sexta-feira, 27 de setembro de 2013

PÁSSARO DA NOITE



Vi, com olhos de vidro, estáticos,

fixos no horizonte, o despachar

dos últimos raios do sol!

Vi, no silêncio iminente de um nada

o peso de tudo, feito o crepúsculo a flutuar

na perplexidade do pássaro que sou,

pousado em galho seco

para um breve pernoitar!

Haverá um novo dia?

Renascerá o deus Sol,

fundamento e fonte de vida?                                                                                            

Interrogo-me, no amplexo da noite

com pálpebras que pendem

cerrando-me no medo do breu,

dentro dos sonhos obscuros,

como revoada aflita

de asas noturnas

tal qual acalanto de ninar.

E vejo, o pássaro da escuridão

que sempre me abandona

no  vespertino crepuscular,

despertando o mesmo gorjear,

inconsolável e imperfeito canto

de meu abandono e  minha solidão.



Raimundo Cãndido

José Alberto de Souza disse...
Sentir-se vivo 
ao despertar de um novo dia 
e acompanhar o périplo solar 
na ansiedade do inesperado 
que está para ocorrer 
nas próximas horas?

O Pote


Coração de barro:
argila aguada,
curtida, moldada 
no oficio e magia! 
Forma do mundo,
circunscrita em orgia.
Anatomia líquida,
profunda, obtusa, 
de lúbrica alegria! 
Poço de prazer,
aconchego fluído, 
anseio de fria curva, 
no desapego do sopro 
ígneo da sede
afeito doce alívio
da sensual poesia!

Raimundo Cândido

José Alberto de Souza disse ...
Poesia moldada
no torno do pensamento,
manuseada
em formas sinuosas,
orgasmo da mente
que se liberta
em avalanche
de sensualidade reprimida.

