terça-feira, 26 de junho de 2012

PITACOS SOBRE A CIDADE



Amanheci com vontade de dar pitacos. Diversamente do que muitos possam imaginar, pitaco não é um palpite sem fundamento. É uma opinião. Em se tratando da coisa pública, ou sobre os rumos de uma cidade, a opinião pode ser emitida independente de solicitação.

Obviamente, estou pensando em uma urbe específica, mas pode servir para outras.

Dirijo estas palavras aos que se lançam à nobre tarefa de interpretar sonhos: os candidatos. Sim, candidato a cargo eletivo, representante do povo, líder popular não é senão um intérprete de sonhos, dos sonhos da coletividade.

Enquanto escrevo me vem à mente um personagem bíblico do Antigo Testamento: José, o filho de Jacó e Raquel, que ficou para a posteridade como José do Egito. Certamente um emblema em se tratando de revelação da essência daquilo que é só aparência.

Uma noite, o Faraó sonhou. Naquele transe onírico viu que sete vacas magras comiam sete vacas gordas e mesmo assim continuavam magras. Em busca de uma explicação, convocou todos os sacerdotes do Egito. Nenhum conseguiu. Apenas José, que estava preso, ofereceu uma interpretação convincente ao Faraó: o Egito passaria por sete anos de fartura e sete anos de seca, consecutivos.

Empolgado com a sua desenvoltura, o Faraó presenteia José com um anel de seu próprio dedo e o nomeia Adon do Egito, um cargo de expressão, tipo chanceler ou governador.

José, então, ordena que se construam celeiros para guardar a produção do Egito durante os anos de fartura. Nos sete anos de seca, José passou a vender os cereais dos celeiros reais a preço de ouro e conseguiu comprar para o Faraó quase a totalidade das terras do Alto Egito. O nome José significa “aquele que acrescenta”.

Bem representa os seus concidadãos aquele que, além de interpretar os signos das aspirações populares, se lhes acrescenta alguma coisa. E age. Semeia. Planta. Cuida. Colhe. E reparte. Como lembra Thiago de Mello, “é sonhar, mas cavalgando/ o sonho e inventando o chão/ para o sonho florescer”.

A primeira tarefa de um líder, preferencialmente um prefeito, é despertar a coletividade do seu município para a alteração cultural. Mudar a forma de raciocínio, transformar os nossos esquemas mentais. Libertarmo-nos dos grilhões que acorrentam a massa encefálica. A diferença que separa um município pobre de um rico, ou um estado ou um país, não é a idade, muito menos a quantidade de recursos naturais. A Índia é um país milenar e possui uma pobreza vultosa e aviltante. A Nova Zelândia é novíssima. E riquíssima também. A Suíça não produz um grão de cacau, mas vende o melhor chocolate do mundo.

Estudiosos revelam: a fronteira que separa países ricos e pobres se resume à observância de algumas formas de conduta essenciais: 1. A ética como principio básico. 2. A integridade. 3. A responsabilidade. 4. O respeito às leis. 5. O respeito pelos direitos dos demais cidadãos. 6. O amor pelo trabalho. 7. O esforço para economizar e investir. 8. O desejo de superar. 9. A pontualidade.

A ética pode ser resumida em tratarmos os outros como desejamos ser tratados. Para isso, basta nos colocarmos no lugar do outro. Será que eu gostaria de ser tratado como estou tratando um servidor, um contribuinte, um cidadão comum? Estou sendo íntegro, responsável, respeitador das leis e dos direitos alheios?

Valorizo o amor ao trabalho ou premio apenas o meu grupo independente do mérito dos que o compõem? Combato a mendicância e o clientelismo? Priorizo projetos que incentivam a independência financeira? Ao invés de festejar a quantidade de pessoas recebendo bolsa-família, deveríamos comemorar sua diminuição. Quanto mais pessoas deixassem os programas de transferência de renda e adquirissem sua própria renda por meio de empreendimentos montados e gerenciados por elas, melhor. (Outro dia um amigo me perguntou: - Você já viu um japonês pedindo esmola?Não, respondi. Ele completou: - Pois é porque eles desenvolveram a cultura do trabalho, essencial para o progresso.)

Se uma Prefeitura deliberar para gastar menos do que arrecada e for pontual no cumprimento dos compromissos já eliminará mais da metade dos seus problemas. O resto se resolve com o firme propósito da permanente superação.

Entendo que a campanha política é o espaço para se divulgar ideias; não intrigas. Planejar o futuro; não propagar futricas. Dissecar projetos; não denegrir pessoas. Sonho com isso. E esse sonho, convenhamos, de tão nítido dispensa interpretações.
Júnior Bonfim

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