sexta-feira, 26 de julho de 2013

David, O Profeta da Física.


            Afirmam os estudiosos, ao analisarem a infância, que de um mês aos três anos, nas crianças em plena maturação, principia uma vivacidade que vai brotando, levemente, das meigas pétalas da inocência. Dizem que se desenvolvem os inúmeros reflexos, realça-se a percepção de pessoas e coisas, um sorriso prazenteiro se estampa no rosto e salienta-se a sensível curiosidade em descobrir tudo ao seu redor, concluem com altivez os eruditos da pedagogia. Mas se um irrequieto menino é dotado, inexplicavelmente, de uma esperteza maior, tudo vem medrando mais cedo e as inesperadas surpresas vão assustando os incrédulos professores, os parentes arregalam os olhos, para orgulho dos genitores.
- Reparem como meu filho é inteligente! Diz a mãe vaidosa, mostrando alguma façanha do pirralho, aos sobressaltados vizinhos. São os geniozinhos que, aqui acola, surpreendem e assustam o mundo.
O batismo foi na Igreja da Matriz, com ablução de água benta pelo Padre Eliesio, um renascer espiritual, mas que para o menino Karlo David não foi o suficiente, pois um ser intrépido tem que ser purificado é no ardor do fogo. Logo que completa um ano, David se encanta com a luz proveniente das brasas de uma fogueira. A claridade, o princípio de tudo, a causa primeira do próprio existir, alumbrou o menino de Dona Raimundinha. Quando correram, em desesperado socorro, David já estava com uma brasa incandescente nas pequenas mãozinhas, num batismo de fogo, que é a iniciação de todo guerreiro. A marca, que o acompanhou pela árdua vida, confirma mais que um renascer espiritual, denota a manifestação de fibra que se apresentou na raquítica criança, como sinal de extraordinária coragem para o homem que iria enfrentar os desafios e os mistérios do mundo.
O Menino cresce e frequenta a escola para apreender a vida como as crianças pobres da Rua Cel. Tobias, mas não é um deles, tem incumbências que aos pouco vão se revelando na responsabilidade em cumprir suas obrigações e deveres, no talento para os desenhos que impressionavam os adultos, na preocupação social em querer proteger o velho e intermitente Rio Poti, eternamente sufocado pela poluição, na vivacidade do raciocínio e do olhar, que adquiriu do braseiro que queimou sua mão e na modéstia da alma, força que nunca perdeu.
Na gloriosa e tradicional Escola Técnica de Comercio Pe. Juvêncio, patamar sólido das vitórias de muitos cidadãos, revelou a aptidão pelo estudo das Ciências Exatas. Estudar é um trabalho difícil, pesadíssimo, comparável a brocar uma roça no pino do meio-dia. É um fino dom e arte, coisa para poucos! E dedicar-se a Física? Só para os eleitos, que estudam mais que os outros e vivem queimando neurônios!
A claridade da Física de Isaac Newton, mesmo vindo da luminosidade de uma brasa, princípio de tudo, causa primeira do próprio existir, um dia alumbrou o espírito irrequieto de David. Os Físicos são aves raras, profissionais de ponta que fazem com que as pessoas olhem com espanto e mentalmente declarem: - Ah, isso é que é Físico? Mas é um ser em carne e osso! Sim, e num cidadão comum, como  David, é que se resguardam os tesouros de um País, numa profissão que alavanca o desenvolvimento de um povo e que o Brasil pouco soube valorizar.
Um dia, para minha surpresa e espanto, recebo a ligação de David: - Prof. Raimundinho, gostaria de lhe convidar para uma aula inaugural do curso Teoria da Relatividade, aqui na Universidade Estadual do Ceará. Aceitei com satisfação o honroso convite. Um auditório lotado de mentes jovens, com um belo futuro pela frente, assistindo uma aula de Teoria da Relatividade de Albert Einstein ministrada pelos dois únicos Professores-doutores, e foi a única vez que vi dois pós-doutores presentes na cidade de Crateús, pois David havia convidado o amigo, pesquisador de Física das Partículas Elementares e Campos, com ênfase em Teoria de Supercordas, Prof. Dr. Leandro Ibiapina Beviláqua para juntos ministrarem um curso de uma semana. Estava sem acreditar... Em Crateús? Fiz questão de repetir, mentalmente, a pergunta: - Isso está acontecendo aqui mesmo, no meu Cratheús?
Alguns Jovens, crateuenses daquele auditório, tinham sido meus alunos , via-os agora cavalgando num raio de luz, como velocinautas no tempo e espaço da Ralatividade, viajavam para um futuro bem melhor, um porvir que meus olhos podiam ver, estava ali na minha frente!
Aquele menino, que mostrou uma responsabilidade social pelo seco Rio Poti no começo da década de 90, apontava o destino daqueles ansiosos universitários e demostrava o amor pela terra em que nasceu, quando muitos - quase todos - ao se verem com um diplominha de nível de nível superior nas mãos, criam asas, debandam e esquecem o torrão em que nasceram.
          O conhecimento nos faz responsáveis. Se nossos “doutores” tivessem um por cento da afeição que tem o Prof. Dr. David, por Crateús, seriamos um município bem mais desenvolvido, pois o guerreiro resolveu ficar, fazendo o bem para sua gente, ajudando a juventude a conseguir um futuro digno.
Um determinado dia, o Prof. David convida o Químico, também professor e ex-aluno, André Aguiar a levarem o nome de Crateús até o longínquo Rio Grande do Norte. Eles concorrem no II Encontro Nacional de Química e arrebatam o Troféu “Erlenmeyer de Ouro”, e esse é somente um exemplo do impulso que o nosso Físico impõe na mente de nossa juventude.
Como David, o profeta Rei de Israel, que era dono de muitos dons, da música, da dança, da poesia e dos salmos, David , nosso Profeta da Física, é o dono do pensamento mais feliz de Einstein, quando disse que ao mergulhar no mais profundo silêncio a verdade se revelava. De meu incomum e longo silêncio vejo a verdade da Física do bem e da bondade iluminando os caminhos de nossos jovens com uma acesa brasa da sabedoria na mão. Só quero confirmar, com essa breve história, que, Karlo Einstein David Saboia, é um crateuense que tenho orgulho de ser conterrâneo!

Raimundo Cândido

2 comentários:

  1. A história já é bem uma aula inaugural
    quando foca o relacionamento
    entre o mestre e aquela mente fértil
    em que semeou promissora sabedoria.

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  2. Eu quero te agradecer professor Raimundinho por ter tamanho orgulho do meu filho.eu tenho esse orgulho e sempre tive desde que ele era pequenininho ja demonstrava interesse por tudo.desenhista de mão cheia me deixava orgulhosa de seua desenhos e qdo começou a estudar na escola de primeiro grau Lourenço Filho(crateus)na epoca nunca fui chamada pra resolver nenhum problema seu,só elogios e isso me fez ser a mãe coruja que eu sou até hoje,pois eu tenho consciencia que poucas mães tem um filho como eu.mas isso me envaidece por partes,pois sempre digo que todas as pessoas tem obrigação de serem boas.e sua inteligencia provem do seu esforço e da sua dedicação.(eu sou modesta)rsrsrs.

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