sábado, 25 de dezembro de 2010

Caros amigos.

Nosso blog, que por algum tempo pareceu tímido e quieto, agora começa a se movimentar, percorrendo diversas estradas, tendo chegado, inclusive, a outro Estado.

Quero compartilhar com vocês uma bela observação feita pelo poeta e escritor piauiense, João Bosco, no blog da cidade de Francisco Santos-PI, direcionada a todos nós da ALC:

"Prezadíssima Isis.

Através de teu último e-mail, pude "viajar" um pouco pelo blog da ALC, onde me deparei com péroloas como teu poema sobre o natal. Ligando uma coisa à outra, li, com satisfação, no blog de F. Santos, texo teu sobre o mesmo tema, cuja postagem eu havia sugerido.
A propósito do asusnto ACADEMIA, fez-me cócegas comentar conceito depreciativo externado por Fernando Jorge em seu livro ACADEMIA: Do Fardão e da Confusão: "A Casa de Machado de Assis é estéril como uma mula". Quem assim se expressa deve estar cheio de sentimentos malsãos, explindo em gotas de veneno frustrações e desgostos, quem sabe em razao de ali ainda não haver chegado. Acadêmicos da ALC, cuidem de produzir, de se reunir, duscutir e resenhar obras, sem o sentimento da egolatria e do egocentrismo, mas com o sadio desprendimento da solidariedade, do companheirismo e - sim - da sadia competição.
E tu, botão de múltiplas promessas, haverás de, em breve, desabrochar em buquês literários frutos conforme já prometes em teus poucos trablhos (divulgados), que não tardarão em aparecer compilados em livro, sonho maior de todo escritor.
Perdoem a extensão do comentário, pois muitas vezes a emoção me domina.
Saudações natalinas e a desiderata de que o ano novo traga para todos a realização dos nossos sonhos mais caros.
João Bosco da Silva"
(http://fcosantospi.blogspot.com/)

Cuidemos em divulgar nossa arte e compartilhá-la com todos que nutrem amor pelas letras, pois como brilhantemente observou o Sr. João Bosco, "quem escreve só para si, quando muito produz um prazer solitário e egoístico".

Isis Celiane.



João Bosco Disse...


Caríssima Isis,boa noite! Consegui abrir o blog da ALC, onde li muita coisa boa, produções deveras extraordinárias. Elias França: teu natal dos bichos, um primor; dá vontade de a gente, diante de tanta injustiça, desejar tornar-se animal irracional; Rogerlando: vermelho cor, vermelho ora ação, cor velmelha coração. Excelente. E o Raimundo Cândido, em cujo "verso fervilha (...)sanguínea esperança". Ótimo.E os demais? Dos outros falarei depois. Para isso é preciso que tu medigas como postar comentário do blog da ALC, pois não consegui encontrar janela para tal. Sim, e tu és fora de série. Avise para os confrades da ALC que estou com um blog exclusivo para divulgação de minhas produções inéditas. Para acessá-lo, basta digitar http//joaoboscodasilva.blogspot.com/
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Elias de França disse...
Carissimo João Bosco,
Obrigado por acessar nosso blog e pelas considerações sobre nossos poemas e textos. Qual pães postos à mesa, versos e prosas, quando compartilhados em comunhão, terão sempre melhor sabor. Para continuar postando e comentando nosso blog, você pode seguir dois caminhos: 1)clica sobre "comentarios", icone que se encontra no final de cada matéria, aí abrir-se-á a janela com os comentarios ja postados e tambem para os novos comentarios. Então é só mandar brasa e soltar o verbo. Ou você pode postar seus textos no nosso email: alcrateus@gmail.com. Teremos muito prazer em publicá-los
Saudações Literárias e até breve!

quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

NATAL SEGUNDO OS BICHOS (Elias de França)

