terça-feira, 17 de novembro de 2009

DISCURSO DA ORADORA DOCENTE - FAEC - SEMESTRE 2009.1

Nesta noite, encontram-se em festa os sertões crateuenses, alargam-se, através desse espaço formativo que é a FAEC, maiores possibilidades de mudança para nossa região, tão castigada por problemas como a seca, o individualismo, o descaso político, falta de sensibilidade, a carência de amor à Princesa do Oeste.
Com possibilidades latentes em cada formando e formanda desta noite, expandem-se nossas preocupações e responsabilidades diante do complexo da educação.
Destarte, anuncio o presente discurso com um simples e necessário pedido: cuidem de nossa terra, cuidem de nossa gente, nós somos a FAEC! Vocês fazem parte dessa história e, a partir dessa noite, serão todos legal e efetivamente educadores.
Creio no poder da educação e dos educadores, somos conscientes das limitações a ela impostas pelo poder do capital. Sabemos que não somos salvadores do mundo ou missionários da mudança social, entretanto, somos munidos de conhecimento e da esperança que se reflete no olhar de crianças e jovens que vocês acompanharam de perto na prática de ensino e em outras atividades didáticas que proporcionaram a necessária articulação teórica-prática.
São por esses sujeitos com olhares ávidos por conhecimento e cabeça cheio de sonhos que devemos fazer a diferença, a sedução para o mundo da leitura, do conhecimento, do trabalho e emancipação humana.
Se a função da educação é a humanização do homem essa mesma humanização deve se traduzir na realização de homens e mulheres, considerando aspectos físicos e intelectuais, subjetivos e objetivos, algo propiciado ontologicamente pelo mundo do trabalho.
Sendo a Universidade espaço de formação, seria uma falha imperiosa desconsiderar as necessidades humanas que ocupam corpos, mentes, tempo e espaço geograficamente situados e definidos.
Cuidar de gente é o que existe de mais belo e difícil na história da humanidade. É, sobretudo, o que pode promover o progresso social, ambiental, cultural – humano.
Contrariando esses preceitos, em nossa região, assistimos há décadas a uma miríade de movimentos, denominados políticos, que atendem a reivindicações particulares, desfavorecendo o interesse coletivo, o progresso e o bem-estar da nossa cidade, da nossa gente.
Portanto, convido a todos para compartilharem das seguintes inquietações: é possível nos conformarmos com a realidade política e social de nossa cidade e de nossa região? Onde se encontram os homens de boa-vontade, com postura ética, política e social, capazes de cuidar e amar verdadeiramente nosso povo? O que nós, professores e professoras, podemos fazer para modificar esse quadro de pinturas cinzas e confusas?
A gente do povoado que nasceu e se fortaleceu à margem do rio Poty é a mesma que permite a sua destruição ao se omitir de ações que impeçam tanta inoperância política em áreas sociais, ambientais e culturais. Essa gente é a mesma que se acostumou com o fato da única faculdade verdadeiramente pública de nossa região, seja uma organização de ensino superior que não dispõe de prédio adequado e próprio há mais de 26 anos, mesmo tendo formado mais de 800 educadores licenciados em Pedagogia, Ciências Biológicas e Química. Situação naturalizada numa perspectiva positivista.
No nosso hino cantamos os seguintes versos: Crateús, terra querida, que de tanta beleza se reveste/ És a razão de ser de nossas vidas: majestosa Princesa do Oeste. E hoje, caros senhores e senhoras, o que se desenha nas ruas de nossa cidade, nas últimas décadas, nos faz, com muito pesar, concluirmos que nossa princesa tem sido tratada como uma simples plebeia.
O preocupante é que essa realidade é camuflada por falas que “fetichizam” a realidade. Assistimos, quase que passivamente, à ampliação dos discursos sobre justiça, progresso e cidadania, e não percebemos que esta perde, a cada dia, sua profundidade e operacionalidade.
Na esteira Marxiana, compreendemos que as palavras nem sempre traduzem o que está posto na realidade concreta. Desta forma, faz-se necessário lembrar as palavras de um velho sábio Alemão: Não é a consciência que determina a vida, mas a vida que determina a consciência (MARX 2007, p.94).
Recorremos à idéia de outro velho sábio, brasileiro que sugere nordestinamente a mesma reflexão ao afirmar: Meu verso é como a semente que nasce em riba do Chão. Nosso Patativa, provavelmente não tenha lido Marx, mas sabia que o verso é a palavra e o chão é a realidade concreta. As sementes das grandes idéias, portanto só podem crescer e florescer em solo objetivo, um chão real que exige cuidados.
Desta forma, justifico e ratifico meu pedido inicial: cuidem de nossa terra, cuidem de nosso chão, cuidem da EDUCAÇÃO de nossa gente para que haja a proliferação de grandes idéias, sementes de fartas transformações.
Como sujeitos pensantes, graduados, munidos de novos saberes, posturas e possibilidades de tocar mentes e corações, de romper com os velhos paradigmas e construir uma nova história para nossa cidade, para nossa região.
Finalizando, utilizo-me das palavras do educador russo Antony Makarenko: eu confesso uma fé sem limites, temerária e sem reservas, na imensa potência do trabalho educativo. (MANACORDA 2002, p.316).
Desejo... do fundo e do raso do coração, aos festejados e festejantes da noite, novas descobertas, saberes, compromisso e empenho, desafios e muita fé nessa nova caminhada que começa agora.
Obrigada!
Profa. Maria da Conceição Rodrigues Martins, Esp. - Acadêmica da ALC

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