quarta-feira, 12 de dezembro de 2012

A Estação Centenária


A Estação Ferroviária de Crateús chega ao seu primeiro centenário. No dia 12.12.1912 era inaugurada a Estação de Crateús. Chegava àquela cidade o seu marco maior de desenvolvimento. O nosso corredor para ensaiarmos a nossa libertação. A nossa capacidade de se ligar ao mundo. Sem estradas. Sem mar. Sem veleiros e sem escunas, a nossa estação seria a nossa janela que se abria ao mundo. A nossa estação erguida solene, era o nosso porto por onde chegavam as nossas necessidades. As nossas alegrias. As nossas esperanças . Os nossos anseios. Foi o nosso porto, foi a nossa casa, o nosso abrigo, o nosso santuário onde as lagrimas de tristezas e de saudades secavam, quando o sol das nossas esperanças se aqueciam. Hoje os nossos olhos umedecidos voltam se para nossa velha Catedral da nossa infância. A edificação centenária tesouro de nossas lembranças e de nossas memorias. No seu dia centenário ela revive. Paramenta-se com cor lírica dos momentos mais belos das nossas vidas. E a liturgia mágica do tempo faz com que a esplendorosa estação reviva. Sacuda o pó desta longa e tormentosa estrada e volte aos seus belos momentos de realeza. Um reinado de historias inesquecíveis, que mais do que porto ela se transforma em farol. Em lampião cintilante. E qual uma estrela do Oriente volte os seus raios sobre as nossas vidas. E neste cenário saudoso se impõe a figura centenária do meu pai, Felipe Morais, desenvolto a scanear emoções e ternuras. O seu olhar afoito a esperar as alegrias das chegadas, os lenços mornos das partidas, os abraços dos que chegam e os adeuses dos que, se foram para nunca mais voltar. E nesta procissão lembramos o Chico Oliveira, Antonio Candido, José Euclides e tantos outros dignos funcionários que brilharam nesta faina de ferro. E na reza da nossa saudade, avulta a batina esmaecida do Monsenhor Luis Freire Ximenes. O trem era o seu quinto evangelho. A sua predica melódica e poética. A sua teologia de amor e de carinho para os mais pobres. Mais esquecidos. Mais oprimidos. Os mais amados por Deus. Não por serem os melhores, mas porque Deus é Deus. Mons. Ximenes traduzia os paradigmas da Lectio Divina. Um ser sedento de servir. Um ser cheio dos mandamentos teológicos do amor. Apaixonado pelo marchar poético dos comboios. Pela estações simples e humildes, como se fossem Via Sacra da Semana Santa. Este é o santo ferroviário que eu conheci e que mora bem perto do meu coração. Mas hoje, nos deixamos afogar nestas metáforas líricas, neste advento de recordações, neste panegirico insistente para que a estação volte a ser o estuário de riqueza e progresso, que um dia sonhamos. Um dia virá para todos que amam Crateús, a sua historia e o seu sagrado chão. A nossa querida centenária será novamente o anelo precioso que nos marcou nos momentos mais promissores de nossas vidas. Foi por ela que conhecemos o mundo. Que descobrimos a vida. Que realizamos os nossos sonhos. Sacramentamos os nossos ideais. Que construímos as aspirações que mourejavam buliçosas nas nossas almas infantes. 

Fortaleza, 09 de dezembro de 2012
José Maria Bonfim de Morais- médico cardiologista

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