quinta-feira, 26 de setembro de 2013

Pão, bisbilhotice e revolta

                                          
Nunca houve na mal contada história do Brasil uma manifestação tão legítima e espontânea brotada da índole do povo como a Revolta do Vinagre, que rapidamente deixou de ser um simples movimento local, no poluído e tempestuoso centro de São Paulo e se espalhou por todo o País, como consequência de uma desenfreada corrupção dos desavergonhados políticos e do superfaturamento dos inúteis Estádios Futebol para a Copa do Mundo em 2014, em cidades que necessitam, premente, de educação e saúde. Diziam-se, com um fio de esperança na alma: - O gigante acordou!!! Referência a uma estrofe do Hino Nacional “Deitado eternamente em berço esplendido”.  O fabuloso gigante logo voltou a dormir, pois em suas veias ainda corre o sangue avinhado dos velhos português, que por aqui chegaram fugindo do pífio rosnado de um esgotado Napoleão Bonaparte.
A história, a não oficial, conta-nos das sensacionais rebeldias contra o status quo, como em Jenipapo, Canudos, Balaiada, Farrapos, Revolta da Chibata, Revolta da Vacina, Revolução Constitucionalista de 32 e a poética Revolta das Lamparinas no pitoco de Seu Raimundo Bezerra na Praça da Matriz, como também os gritos de liberdade e dignidade dos heroicos crateuenses Luiz Mano, Zé Bezerra e Seu Ferreirinha, na época em que, se vitrines houvessem, estampadas nas fachadas, teriam sido quebras sim, e os revoltosos seriam taxados de desocupados e vândalos por alguma rádio de visão estreita, interesseira e egoísta.
Já não se fazem mais revolucionários como antigamente. Nas primeiras décadas de 1900, na Praça do Ferreira, em fortaleza, existiam em cada canto daquele largo arborizado, Cafés bem frequentados e no mais famoso deles, o Java, escritores como Lopes Filho, Ulisses Bezerra, Temístocles Machado e Tiburcio de Freitas já protestavam contra os políticos larápios, contra a fingida burguesia, mas admiravam o Pe. Verdeixa pela ousadia em expor a traquinagem de um Clero vigente, embora fosse o pior deles e detonavam tudo que fosse tradicional. O velho Bode Ioiô, um quadrúpede mal-cheiroso esquecido pelos retirantes, só se preocupava, exclusivamente, em granjear uma dose de cachaça, no eterno vai-e-vem entre a praia e a praça.
O poeta e escritor Quintino Cunha, gênio e humorista fino, bem sentado numa cadeira do Café Java, palestrava fazendo-se ouvir pelo historiador Leonardo Mota e outros literatos da época: - Amigos, para ser feliz no Ceará, é preciso nascer burro, viver ignorante e morrer de repente...
 Antônio Sales batizou aquele sacrossanto local de Padaria Espiritual e publicavam um fofoqueiro jornalzinho chamado de “O Pão”.
E por falar em pão, paro com esse habitual devaneio histórico, um recente costume que adquiri em matutar sobre as  vidas passadas enquanto ando por aí, e estaciono meu possante Del Rey na frente da padaria São Francisco, esquina da Rua Poeta José Coriolano com a Rua Cel. Zezé, pois me lembrei do que tinha ido fazer: comprar o alimento mais antigo do mundo e que vem salvando a humanidade da cruel fome, há milhares de anos, o saboroso pão.
Começar a trabalhar à 1 hora da manhã, enquanto a cidade emite os primeiros roncos de um merecido descanso, preparando uma viscosa massa de farinha de trigo monsanto, água, sal, fermento e, dizem alguns entendidos, uma pitada do nocivo bromato, sem falar em algum fiapo de qualquer coisa não identificável, não é serviço mole não, é coisa de gente determinada mesmo, sem direito a dia santo ou feriado.  
Antes das seis horas, em frente à padaria, já têm alguns habituais fregueses esperando os portões corrediços se abrirem. O primeiro que vejo é o Diassis do Mercado, vem  comprar os pães da Dona Maria, Dona Lurdes, da Aparecida e de todas as merendeiras daquele Prédio Central, que já está todo descaracterizado.  O Dedé Macedo vai logo reclamando e me informando: - Professor, o nosso querido Flamengo está acabado! E a festa da maconha, você viu? Até o bolo estava enfeitado com folhas da cuja dita! O Brasil está igual ao nosso time, sem prumo e sem rumo!
O Cicinho, um cidadão especial apadrinhado do Pai Chiquim, com um radinho ao pé do ouvido, capta as primeiras notícias do dia para sair espalhando pelos quatro cantos do mundo. Prisão, morte ou as brigas dos vereadores é o que lhe dá maior prazer em divulgar.
Outro que não desgruda o radinho do pé do ouvido é o Diassis “do Banco do Brasil”. Depois de entregar os pães que ficou de comprar para a vizinhança, parte com uma pasta preta debaixo do braço, mesmo não tendo um documento a pagar, e pega a longa fila de clientes do BB e vai soltando as notícias, didaticamente, uma por uma, da pacata vida de cidade do interior. Alguns funcionários vão logo perguntando: - E ai, Diassis, quais as novidades? Os olhos brilham, com a resposta que saborosamente anuncia: - Rapaz, o comerciante Fulano de Tal pegou a mulher com o vizinho, num namoro tão quente, mas tão quente que saía fumaça das orelhas!  O correio das notícias ambulante sai do Banco levando as informações que por lá captou com uma arguta antena, e para os comerciantes da Rua Moreira da Rocha, vai relatando: - O Fulanim do Banco do Brasil  vive querendo saber da vida das mulheres casadas da cidade e não repara que a dele, com uma roupa colada no corpo,  passa a manhã inteira com um destes personal treinador, todo musculoso! Sei não, mas essas coisas num instante viva uma boa notícia!
Ouço uma gargalhada debochada e estridente: Ha! Ah! Ah! Haaaiiiiiiiiiii!
É o folclórico Durval Bonfim, bem sentado numa cadeira esperando o leite chegar, e como sempre, nu da cintura pra cima, a alma também despida, numa aparência de deboche e ironia pela inteireza e esforço que a vida requer.
 – Cadê aquele matemático que tu me disse que sabia fazer os cálculos para a gente ganhar na loteria? Aquilo é um #@!%#@$, não sabe é de nada! Segura no meu braço e me obriga a ouvir:
  – Presta atenção que tu vai entender! São 50 milhões pra 6, está entendendo? É só fazer os cálculos!
 – Durval, porque tu não procuras um profissional da matemático para te ajudar a ganha neste jogo? Tento me livrar da pergunta, sabendo que todo dinheiro que ele ganha vai para as casas loterias do governo. E responde-me, debochador como sempre:
– Ora, ora... Matemático! Se nem o endereço do merda do Osvaldo de Souza a gente sabe! No dia em que inventaram que ele tinha sido o sortudo da Mega-Sena mil e uma amizades de conveniências, subitamente, apareceram! É o remoto e fingido interesse que une os homens!
Tenho compaixão do Durval, uma alma abandonada, remoendo uma amarga solidão e se fazendo de fortaleza, aonde a gente vê um desespero estampado nos olhos, como uma pedra detida que ameaça desabar. Um dia, Durval me chama, com o Código de Processo Civil na mão e joga na pressa de meus ouvidos um artigo, que ele, lentamente, lê: “Em falta de normas jurídicas particulares, o juiz aplicará as regras de experiência comum subministradas pela observação do que ordinariamente acontece e ainda as regras da experiência técnica, ressalvado, quanto a esta, o exame pericia.” E pergunta-me:  - Será que esse juiz, decidira pela minha causa de usucapião na casa que foi de minha mãe e aquele advogado, meu parente, entrou com uma averbação, querendo tomar?  Lembrei-me que Deus atua também como causídico nestes casos, e já que  o enjambrado Durval Bonfim está para desabar, de corpo e alma, ou então desabará as ruína da casa que ele fica debaixo, rogo que o grande Advogado do Universo o ajude.
Com um saco de “Marrocos” na mão, dirijo-me ao lar. No trajeto, “viajo”, mais uma vez,  ao Café Java, naquele dia em que o velho advogado Quintino Cunha contava suas engraçadas lorotas, e aconselhava o povo nos casos de desespero, com o pão espiritual de sua sabedoria e ouso perguntar: - Caro amigo Quintino, que conselho você manda para nosso amigo Durval?
- Caro Professor, diga ao velho Durval Bonfim que pinte de ouro aquela enferrujada espada dos Dragões da Independência, com a qual ele faz referências aos fantasmas familiares  da estirpe dos Bonfim, na antiga  casa de Dona Maria Leitão, e para não ir nu, da cintura pra cima, que arranje uma farda de General, enfeitada de muitos galardões e compadeça a audiência com o juiz pois, depois que o povo voltou a dormir, o medo maior dos políticos safados e dos  juízes que decidem pela lado que lhe é conveniente é uma fardinha verde oliva repleta de condecorações. Diga-lhe também que, se puder e tiver coragem, comece uma revolução nas Ribeiras do Poti!
Só pode ser coisa do comediante Quintino, mas para não perder a viagem, passei bastante manteiga num delicioso Marrocos , o pão do corpo, e fui saborear, tranquilamente, o livro  Anedotas do Quintino e o Ceará Gaiato, o pão da alma, presente do meu amigo e  jornalista Cesar Vale, que deve está se preparando, com a espada da palavra e o galardão da oratória, para ir, também,  a alguma audiência!

  Raimundo Cândido

PAULO MAMEDE DIVULGA PROJETOS E NÓS DA PASTA



Como era de se esperar, o diagnóstico da "saúde" atual da Secretaria da Cultura do Estado, elaborado nos primeiros dez dias da gestão de Paulo Mamede, não é bom: falta pessoal e verba, até mesmo de custeio, e sobram dívidas. Em entrevista no gabinete, ontem, Paulo Mamede pediu tranquilidade à imprensa, aos artistas e aos funcionários do órgão, para resolver os problemas da secretaria, "que são muito sérios", e anunciou parte de sua equipe de trabalho.

Mamede defendeu mudanças na Secult: "Com essa estrutura não tem milagre"

"Eu não vim aqui no sentido de botar a casa de pernas para o ar. Acho que a cultura precisa de paz, pelo menos nesse momento", reforçou. As primeiras mudanças anunciadas na equipe são, como secretária adjunta, a jornalista Ana Márcia Diógenes, ex-coordenadora do escritório do Unicef para o Ceará, Piauí e Rio Grande do Norte; e o produtor cultural Paulo Victor Gomes, no cargo de secretário executivo.

"A Ana Márcia tem uma experiência importante no Unicef. Ela vem não só somar, mas acrescentar ações na secretaria. O Paulo Vitor tem muita experiência em legislação, elaboração de projetos", pontua, sobre as escolhas. O secretário evitou divulgar a relação completa da nova equipe, justificando que os nomes ainda não foram homologados pelo Governador do Estado. Evitou também falar em troca de gestores de equipamentos culturais, explicando que uma análise caso a caso está sendo iniciada pela equipe estruturada para a secretaria. O foco, reforçou, não são intervenções pontuais, e sim uma reformulação do organograma como um todo. "Com essa estrutura não tem milagre".

                                              Balanço

De posse de um relatório elaborado por cada setor da Secult nos primeiros dia da gestão, o novo secretário detalhou os problemas estruturais do órgão, em uma primeira análise, e reafirmou sua missão como secretário, repetindo a máxima que tomou como lema da gestão, "desarmar bombas, desatar nós e construir pontes".

O engodo, segundo o relatório, começa dentro de casa. No custeio de funcionamento da atual estrutura da secretaria. Segundo o secretário, o órgão possui um déficit mensal de cerca de R$200 mil. Contas de água e luz estão com atrasos de dois ou três meses e o pagamento de algumas empresas que fornece mão de obra terceirizada atrasados desde junho. "Mais da metade da nossa força de trabalho vem das empresas terceirizadas", atesta, reforçando a necessidade de um aumento da verba fornecida para custeio pelo Governo do Estado.

