com um vórtice de ímpeto veemente
pelo colossal turbilhão que a nós remete o terrível Poseidon,
feito um afogado estremecimento tsunâmico de nossa secura.

Toda Terra chora, num gemido contínuo, choro aflito e monótono
pela escuridão de Chernobyl, pelas insônias de Angras, pelas Fukushimas
que agora refutam digerir a bílis e a liberar a fissão na última sangria.

Raimundo Candido
www.raimundinho.hpg.com.br