sexta-feira, 29 de junho de 2012

O precioso Matos


Um dia Matos, foi ao meu consultório. Mais do que queixumes, dele brotava enternecimento. Palavras doces. Saudades brandas de nossa terra. Incentivo e mesuras para com todos. Prudente sem ser dúbio. Silente, sem ser ausente. Em 1987, estivemos juntos nas festas do cinquentenário sacerdotal de Mons. Moraes. As luzes cintilantes, nãoofuscavam o seu manso olhar. A mesma sinceridade. Depois fui vê-lo no seu apartamento de Fortaleza, com complicações da Diabetes Mellitus. O mesmo. Depois quando  se aposentou, nunca mais me procurou. O via furtivamente em alguns acontecimentos. Recolhido nas suas casas de campo, dedicava-se febrilmente ao seu querido lar. Na antiga Grécia, Diógenes (Sinope412 A.C.-323A.C.) usava uma lanterna para procurar a decência nos homens.Raquel de Queiroz(1910-2003) fala de uma réstia de luz, vindo de uma telha de vidro. Jesus foi pescar nas praias da Galileia, os seus apóstolos. Michelangelo ia a Carrara procurar pedra bruta, para fazer brotar os seus milagres eternos.Esculpindo e cinzelando, dava vida a Pieta, David e Moisés, da Igreja de São Pedro das cadeias(S. Pietro in Vincoli) Nos garimpos, um árduo trabalho  para achar uma pepita de ouro. Nas abissais profundezas do mar, as pérolas se escondem. Mas Francisco Matos Melo era esta pedra preciosa rutilante. Bem próximo a nós. Fruindo   a luz do sol, como se o amanhã nunca se findasse. Dos pequenos frascos surgem as melhores essências. A pequenina Ibiapaba, nos doou esta joia burilada, esmerada e perfeita. Ver o Matos, parecia uma prece. Um salmo. Uma absolvição da nossa pequenez, diante de um ser humano tão maior. Ao vê-lo nos seus momentos finais com o seu cérebro afogado em sangue, vi que Deus foi bom para uma criatura que era um oceano de bondade. Deus tinha que tira-lo desta maneira, com Stroke. Stroke é uma palavra inglesa para AVC. Stroke traduz-se por corte. Decepar. Amputar. Uma noite bela e lírica somente se apagaria de uma maneira abrupta. Um jarro de alabastro nãose quebra. Matos diante do seu inconfundível brilho, não suportaria o sombrio fenecer dos hospitais. Tinha de ser sacado. Matos é o servo bom e fiel, de misericórdia de gestos de bondade e de leveza. Como reza Eclo 44, 1. Uma joia não se quebra. Se doa. Se leva. Deus levou-a de nós. Não poderia ir-se aos pedaços, tinha que ser por inteiro. Pleno.


Jose Maria Bonfim de Moraes- medico cardiologista.

João Silas Soares Falcão disse...
José Maria, a morte é uma amputação. Também do convívio físico. Conheci e olhei inúmeras vezes para a bondade e a ternura do Matos. Namorei uma sobrinha dele, a Bernadete. Ela morava no Rio de Janeiro. Em férias em Crateús, hospedava seu belo sorriso na residência do Matos. Pois bem. Foi numa dessas visitas de namora a bela morena Bernadete que a minha admiração pelo Matos rompeu fronteiras. Eu olhava com intensidade para a sua bondade. Para sua presença humana diante das pessoas. Para o seu respeito ao próximo. Matos sempre foi um digno. Uma alvura de caráter. No carnaval de 1976, estávamos na casa dele gemendo ressaca da primeira noite de carnaval. Silencioso, manso em seus passos, Matos saiu. Minutos passados, a sua mão afagante retornava abastecida de engove e ouros santos remédios exterminadores da ressaca pesada. O tempo passou. Matos traz o seu coração bondoso para morar em Fortaleza. Nunca mais nos reencontramos. Sempre o recordava e a sua simpaticíssima esposa. Sempre desejei o dia encontrá-lo. Não aconteceu. Infelizmente.

Um comentário:

  1. José Maria, a morte é uma amputação. Também do convívio físico. Conheci e olhei inúmeras vezes para a bondade e a ternura do Matos. Namorei uma sobrinha dele, a Bernadete. Ela morava no Rio de Janeiro. Em férias em Crateús, hospedava seu belo sorriso na residência do Matos. Pois bem. Foi numa dessas visitas de namora a bela morena Bernadete que a minha admiração pelo Matos rompeu fronteiras. Eu olhava com intensidade para a sua bondade. Para sua presença humana diante das pessoas. Para o seu respeito ao próximo. Matos sempre foi um digno. Uma alvura de caráter. No carnaval de 1976, estávamos na casa dele gemendo ressaca da primeira noite de carnaval. Silencioso, manso em seus passos, Matos saiu. Minutos passados, a sua mão afagante retornava abastecida de engove e ouros santos remédios exterminadores da ressaca pesada. O tempo passou. Matos traz o seu coração bondoso para morar em Fortaleza. Nunca mais nos reencontramos. Sempre o recordava e a sua simpaticíssima esposa. Sempre desejei o dia encontrá-lo. Não aconteceu. Infelizmente.
    Silas Falcão

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