segunda-feira, 5 de março de 2012

Descomparações

Não me compares às flores,

por mais que seja bela e perfumada.

Não me chames de uva,

ao me achares madura, doce e saborosa,

ou, por vezes, acre, quando verde.

Tampouco sou abacaxi,

ainda que o tempo me tenha enrugado o corpo.

A valentia, ou a pele macia, não faz de mim tigresa.

Não pretendo ser-te pimenta de odor ou ardor,

por mais que cheire e te esquente.

Não sou tua comida,

mesmo quando me possuis vorazmente.

 Não me tomes por aguardente,

ainda que me aches “um porre”.

Nem coco verde, nem quenga,

nem coroa, nem caça-macacas,

Nem piranha, nem cotovia,

nem galinha, nem gata...  nem nada.

Basta!

Chega de metáforas e bajulações.

Quando me citares dentre os humanos,

não me trates de “homem”.

Eis, pois, que sou, simples e necessariamente,

MULHER.

Elias de França

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