BECO do VELHO LEÔNIDAS
Antes do Beco da Civil, todos os cortejos funerários, da igreja matriz ao cemitério, tinham passagem obrigatória pelo Beco do Velho Leônidas – gente famosa, gente desconhecida, gente pobre, rica, amada, odiada. É beco curto e apertado. Sequer tem aparência sinistra. No entanto, sua atenção emerge de seu símbolo da morte ou do mau agouro, ou da fama de lugar de visagens, almas-penadas e assombros. Ainda na cidade, terra do poeta José Coriolano, sempre quando alguém bate as botas, os antigos (parece que só os antigos) têm mania de dizer em meio tom: "Fulano pegou o Beco do Véi Leônidas". Ontem de manhazinha, a pequena cidade foi pego de surpresa, ao se descobrir que o velho Leônidas existia de fato, ou seja, não era só um desses nomes de agourar e praguejar. Hoje ao fim da tarde, enquanto muitos seguiam o cortejo ao repico lento e cadenciado do sino da igreja, vários moradores do beco, que de suas janelas e calçadas assistiam, comentavam burlescos e de olhos embaçados: "Valha, meu deus, seu Leônidas pegou o Beco do Véi (...)".
Conto e ilustração: Carlos Bonfim (Antonio Carlos F. Bonfim)
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