Um sonho
Era um sonho leve como um barco a vela soprado na madrugada.
A mesma luz, o mesmo rosto com algo a me dizer, solene e indispensável.
Por não ouvir o que dizes, fico a confabular.
A luz do rosto se parece a tantos rostos perdidos na memória
que não identifico o teu semblante, no vulto de meu sonho.
Sei que o vento das palavras que pronuncias me é familiar.
Garimpei nas cinzas que toldam meus longínquos olhos,
após a combustão de uma vida, mas as tuas palavras são só olvido.
Com um novo apuro tento suscitar o que dizes,
sussurro por sussurro, numa concentração de sonâmbulo.
Nada. É o vazio que fica da tua voz que me perturba!
Uma presença tal qual uma ausência a me ser preenchida.
Como uma esfinge pronunciando meu inexplicável enigma
que de tanto atender, sonho em decifrar.
Raimundo Candido
www.raimundinho.hpg.com.br
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