segunda-feira, 16 de abril de 2012

De volta para casa



Ao amigo Elias de França

Aos dez, admirava índios nas mil ladeiras de Barra do Corda e arriscava os dedos nas poderosas rasga latas das noites de São João. Mas o que eu mais desejava era voltar pra casa.

Aos doze, apaixonava-me pela beleza morena de Jordaty, a vizinha que me permitia um abraço, vez por outra, talvez por pura delicadeza de menina, e sonhava em ser marinheiro e me perder no fim do mundo. Mas, mesmo assim, eu ainda queria voltar pra casa.

Aos quatorze, meus cabelos desgrenhados, minha calça boca-de-sino, meus tamancos de madeira, pouco em mim denunciava o ávido aprendiz de tipógrafo que, nas tardes de sábado, duelava ao lado de Clint Eastwood nos cinemas de Teresina. Aí eu pouco pensava em voltar pra casa.

Aos quinze, enquanto sorria satisfeito com os encantos da vida, mergulhei nas areias do Poty e fraturei a terceira vértebra da coluna cervical. Agora, a coisa que eu mais desejava era nunca mais voltar pra casa.

Então, eu voltei pra casa.

Lourival Veras



Raimundo Candido disse...



Como uma rara flor de cactus, demora a gente ver, mas sempre compensa esperar e esperar para se ler Lourival quando inesperadamente brota!
AnônimoSocorro Aguiar disse...
Parabens pela bela cronica. A foto da ponte sobre o Rio Poty me fez voltar aos tempos da minha infancia. Nas minhas travessuras eu costumava pular quando o rio estava cheio. A lamentar somente o fato do editor do notebook nao permitir a grafia dos acentos. Peço-lhe permissao para postar sua cronica, qualquer dia, no meu mural. Abraço.

Um comentário:

  1. e ai vai um poema meu que tenta explicar como são criado os poemas.
    FRAGMENTOS

    fragmentos são pedaços
    de idéias no papel
    são vivências, feito traços
    de cometas pelo céu
    são os portos da memória
    onde buscamos veleiros
    de lembranças e estórias
    perdidas nos nevoeiros
    são os teares de sonhos
    toda ilusão, pensamentos
    como toda chama ou vida
    seguindo o rumo dos ventos
    feito nós quando dormimos
    e sonhamos fragmentos.

    Fco Fábio Bezerra Tomaz

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