terça-feira, 10 de dezembro de 2013

Minicontos Karatis

5 Minicontos  Karatis -  FRANCISCO PASCOAL PINTO


1.       Quarenta anos se passaram e a Coluna da Hora, embora lhe parecesse menor, permanecia firme em suas vértebras a sustentar  o tempo que se acumulara na sua ausência.

 2.       Logo abaixo da barragem, cangatis e serranegras encastoados  em pedra, são registros de outra era; assim como na vazante da memória ainda se emaranha e se debate na malha de rotas tarrafas com punho de crina de cavalo suas mais remotas lembranças.



3.       O “Horário” passa com seus fantasmas em hora erma (meia-noite em ponto?) e atropela seus sonhos O apito estridente, só os cães ouvem.



4.       O sanfoneiro cego na feira livre é o profeta dos bons augúrios. “Vai chover, negada!”, afirma e reafirma, sem ciência do céu límpido onde plana solitário um urubu. Duvida há. Mas só até o ribombar do primeiro trovão. Que negada aos olhos a luz, o seu nariz romano capta perfeitamente na fornalha infernal do meio-dia imperceptíveis indícios do inverno que toma chegada.



5.       Na rua Senhor do Bonfim, a velha casa. As janelas são um par de olhos tristes, cansados. Nem acreditam que ele está de volta. Passos lentos, ele observa, esquadrinha  tudo. Como quem vai amarrar o cadarço do sapato, agacha-se. E disfarçadamente cutuca com o indicador o buraco da calha que deságua na calçada. Era onde jogavam castanhas de caju. Apostado.
 “Quer comprar, moço?”, surpreende-o o atual proprietário da casa.
 “Não tem preço”, ele diz sorrindo.

 “Cuma?”