É alvorada. O Sol desenha o arrebol no horizonte rasgando as ultimas penumbras da noite. O bem-te-vi acorda, alonga as asas, vê o mundo iluminado com um brilho especial. É um raio eterno, intenso, sublime, profundo. E pia:
- Ele vem aiiiiiiiiiiiiiií!
O cancão, de lá da moita de mufumbo, põe-se a pular de galho em galho, olhando curioso em todos os cantos, a indagar:
- Quem-quem? Quem-quem?
O bezerrinho que acaba de nascer, enquanto tenta encontrar as tetas da mãe, berra de lá:
- um deeeeeeeeus! Deeeeeus!
Do galho mais alto, o pássaro gorgoró afia sua garganta para anunciar:
- agogogogogogogoooooora!
Então, o bem-te-vi emerge em voo, subindo céu-a-pino, e do alto azul, enxerga a revelação, gorjeia seu gozo em pleno ar, depois mergulha veloz em direção a sua estaca, enquanto o galo, no seu poleiro, bate as asas a gritar:
- Jesus Cristo nasceeeeeu! Jesus Cristo nasceeeeu!
A vaca, virando-se de súbito, balança seu chocalho a perguntar:
- Aooooonde! Aoooooooooonde!
Ao que a ovelha responde com seu berro trêmulo:
- Beleeeeem! Beleeem!
O bem-te-vi, de volta à estaca, saltita eufórico:
- bem que vi! Bem que disse! Bem que disse! Bem que disse!
A ninhada de pintinhos piam sem parar:
- viu? viu? viu? viu? viu? viu? viu? viu? viu? viu? viu? viu?
A rolinha fogo-apagou repete em sequência:
- Cristo chegou! Cristo chegou! Cristo chegou! Cristo chegou!...
O vem-vem decola animado do galho, em voo rasante sobre o pasto a convidar:
- vem ver! Vem ver! Vem ver!
O peru apressa a todos, arrastando suas asas no chão e gritando alto:
- logo! Logo! Logo! Logo!
-logo! Logo! Logo!
O bando de galinhas d’angola salta do poleiro a proclamar em coro:
- que fato! que fato! que fato! que fato! que fato! que fato! que fato! que fato! que fato!
O pato acompanha balançando o pescoço e apontando a direção com o bico a exclamar:
- de fato! De fato! Fato! Fato!
A lagartixa, pregada no tronco da árvore, tentando descer, vai concordando com tudo balançando a cabeça juntamente com o pato.
Cuspindo entusiasmo, o bode pai-de-chiqueiro bodeja de lá:
- bom bom bom bom bom bom!
E o gavião rapina concorda:
- si-iiimmm! si-iiimmm!
o cavalo, o burro e o jumento soltam suas risadas, as galinhas caem na gargalhada:
-rim rim rim rim hun!
-Hoooooonn Urrrr hoon urrr hon ur hon ur hon!
- cocococococo! cocococococo!
O sabiá, tomando de seu bico de caneta, passa a gorjear sua canção típica, composta exclusivamente para aquele momento especial:
- que bom
Quem bom é ser
Estar aqui pra crer e ver
Menino deus nascer, nascer!
O galo de capina, excelente imitador que é, não perde tempo e passa a fazer coro com o refrão do sabiá, enquanto toda a bicharada se espalha nas florestas, campos, terreiros e quintais para viver um novo dia de uma nova era, porque, enfim, o mundo,desde ali, ganhara um salvador, fonte do amor, da misericórdia e do perdão eterno.
E ainda que, um dia, os homens se esqueçam serem eles as criaturas com imagem e semelhança do criador, que as luzes de natal se apaguem, que o significado do nascimento do menino deus seja associado tão somente à ocasião ideal para vender, comprar e consumir modernidades, que a figura comercial do papai Noel tome o lugar do cristo, enquanto houver alvorada e os animais enxergarem os raios do sol, haverá natal na voz dos bichos e nos corações iluminados. Pois que eles testemunharam, eles haverão de rememorar em todas as manhãs de todos os dias, enquanto houver tempo e vida na Terra.


Raimundo Cândido disse...
Excelente texto onomatopéico com uma mensagem "divina". O Thalles ( meu filho) vibrou com a leitura que fiz para ele!Valeu poeta!Sexta-feira, 24 Dezembro, 2010

SABi CRATEÚS disse...
É sempre gostoso demais ouvir suas histórias de contador sertenejo, raízes plantadas em nosso chão... é uma felicidade! É um prazer que nos motiva e orgulha. Parabéns pelo texto. Haveremos de contá-lo muitas e muitas vezes em nossos encontros de amor à arte, em rodas de criança e alegria, sempre celebrando a esperança de um mundo melhor.
Lourival
Sexta-feira, 24 Dezembro, 2010
Elias disse...
Honra-me e alegra a sorte de pertencer a um grupo tão talentoso de homens e mulheres, amantes das artes e da vida. Nossa essencia animal e sertaneja encontra morada certa no que somos enquanto meio, este ser meio entre vocês. Obrigado por fazerem as letras de nossa gente, lerem e promoverem a leitura!

terça-feira, 21 de dezembro de 2010

Natal (Isis Celiane)


Nas casas onde as luzes não brilham
Sem enfeites ou mesa farta
Há lá no canto do quarto dos sonhos
Um menino a escrever uma carta

Desenha compassadamente as letrinhas
Confusas linhas de uma clara esperança
Não é brinquedo que deseja o menino
Não há qualquer devaneio de criança

Tudo que pede a esse desconhecido velhinho
É que venha depressa e chegue ligeiro
Trazendo no grande saco das ilusões
Comida que o alimente o ano inteiro

E vai para a janela o menino
Dia após dia, sozinho esperando
E na solidão de sua espera amarga
O tempo sem trégua vai passando

Até que apagam-se as luzes e calam-se os sinos
Tudo agora volta ao normal
E o menino recolhe-se ao canto dos sonhos
À espera solitária de mais um Natal.