Segundo Paulo Mamede, o custo da secretaria aumentou com a mudança de sede do Cambeba para o prédio do Cine São Luiz, em março do ano passado. Além de acréscimo de IPTU, conta de luz, manutenção de elevadores, a secretaria acumula novas cifras como o aluguel de um anexo e o pagamento de terceirizados, que antes prestavam serviço como bolsistas, a um custo menor, mas sem o cumprimento das devidas responsabilidades trabalhistas.

"Nós já elaboramos um estudo, entregamos ao Governo do Estado do Ceará solicitando um financiamento mais adequado. Garanto que dentro da nossa realidade, vamos ter um financiamento adequado", defendeu.

                                             Gestão

Segundo o secretário, estão sendo analisados os problemas de cada setor. A meta, aponta, é sanar gargalos, para que ao fim do mandato, entregue uma secretaria com funcionalidade e ágil em suas ações. "Nossa estrutura é uma estrutura caduca". Dentro da reorganização do organograma da secretaria, estão sendo estudadas ações como a criação de um instituto ou uma superintendência que responda pela gestão dos equipamentos culturais.


"O Museu do Ceará, a Biblioteca Pública, o Theatro José de Alencar, eles têm formas diferentes de gestão. Não existe o cargo específico de diretora do TJA. A diretora é uma funcionária pública que responde através de cargo comissionado. Isso eu quero mudar", aponta. Paulo ilustra, detalhando que, atualmente, a função gratificada mais alta da secretaria gira em torno de R$2,3 mil. "Se não for um funcionário do quadro, um abnegado, como a pessoa pode exercer com plenitude a direção de um equipamento?", questiona.

Estão sendo estudadas mudanças também em relação ao financiamento de projetos. Até novembro, reforça o secretário, um projeto de reforma da Lei do Mecenato deve ser encaminhado à Assembleia Legislativa. Antes, garante o secretário, a proposta passará por consulta pública e por uma discussão na casa legislativa. Também tem até novembro para serem encaminhados à Assembleia o Plano Estadual da Cultura, elaborado no último final de semana durante a Conferência Estadual de Cultura e o concurso público para contratação de 70 funcionários para a Secult.

                                               Virada

O concurso foi uma das ações divulgadas no pacote da Virada Cultural que até então permanecem no papel. Paulo Mamede detalhou ainda o andamento de uma série de obras, reformas, criação de equipamentos, que também aguardam. "A reforma do TJA está dependendo apenas de uma posição do Iphan. Já estou, inclusive, com contrato assinado com a empresa", ilustra sobre o andamento de um dos projetos que vinham sendo anunciado e reanunciados pela gestão passada. Paulo ressalva que o andamento da reforma dependerá ainda pauta já reservada do teatro, que inclui eventos internacionais já agendados. "O Cine São Luiz está tudo pronto para começar, a empresa já foi licitada e homologada, faltando assinar o contrato e emitir a ordem de serviço", diz. Outros projetos que, segundo o novo gestor, serão iniciados em breve são os de reforma do Arquivo Público, incluindo o geral e o arquivo intermediário; a reforma da Biblioteca Pública Governador Menezes Pimentel (BPGMP) e a integração ao CDMAC; a reforma nos galpões da Estação João Felipe para receber a Pinacoteca do Estado e o Museu da Imagem e do Som; além de intervenções na Casa de Antônio Conselheiro, em Quixeramobim, e no Memorial Cego Aderaldo, em Quixadá.

"Onde eu tenho ido, há uma expectativa muito grande, não é com relação ao secretário. É com relação as coisas efetivamente acontecerem. Há uma expectativa que as coisas aconteçam no governo. Neste momento estamos precisando que as coisas caminhem na celeridade que a sociedade exige", atesta. E completa: "Eu tenho um ano e três meses e parte da gestão acaba em março, com a questão da legislação. O objetivo da gente dotar das condições de pleno funcionamento. Este é o meu objetivo aqui".

FÁBIO MARQUES

REPÓRTER

Postagem: Silas Falcão

 

domingo, 22 de setembro de 2013

Cruz


Quem repousa ai,
      sob essa solitária cruz?
            Que ente vagueou
                  largado da memória,    
                         tal andarilho sem rumo
                              no ermo de uma vereda mortal?
                                     João, Zé ou um Chico Budu,
                                           que neste reles ponto, findou,
                                                 e imprimiu seu último passo
                                                      e  expirou seu último sopro
                                                              na margem rude da estrada?
Teria siso morte morrida,
       teria sido morte matada?
             Quem repousa ai,
                   sob essa cruz solitária?
                           Deixo uma roliça pedra
                                   e uma cálida flor
                                           em nome de N. Senhor,
                                                  como um candeeiro de Luz
                                                         e que tal andarinho
                                                                  ache um caminho leve
                                                                         que ao bom lugar conduz!

                                                                                                                            Raimundo Cândido