segunda-feira, 21 de março de 2011



Fukushima

Toda Terra é enxofre, sal e abrasamento
de uma imensa fornalha lambendo nossos fatigados pés,
onde os gritos de Sodoma e Gamorra em desamparado dó, ecoam.

Toda Terra é um pavor bafejado da boca de um Vesúvio,
soterrando as perplexas estátuas de Pompéia e Herculano,
como um feroz dragão que nos habita desde a remota Pangéia.

Toda Terra tem um prenúncio de um insano Enola Gay
sobrevoando impiedosamente nossas imprudentes cabeças,
evacuando o flash mortal que ainda corrói Hiroshima e Nagasaki.

Toda Terra é um monte Fiji, com um pesado olho adormecido
e outro na instantânea prontidão à desdita e ao flagelo
de um inflamado rio sem foz, para ardermos em seu desprezo.

Toda Terra rodopia com um vórtice de ímpeto veemente
pelo colossal turbilhão que a nós remete o terrível Poseidon,
feito um afogado estremecimento tsunâmico de nossa secura.

Toda Terra chora, num gemido contínuo, choro aflito e monótono
pela escuridão de Chernobyl, pelas insônias de Angras, pelas Fukushimas
que agora refutam digerir a bílis e a liberar a fissão na última sangria.

Raimundo Candido
www.raimundinho.hpg.com.br

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