Elias de França disse...
Lindo, poeta! Essa me tocou bastante. Desmascara a ilusão de que a esperança é auto-aplicável e resolve a vida por si mesma. Nada contra quem aproveita os festejos natalinos para encher a paisagem de luzinhas, musiquinhas com tons tilintantes, cores, cartões de mensagens... Tais ações até podem semear esperanças, mas comida, bebida, diversão, arte... amor, tantas outras necessidades humanas precisam ter materialidade tambem na realidade concreta e não apenas na fantasia. O proprio sentido da vida fundado na ilusão é meio que um sentido sem sentido. Parabens e obrigado por nos lembrar que toda a ostentação apelativa em torno do natal não é bastante para chegar no cantinho das casas dos mais pobres.
E quanto ao estilo? Delicioso! Você acaba de nos apresentar um poema a la Bandeira!
Isis Celiane disse...
Obrigada, Elias, pela bela observação sobre o que escrevi. Percebo que os poetas são poetas em todas as situações, tranformam em poesia tudo que falam. Parabéns!Abraços...

segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

SER SEM SE RESSENTIR (Rogerlando Gomes)

No natal tudo que é humano se maravilha
e transborda todo ser - a humanidade brilha.

Brilha enfeite, presente, brilha, brilha ceia.
Brilha se excede se cede à bebida
e se inebria amor ou ressentimento - se extravase vida.

Os indiferentes também brilham transbordante humanidade
- Mesmos as mais frias e as mais ascetas pupilas cintilam.

O asfalto nos cintila e nós faróis, nós aros, nós prédios
cintilamos muitíssimo mais nos egoísmos e nos assédios
comerciais e de amor, ande pela 25 de Março, desfile na 5ª avenida
ore a Alá, vista burca e na China o vermelho
não seja das vestes do bom Noel, mesmo assim
desnude o cruel da existência oprimida
onde mais se suprima a liberdade de se rir de si mesmo,
sem, contudo, abolir o ridículo - o mal intenta elidir o bem
tornando o humor macabro também,
mas o riso não se contrita e, mesmo se atrita, vem à esmo
- O humano, a sucumbir, cintila e rir e o riso ilumina,
sem disfarce, a face da humanidade que a mais mínima faísca, me fascina:
a China não deixará o vermelho, a atingirá, Liu, o global vermelho humano.
E até a Coréia do Norte sairá do vermelho... que elimina
para o vermelho que de humanidade se contamina
que o globo ainda é a única esfera do universo que cintila
vida - e nutre a impar espécie, única ciente que cria, e aniquila.

O Natal, então, como o bem e o mal não é capital, capital à existência
humana é a liberdade de cintilar humanidade - e independência.

Que qualquer ato - acordar, rir, um beijo...um soco -, pois, nos seja vermelho.
Vermelho cor, vermelho ora ação cora vermelho coração.
E a humanidade tenha suas mãos por seu mais caro aparelho
De toque e de plantar, colher, fazer e todas as manhãs se dividir em pão
Em bebida, em riso e amor, mesmo o de intrigante rivalidade
Para que a gente, humanidade, não se ressinta de humanidade.



Um homem de várias facetas. Isso se pode falar, sem medo de errar, de ROGERLANDO GOMES CAVALCANTE. Todas elas voltadas para a produção artística . Com efeito, é na charge, no cordel e na combinação criada por ele dos dois (convenientemente denominada charge/cordel) que Rogerlando acentua mais o espírito criativo e crítico. Mas também há espaço para o desenho, para o ensaio, para a música e até para as histórias em quadrinhos nessa salada. Não por acaso, ele é um dos compositores do hino de sua cidade, Independência, localizada no Vale de Crateús, a 310 quilômetro de Fortaleza. (...) Thiago Barros –especial para O POVO. VISITE O BLOG DO PEQUENO: http://www.rogerlando.com/CHÃO INAUGURAL -2009, obra de estreia. O próximo livro, A MÁQUINA DO MUNDO, está no prelo.