domingo, 15 de maio de 2011

O ENCANTO DO CANTAR

João Elias

Canto encolhido no canto;
levo o ritmo cá no peito.
Só sei cantar desse jeito,
mas é o jeito cantar.

Se não cantar, desencanto,
me abandona inteiro a alma;
uma canção me acalma,
assim eu devo cantar.

Se caído, eu levanto;
sou transportado ao passado,
pela canção fui curado.
Por que parar de cantar?

Às vezes fico cantando,
não percebo minhas mágoas.
Direto assim como as águas,
não suspendo o meu cantar.

Vêm as noites de saudades,
aqueles tristes momentos,
nos flechais me cantam os ventos:
é a solidão a cantar.

O Sertão seco é tristeza;
a chuva traz alegria,
canta o carão, canta a jia:
é a Natureza a cantar.

Tange a boiada o vaqueiro,
cada chocalho é um tom.
Passa o tempo, fica o som;
até aço quer cantar.

Range o galho do pau-branco,
a palha da carnaúba,
o pingo choco da chuva...
Ô floresta pra cantar!

O sabiá canta a mata;
o galo, o amanhecer.
Eu quero cantar você;
não resista ao meu cantar.

Há cantiga em toda parte.
Quem canta tem o porquê.
Vou cantar para você;
vem curtir o meu cantar.



ESCRITORES


ESCRITORES



I - Esses viventes estranhos, metidos a querer saber de quase tudo, a ser “antenas da raça”. São seres falíveis, feito quaisquer unzinhos; cheios de defeitos, pululam por aí emitindo opiniões sobre o planeta e arredores. Dariam uma enciclopédia em cem volumes todas as previsões, dicas e besteiras que proferiram pelos tempos afora.

A mim me (sic) parece serem apenas pequenos seres inofensivos, cavilosos, vaidosos, mas inofensivos. Raros escrevem algum livro que mudam uma geração, poucos lançam palavras que se sustem no vento.

Mas quão triste seria o mundo sem esses vermezinhos feitos de ira, vaidade e água.

II – Me irrito profundamente quando escuto ou leio alguém reclamando da enorme quantidade de escritores e lançamentos de livros em nossa volúvel loirinha desmazelada pelo sol (esses mesmos jamais reclamam da enorme quantidade de políticos ladrões, marginais de toda sorte, péssimos profissionais e outras mazelas mais que inundam nossa vã sociedade).

Se for escritor o reclamante imagino logo que o sujeito quereria ser escritor sozinho e que se acha infinitivamente melhor do que os outros (o que não se confirma na maioria das vezes).

Caso seja um jornalista o criticante vejo com piores olhos ainda, visto serem os profissionais que mais deveriam valorizar a classe dos escritores (que todos, mesmos o fazedor de horóscopo, deveriam almejar ser; e não raro são os que mais inflacionam o mercado com obras dispensáveis e medíocres).


III – Adoro lançamento e se pudesse iria a todos.

E são raras as semanas em que não vou prestigiar um amigo, um desconhecido ou até antipatizante, com minha gordita presença em sua noite de autógrafo.


Verdade que detesto discurso e apresentações, e a primeira coisa que observo num palestrante é a quantidade de página em suas mãos.


O resto é só festa, reencontro de amigos, rebuliço de gente, corrida atrás dos quitutes e bebidas; de gente, em sua maioria, de bem (o que não se pode afirmar de muitas reuniões sociais, clubes granfinos e convenções de partidos).


Portanto, amigos, escrevam bastante e tentem fazê-lo cada vez melhor; pois se seus escritos não ajudarem a tornar melhor o mundo, com certeza não o tornará pior.


Por Pedro Salgueiro, colunista O Povo

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