terça-feira, 19 de abril de 2011


Chocalho e Gibão

Era um gibão feio e rude, mas
caia-lhe nos ombros feito lã.
No rumorejar dos sapos e grilos
que absorvia a lua a cortejar o sol.

Exacerbava os lábios, num gesto:
- Está bem aííí... a rês desgarrada!
E se antecipa ao sonolento galo
para campear o extravio, no breu!

Já perscruta o ar. Colhe os aromas.
Capta sons e ausências nas veredas.
O dia delineia-se vestido de enfado.
Abriga o suor e a fome de fim de tarde.

Repentino, aviva-se. Afia a atenção.
Será um badalo a chocalhar ao longe?!
A exaustão foge com a impressão
da novilha em alerta. Um convite!

Flecham-se! Estica-se na sela
feito um guerreiro medieval.
Uma trincheira de juremas pretas
é um estorvo traiçoeiro e cruel!

Sombras e réstias de luz mesclam-se
na inextricável mata de espinhos acesos.
Arrematam-se pelo sem fim da caatinga
insensível, a tanto heroísmo, a tanta destreza!

Raimundo Candido
WWW.raimundinho.hpg.com.br

Nenhum comentário:

Postar um comentário