domingo, 20 de fevereiro de 2011

O NARIZ DA ESFINGE RESPIRA

Rogerlando Gomes Cavalcante

As areias do deserto sopram teu nome, Rosni,
à eternidade mais absoluta - a do esquecimento.

Obscuridade a que resistem as múmias sucumbem
tiranias - atropelados pelos acontecimentos
obtusos despertam, tardiamente, despertam
surpreendidos, estupefatos, às mudanças que se dão
primeiro, miudamente, micro, depois gigantes maiores que pirâmides
e morte. E oferto o que ofertam: o coração
pulsa entre braços e atinge sonhos que a um dar de mãos
partem correntes - Partam também doutrinas, que
se Deus fAla
sua língua não troa audível a quem não se sabe ouvir:
Alá não é islâmico como Deus não é cristão:
o que não cala
o homem é que é divino
– ser infiel e/ou ateu não é inexistir.
Quem exige sectário é que quer elidir, quem não aceita desertor
também e com mais fervor - Sendo que o que livra é amor.
Livra para além de adorações e dogmas e das orações políticas,
inclusive as que façam o lívido Alá corar. Livre, comemorais a críticas.
Críticas libertam e mantêm livre do que elimina:
sangue servido - e/ou sorvido - em latrina
só pode ser humano que Deus não sangra, Alá não sacrifica e morte não doutrina.
Opressão não doutrina. Morte, opressão, demência - terror
Tortura, humilhação: mas decepar orelhas não ensurdece,
aguça a audição do mundo aos obtusos que nos estarrece.
E se adoradores de cadáveres também decepam narizes
a vislumbrarem como bela a horrenda face da morte
- carnais cadavéricas fossas nasais -,
os façamos felizes: cortemos seus narizes
de pinóquios e cera de suas caras de madeira.

Talvez por isso se proíba afigurar o humano:
se Deus não é gente
Alá se desfigura em quem o anuncie e represente.

Que amanhã - com ou sem islã -
O único nariz que falte seja aquele que já falta
A esfinge de Gizé que, porque estátua, não faz falta.
E se cortam narizes na intenção de sufocar
independência é ar - respire e a obterás
como a si mesmo, o ser livre civiliza
a cada vez que sonha, luta - realiza,
ande por Novo York, cate lixo em São Paulo,
puxe carroça na India, fabrique brinquedo na China...
Liberdade, me instauro por tua via
a cada consciência que iluminas:
independência, respira-a e ela te pronuncia.

E que as areias dos desertos e os mares varram
Do Egito - de toda a África, do Oriente -, do Mundo Inteiro
tudo que imaterial, mas que nos barra
ao ir navegar, sem velas, o veleiro
que se define pelo que porta aberto:
a humanidade falha enquanto houver alguém a ser liberto.
Territórios, se limitam etnos
Não delimitam contornos humanos
- O universo é meu limite
que, farto, transponho, pois que habito
o infinito
onde tudo se eterniza:
o silêncio se hiberna grito
em que o humano se divisa
ir livre ao esmo de ser prisioneiro apenas de si mesmo:
sê do mundo inteiro.

O mundo se desencadeia
na gente - A gente em cadeia
conec.ta.da.mente se liga
se do que mina se desliga.

Interno e universalizo
o que é da gente e à revelia dos desumanos, humanizo:
minha mensagem não precisa de mecanismo para ser entendida
ou cifrada ou transmitida,
que a mensagem não é minha, sentida
por qualquer um, dá em vida.
Vida além das areias, além da águas, além da lama
natural ou humana. E se liberdade é tudo que o infinito reclama,
sede e habita
a tua liberdade infinita
que o infinito, desde sempre, ó finitos, nos habita
e nos habilita
a vencer o que limita.

Nenhum comentário:

Postar um comentário