quinta-feira, 13 de dezembro de 2012

A MINHA PRAÇA DA ESTAÇÃO

Tributo ao meu pai, chefe da estação, à minha mãe e aos meus irmãos queridos. 

“A praça é do povo como o céu é do condor” 
Castro Alves (1847-1870) 

Era meu império...meu mundo...meu sonho...minha vida. Alucinado por ela, suplicava para nunca dela me ir... Era a minha pátria ...era a minha nação... tinha limites... tinha fronteiras...tinha habitantes e todos amados. Nós sabíamos de cor seus habitantes... uma verdadeira pátria. Simples como seus habitantes que no fim de tarde se sentavam nas calçadas... a falar de magias... e de saudades. Minha agora era nua. Os bancos somente na imaginação. Sem arvores, somente chão batido, era a minha praça. Mas tinha poesia, tinha encanto, tinha sentimento...parecia rezar em um silencio de ternura e paz... Praça rústica, rude, mas era a nossa praça... e começou a morrer quando mudaram as suas feições originais. As suas luzes eram tão fracas que às vezes se confundiam com as estrelas... Em noite de lua, a praça parecia se vestir de um branco de noiva casando com a nossa virgindade de criança... A noite se fazia diáfana e telúrica e os gritos das crianças pareciam pequenos trovadores e seresteiros... Era a alma da cidade... era hospitaleira... abraçava gente de todas as partes de Crateús. Pela manha era um intenso movimento dos que iam para a missa, para a escola ou para o trabalho. Ao meio dia, pino do sol, um intenso silencio se debruçava sobre a praça... todos dormiam ... era a sesta... Mas no descambar do sol quando os chilros das andorinhas se confundiam com a ave-maria da radiadora, quando Gounod se estendia sobre todos nós, a praça era solene... um cerimonioso silencio se estendia sobre a querida ânfora onde guardo todas as minhas saudades, alegrias e lembranças da minha infância. Ânfora das nossas recordações, dos nossos sentimentos e esperanças, ganharás espaço eternamente na praça do meu coração. Estarás conosco nas nossas lembranças, cálice onde sorvo todos os meus encantamentos daquela fase tão feliz, âmbula onde guardarei para sempre todas as minhas saudades e alegrias. E no entardecer da minha vida, quanta saudade dobra-se em mim eternamente. Ao te recordar, chove em mim toda esta primavera da vida passeando no solo sagrado da minha mente... Eternecida praça... definidamente plantada no meu peito... acalanto do meu envelhecer... Minha doce praça que se foi nesta tristeza das ave-marias como uma flor debruçada no chão. E a ti trago os ramalhetes de amores e de saudades ao cantar esta saudade eterna de ti... Serás meu astro, meu símbolo, minha luz, meu encanto, o altar da minha infância, a estrela vésper do meu anoitecer. Guardarei em mim esta lembrança inscrita no meu coração, minha infinita Praça da Estação. O trem da minha vida que ainda não chegou... o tango que ainda não me sepultou na minha saudade. 

Que saudade! 

José Maria Bonfim - Médico Cardiologista

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