quarta-feira, 8 de julho de 2015

Linha D’água



Toda existência corre para o mar
como escorro na superfície d’água
deste desatinado rio que me carrega.

Estanco, às vezes, permeio ao fundo,
agarrado às pedras, porto e salvação,
atado às moitas, amparo e atracação.

Por vezes, encrespo a um vento aceso,
ondeio, ao sabor de um insosso rio
e nas endiabradas folias dos socós.

Vezes outras estagno nos poços
embrejado de desejos e medos
e do enevoado revoo das garças.

Outras vezes minhas ilusões entornam
invadindo margens, tomando várzeas
e volto a sonhar, na suave linha d’água.

Raimundo Cândido

terça-feira, 7 de julho de 2015

Furna dos Caboclos


Sob os braços da Cruz
uma Furna resguarda
seus mortos e seus ossos...
E meu ser, pasmo, indaga:
O que ouve aqui?
É tanto pesar!
É tanta tragédia!
Gravado na rocha
um desenho mostra
o seio profanado!
Uma ofensa assopra
de um fojo sagrado
no meu coração assustado
que não abrange a solidão,
o enigma e a imensidão
guardados na Furna
com muitos ossos,
seus tantos mortos...
Raimundo Cândido