quarta-feira, 8 de abril de 2015

OLIVIA BEZERRA DO BONFIM


(Crônica do escritor Flavio Machado da Academia de Letras de Crateús)
                  O magistério é uma das mais nobres e antigas carreiras da humanidade. É a prática do Amai-vos uns aos outros, pregado por cristo. As mais importantes personalidades do mundo, sem exceção, passaram pelo crivo de professores, que dedicados, souberam multiplicar os talentos concedidos por DEUS, através dos ensinamentos. Foi o magistério a missão recebida e desempenhada pela jovem Olivia Bezerra.
Nascida em 1912, logo nos seus primeiros anos de vida de vida conheceu o caminho do Instituto XV de novembro, escola do professor Lisboa Rodrigues. Em 1929 iniciou um trajeto de penúria, enfrentando longa viagem, a cavalo, de Crateús a Quixeramobim, a fim de tomar assento no trem e seguir para Fortaleza, onde no Colégio das Dorotéias, em regime de internato, se preparava para, o magistério. Depois fez especialização na língua Francesa, concluindo o curso da CADES.
                 Em 1936, na cidade do Ipu, iniciou sua vida profissional, assumindo o cargo de professora nas Escolas Reunidas. Voltou para o seu torrão natal e continuou sua missão, ensinando no Grupo Escolar Firmino Rosa, nome posteriormente mudado para Grupo Escolar Lourenço Filho. Neste estabelecimento educacional se firmou, chegando a assumir durante 10 anos o cargo de diretora.
                 Filha de tradicional família católica, contraiu núpcias matrimoniais com Manoel Bonfim Filho (Manelim), então viúvo, com quem teve a filha Ana Maria Bezerra Bonfim, Advogada e o Engenheiro José Maria Bonfim.
Dona Olívia nasceu no dia 08 de abril de 1912, pouco mais de quatro meses após Crateús ser elevada à categoria de cidade. Cresceu ao lado deste torrão e muito contribuiu para elevar o nome de Crateús. Não se pode falar sobre educação nesta terra sem incluir o nome de Olivia Bezerra do Bonfim, pois além de exercer a função de professora durante décadas, foi por 10 anos diretora do Grupo Escolar e contribuiu significativamente, para ajudar o Professor Luiz Bezerra na instalação da Escola Normal Rural e o seu cunhado Padre José Maria Moreira do Bonfim por ocasião da fundação do Ginásio Pio XII e do Patronato Senhor do Bonfim. Prestou significativa ajuda à nossa diocese, pois constantemente era requisitada para redigir e traduzir as inúmeras correspondências recebidas e enviadas por Dom Fragoso, em intercâmbio com a França.
                   Na vida de Crateús, testemunhou muitas ocorrências, retendo na memória o episódio da chegada dos revoltosos, da expectativa gerada na população, quando parte dela abandonou a cidade e temerosa escondeu jóias e pertences de valor, naquela época de medo e pavor. Testemunhou o profícuo vicariato do padre Juvêncio e do padre Bonfim. Assistiu a visita de Nossa Senhora de Fátima, ocasião em que a cidade ficou mal falada, pela falsa afirmativa de que o juiz da cidade prendeu a Santa. Dona Olivia testemunhou a chegada do 4º Batalhão Ferroviário, transformado em 4º BEC. Por certo acompanhou o desenrolar dos acontecimentos na cidade em função da ditadura militar, implantada em 31 de março de 1964. Testemunhou muitas e acirradas campanhas eleitorais.
                Com seus 102 anos vividos e dedicados ao beneficio da coletividade, também viu inúmeros sofrimentos de nosso povo em decorrência de secas nordestinas e se alegrou com a fartura de água em muitos bons invernos que produziram grandes safras.
               Olivia Bezerra do Bonfim por uma casualidade nasceu no dia 08 de abril de 1912 no município de Independência, quando seus pais, temporariamente, cuidavam de uma retirada de gado. Foi na fazenda Tourão, pertinho de Crateús, onde ela morou e cresceu ao lado de sua família. É Filha de João Rodrigues de Melo e Rita Ubelina de Melo. Está prestes a completar 103 anos de vida, mora em Fortaleza desde 1993, mantém-se lúcida, tem ainda boa visão e locomoção. Ler e demonstra desembaraço ao recordar as coisas do passado. Sua longa vida não se constitui em um simples existir, pois no decorrer da sua trajectória mostrou aos seus alunos e aos seus filhos a trilha dos princípios morais e éticos que norteiam a vida e precisam ser cultivados no seio da população.

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