quinta-feira, 1 de janeiro de 2015

Quilombo


                                                                (À Rua Calabar­)

Se foi herói ou traidor,
não sei, não me importa!
Interessa-me o povo
que vive na Rua Calabar,
em Santo Antônio de Jesus!
O Calabar é uma rosa negra,
avermelhada de sangue,
estampada no asfalto.
Param na porta da baiana Dona Maria,
e a reverenciam:
- Bom dia, minha Preta Veia!
É o respeito mútuo de um povo sofrido!
Traídos? Sim!
Desde que acorrentados
nos tumbeiros infectos,
desde a dádiva da ilusória liberdade,
que lágrimas vêm vazando dos olhos,
e o escuro brilho honra a pele da raça.
Aqui, ali, acolá um desgarrado
lembra os velhos Quilombos:
um Canga Zumba, um Zumbi dos Palmares
com o cassetete da polícia
queimando nos lombos.
Subsistem os que aprenderam
a alegria, o labor e o lundu das mães pretas
e desfilam com glória no chão enfadonho
da Rua Calabar, como numa nova senzala,
de um Brasil Negro ainda pregado na cruz!


Raimundo Cândido