sábado, 13 de agosto de 2011


                                                            Pai, me dê a mão!

Por Silas Falcão

Ele conheceu Fortaleza quando sua infância tinha nove anos. Era 1966. Seus olhos desassossegaram-se contemplando o bonito nunca visto. Avenidas longas e arborizadas. Semáforos atuantes. Abundância de lojas e ruas. Trancelins de pessoas, olhares, vozes e carros. Tudo era outro. 
Da casa do seu tio, leitor de muitas estantes na sala de visita, seu pai saía de manhã ainda tragando o último gole de café. No bolso, a relação das compras e o talão de cheque. Na sua mão direita, a mão do filho empunhada firmemente. Íam às lojas de confecções onde o seu pai era recebido alegremente. As horas iam diminuindo a lista de compras. Inúmeras vezes ele se desgarrava do pai, e da porta da loja pesquisava as vitrines enclausurando os brinquedos do seu apetite. Riscado o último item do inventário de compras, e pagamento efetuado, seu pai retornava aos trancelins do novo mundo. Prédios elevando as pessoas em direção às nuvens. Buzinas de carros e de bocas humanas gritando passagem. Às vezes ele distanciava um pouco do seu pai. E, assustado, corria gritando: “Pai, me dê a mão!”. O desconhecido produz o medo. Talvez seja uma forma de defender a nossa existência. Nossos sonhos. Nossa felicidade. Nosso futuro.
As décadas surgiram. Ele veio morar em Fortaleza. 1990 foi o ano do câncer do seu pai. Três vezes por semana ia deixá-lo no Hospital do Câncer, para as sessões quimioterápicas. Feito cupins, o câncer no seu ia descompondo o corpo, enfraquecendo a voz, o olhar, o andar vigoroso, sua vida. Um sábado, pela manhã, seu pai convidou: “Vamos ao centro?”. Do estacionamento de carros, caminharam em direção à nova Praça do Ferreira. Ao lado dele recordou a primeira Fortaleza. E tudo era outro. Outro índice. Mais Carros. Mais pessoas em direção às nuvens. Mais ruas. Mais lojas. Mais trancelins. Mais medos.
Reolhou para o pai capiongo, e pediu: “Pai, me dê a mão”.
Raimundo disse:
Parabéns, Poeta! Um texto escrito com o punho da alma. Sensibiliza, que  dá vontade de chorar. Simplesmente belo e emocionante!
1 comentários:


SABi CRATEÚS disse...
Silas, publicar as saudades/dores mais íntimas exige coragem!
Domingo, 14 Agosto, 2011

Um comentário: